Capítulo VI

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O dia amanheceu nublado e para a felicidade de Ana Lucia: era dia de praticar feitiços no quintal de trás. Com a força da chuva e do vento, estava tudo ao favor da bruxaria. Os feitiços de Ana precisavam naquele dia apenas dela mesma e seu baralho simples. Não demorou muito pra chuva cair fortemente pelo quintal e o barulho das gotas caindo na telha ficarem maiores e maiores. Situação perfeita pra esconder possíveis ruídos. Nas horas seguintes ela treinou algumas coisas que tinha aprendido em torno dos anos, mas principalmente, o autocontrole para manejar situações onde ela estaria sobre pressão. De longe, na janela da sala, Jax a observara enquanto tirava seus cochilos, ainda não havia explorado a vizinhança. Lucia também conseguiu – e não pela primeira vez – fazer com que os frutos das árvores florescessem antes da hora, afinal era quase inverno. Conseguiu fazer seu cabelo crescer uns sete centímetros a mais e por sorte de feiticeira jovem, obteve sucesso em todas as atividades realizadas naquela manhã. Logo a chuva passou e ela adentrou para tomar um longo banho de banheira com os sais mineiras que tinha comprado na feirinha do centro.

Ana era uma bruxa principiante, justamente porque abdicou da sua magia por muitos anos e a evitou com medo do que pudera fazer. Então ela há alguns anos atrasada de outras bruxas de sua idade. A magia não nasce do nada, ela precisa ser praticada e principalmente: sentida. Há milhares de bruxos ao redor do mundo, dentre eles estrelas de cinema, médicos e até padeiros. Cada ser nasce com o livre-arbítrio e escolhe o que irá fazer de sua própria vida depois dos quatorze anos. Acontece que Ana ainda não decidiu. Não que fosse realmente obrigada a seguir a forma padrão da sociedade capitalista: estudar, se formar e trabalhar. Não, Ana queria explorar o mundo e tudo que ela virá até então parecia ser muito pouco. Ela não era uma mulher indecisa, somente queria conhecer tudo que há nesse planeta – inclusive sair dele, um dia – Na hora do almoço, ela pegou um daqueles congelados ao qual comprará e foi pra varanda se deliciar com a lasanha a bolonhesa que tinha comprado dois dias antes. Sentada na rede na varanda, viu a casa do seu vizinho e lembrou-se dele. Era uma casa muito bonita, moderna e com bastante vidro ao invés de paredes. Pensou que talvez ele não gostasse de privacidade, ou que a casa tinha vindo assim e ele não tinha opção, e ali comeu sua refeição, pensando no porque do vizinho escolher uma casa assim.

O tempo havia melhorado e Ana, que agora adormecia na rede, escutou alguém tocar a campainha. Olhou de longe e viu Marcelo, e agradeceu por dessa vez ter trancado o portão da frente, pois seu cabelo estava uma bagunça. Ela se ajeitou e cambaleou ainda tonta de sono até seu vizinho, que sorrirá ao ver aquela cena muito meiga.

– Oi vizinho, tudo bem? – Ana disse entre um bocejo e uma espreguiçada –

– Oi Ana, tudo bem sim. Na verdade eu vim aqui te pedir um favor enorme que dá até vergonha de pedir... Surgiu um imprevisto nessa tarde e preciso ir ao meu serviço, eu sei que é sábado, mas sabe como é vida de professor, né? Enfim, a Mari tá quietinha e precisava que tu desse uma olhada nela de vez em quando, só pra fazer se ta tudo ok. Me desculpa mesmo, eu não te chamaria se realmente não precisasse. E assim em cima da hora não tem nenhuma babá disponível no fim de semana. Por favor?

– Claro, não tem problema. Mas não é melhor eu ficar por lá ao invés de ficar indo e voltando? Ou ela pode vir aqui também. Tem rede e um quintalzão pra ela brincar, se ela quiser trazer os brinquedos dela pra vir aqui.

– Você é maravilinda! Eu já trago ela! Brigadão Lucia, te devo uma!

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora