Capítulo XX

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Ana riu e foi com aquele sorriso branco que Marcelo a encontrou de longe no parque. Ela não acreditará que ele estava ali. Saiu praticamente correndo ao abraço de Celo, que a recebeu com o maior amor do mundo. Marcelo colocou uma mecha de cabelo solto atrás da orelha de Ana, que sorriu ao sentir o gesto. Ela o beijou carinhosamente, um afago cheio de cumplicidade e desejo. Depois de encher Ana Lucia de beijos e abraços, sentaram-se num dos bancos da praça.

– Como foi à conversa com teu pai?

– Sua mãe está viva, Marcelo?

– Pois sim! Dona Vera tá incomodando muita gente ainda, ela mora no Rio Grande do Sul, minha terra natal. Por quê?

– Eu um dia vou conhecer ela?

– Claro que vai! Ela vem todo natal passar comigo e com Mari. Tu estás mais que convidada a participar do natal com a gente.

– Você é um amor. – Ela colocou sua cabeça sob o ombro de Marcelo, que sentiu o cheiro gostoso de seu cabelo. Fazendo carinho na palma de sua mão, Ana começa a dialogar. – Meu pai falou que é melhor pra mim não me apegar a um lugar ou pessoa porque sou do mundo, ou algo assim. Fiquei chateada com isso, você tem esperanças em nós? – Ele a olhou sem entender. – Digo, tu acha que temos algum tipo de futuro?

– Eu não faço ideia e não fazer ideia pra mim é ótimo. Tu tens medo do que?

– Não costumo manter os pés no chão, e isso está sendo diferente. Estou até trabalhando num trampo firme! E tem você que eu não sei se é destino ou uma mera casualidade. E tem a Mari que não quero ficar longe. Tenho medo de me apegar e sofrer depois.

– Não quer esperar e ver no que dá? Também tenho meus receios Ana... Tens 22 anos e eu já sou pai pensando sempre no futuro da minha filha. Tenho receio que Mari se apegue a ti e depois tu acabes indo embora e mais medo ainda por mim, que vou ter que te ver indo embora.

– Eu não acho que eu vá embora, só se você me mandar ir.

– Duvido que isso vá acontecer. – Ana o beijou carinhosamente. – E tem mais uma coisa, sabe o menino que te falei que quase namorei? Ele tá pelas redondezas. Quer dizer, pelo Brasil.

– Sim, mas como ele saberia onde você está?

– Ele pode ser um pouco persistente.

– Falasse com ele?

– Não, provável que meu pai tenha falado.

– E por que ele faria isso?

– Meu pai adora o Miguel.

– E você? Ainda sente alguma coisa por ele?

– Ele foi meu primeiro amor, se é isso que você quer saber. Já não o vejo há anos e não tenho nenhum interesse em qualquer tipo de contato com ele.

– Ai Ana, não me deixe com ciúmes hein. Eu sou insuportável com ciúmes.

– Ora quem diria, não imagino esse coração de aquariano com ciúmes de alguém. – Ela sorriu, tirando sarro de Marcelo que a abraçou de lado. –

– Eu sou uma pessoa ciumenta, não fazes ideia do quanto. – Ele suspirou. – Sabe o Lucas da informática? – Ela assentiu, era professor de geografia, mas trabalhava na sessão de informática por falta de professor no cargo. – Tenho um ciúme danado de você com ele.

– Mas ele tem 30 e poucos anos! – Ela olhou assustada. – Eu pareço uma aluna do lado dele. – Começou a rir pensando na possibilidade. –

– Mesmo assim, você às vezes sai pra tomar café com ele no intervalo. E eu tenho 26, não é muito diferente!

– É claro que é, o Lu é no mínimo dez anos mais velho que você!

– Agora é Lu, é?! – Ele sorriu, achando estranho. – Desculpa.

– Não desculpo. Eu gostei.

– De eu ter ciúmes?

– Sim, não estou acostumada a qualquer tipo de relacionamento sério. Achei engraçado e fofo. Fique a vontade pra ter quanto ciúmes você quiser! – Ana riu, se sentindo boba. –

– Tola.

– Eu sei. – Agora disse levantando-se – Vamos?

– Vamos.

Foram o caminho conversando sobre tudo e em algum momento, Ana lembrou-se de Miguel. Ele era uma pessoa maravilhosa, mas manipulador como ele não havia igual. Tinha receio por Marcelo, não o queria em problemas. Lembrou-se do colar de proteção que havia dado para Mari e Marcelo e se sentiu aliviada. A força colocada dentro daqueles colares era forte e protegeria de seus feitiços. Pensou também em quando contaria que era uma feiticeira ou se algum dia contaria: isso significaria ter que abdicar de minha mágica? Pensou e logo tratou de despensar, ele não pediria isso a ela, pra começar, nem sabe como reagiria.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora