Capítulo XL

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Era um dia de semana corriqueiro e Ana estava dando aula para o segundo ano. A matéria era sobre Neosocialismo e Liberalismo, depois de um debate incrivelmente próspero para uma turma do segundo ano, a professora sorriu. Era bom ver que seus alunos tinham futuro nessa sociedade que nos ensina a obedecer e não a pensar.

Na saída das aulas, depois de uma reunião dos professores cansativa e evitando ao máximo os olhares de Marcelo para com ela, Ana resolveu ir embora a pé. Mal sabia ela que do outro lado da rua do Instituto, Miguel a esperava do lado de fora do carro com seu melhor sorriso. Lucia ficou feliz com o gesto e desajeitada por perceber que Marcelo olhava a situação. Era difícil ignorar seu ex companheiro no seu local de trabalho e ainda mais em sua vida pessoal.

– Pensei em vir te buscar pra tomarmos um café. – Miguel falou ao ver Ana se aproximar com um sorriso tímido. Do outro lado da rua, praticamente a escola toda fitava com curiosidade a professora e o homem que estava com ela, inclusive Marcelo. –

– Me buscando na frente do meu trabalho... Nada discreto não acha?

– Foi mais forte que eu.

– Mais marcação de território que isso, só fazendo xixi em mim.

Miguel deu uma risada estridente e beijou as bochechas da feiticeira.

– Bom te ver também, feiticeira.

– Hum ok. E onde vamos comer?

– Onde você quiser, temos o mundo todo.

– Você é um sem vergonha! – Ela sorriu entrando no carro. –

– Tu sabes que minha palavra de bruxo é real. Podemos ir pra Marrocos agora tomar o café de lá e voltar antes que comece seu expediente novamente.

– Então vamos? Não estou a fim de ir pra casa.

– É sério? – Ele sorriu alegremente. – Vamos!

Os dias se passavam demasiadamente rápidos, Miguel e Ana se aproximavam cada vez mais e isso deixava Ana preocupada. Ela não tinha ficado com ele ainda e não sabia se isso era certo. Não tinha ninguém na sua vida por anos e de repente dois XY caíram de pára-quedas na vida da mesma. Miguel sentia essas incertezas apenas com o olhar da feiticeira. Era difícil para ele, não sabia que ela estava tão ligada ao professor de história que ele tivera o desprazer de conhecer.

Ana estava cada vez mais amiga de Miguel e isso incluía voltar a não ter mais os pés no chão, Miguel estava mostrando o lado mais gostoso de ser feiticeiro: o de não ter dever nem compromisso com nada e nem ninguém. Ana saía todos os dias do fim de semana com ele e sua mágica corrigia as provas e trabalhos, mal parava em casa. Estavam os dois dando uma volta pela cidade e conversando abertamente sobre os anos passados na vida dos dois.

– Ana, o que você fez quando foi embora?

– Ah. – Ana olhou para ele pensativa. – Eu chorei, basicamente. Depois visitei diversos países, vilas gastronômicas, museus, escolas, parques, livrarias... Explorei o que eu achei que me traria paz interior.

– E trouxe? – Miguel indagou com curiosidade. –

– Por um tempo, sim. Logo após passar essa fase senti vontade de me restabelecer em algum lugar... Acontece que não sei me controlar ainda e acabo mostrando demais minha magia. – Ela suspirou, um tanto frustrada. – E você, o que fez?

– O que faço sempre.

– Iludir jovens inocentes?

– Basicamente. – Ele riu e consequentemente, ela. – Eu busquei você por um tempo até perceber que tu foste embora por algum motivo. Quando me dei conta, estava por aí, explorando as possibilidades.

– E gostou das possibilidades?

– Mais ou menos. Sinto falta de base.

– É, uma hora a vontade de ter terra pra pisar faz falta.

– Demais. – Os dois suspiraram juntos e ao perceberem isso, riram. –

– Estamos agindo como dois frustrados. O que não é verdade.

– Não é?

– Bem, não quero seja.

– Ana... – Ele colocou o cabelo por trás da orelha dela. – Ninguém morre de amor. Te garanto isso. – Ana sutilmente pegou a mão do rapaz e beijou delicadamente. –

– Obrigada Miguel. – Ele ainda surpreso pelo ato, sorriu para a menina. –

– Tu és aquela partezinha boa que dá vontade de ficar, sabia?

– Tu és aquela partezinha boa que dá vontade de ficar, sabia?

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