Capítulo XVII

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Depois de um dia exaustivo, ela estava agora caminhando para sua casa, que parecia muito longe a pé. Não sabia se era o cansaço ou a raiva, mas parecia cada vez mais longe. Andando a passos firmes e pesados, um tempo depois estava chegando a sua casa. Do outro lado da rua, Marcelo estava no quintal tomando uma cerveja e vendo Mari brincar no quintal. Olhou de relance Ana e percebeu o quão distante ela estava, mesmo sabendo que ele estava ali, não acenou para ele e entrou em casa batendo porta. Ele não tinha entendido o que tinha acontecido, mas preferiu não incomodar ela naquele momento. Pensou que talvez fosse à conversa que ela teria tido com um dos pais da tal aluna. Uns minutos depois, mandou uma mensagem para ela pelo celular.

Marcelo Andrade: Deu tudo certo na conversa?

E quase duas horas depois Ana responde.

Ana Lucia Franco: Sim, acontece que a menina engravidou e isso a desmotivou em ir às aulas. Conversei com o pai dela e passei alguns trabalhos e atividades avaliativas para ela fazer durante a semana. Me entregará na segunda feira que vem e eu vou reavaliar como nota de peso 2.

Marcelo Andrade: Caramba, que gentileza da sua parte. E que pesado.

E então ela parou de responder ele. Marcelo não entendia o que estava acontece e novamente mandou mensagem.

Marcelo Andrade: E você tá bem?

Ana Lucia Franco: Sim.

Marcelo Andrade: Mesmo? Não tá parecendo.

Ana Lucia Franco: Está tudo bem, só tô cansada.

Marcelo Andrade: Vou te deixar descansar então.

Ana Lucia Franco: Ok.

Marcelo Andrade: Boa noite Ana, fica bem.

Ana Lucia Franco: Não precisa me dar carona amanhã ok? Brigada mesmo assim.

Marcelo Andrade: Tá bem.

Ana estava com um ciúme absurdo! Não parava de voltar a sua mente a cena dos dois se beijando! Era uma raiva misturada com tristeza e isso a estava dominando. Desligou o seu celular depois disso e fora para o quintal de trás da sua casa. Lá, pôs pra fora toda a magia descontrolada, com apenas alguns olhares e mãos mexendo, fez duas Árvores crescerem (era difícil fazer crescer algo que leva décadas) e fez cair alguns chuviscos, acabou trazendo uma nuvem cheia de água para cima da cidade e caiu aos prantos no chão, sem força, acabou dormindo ali na grama mesmo. Acordou ao amanhecer e muito dolorida, na queda na noite anterior, tinha ralado o braço. Tratou-se de tomar um banho e se arrumar, não queria ser a segunda opção de Marcelo e sentia ódio ao lembrar-se disso. Pálida tal como uma vela, tentou disfarçar sua fraqueza com maquiagem. Estava linda, porém fraca pra andar de bicicleta. Saudade de sua vassoura! Era uma pena que não podia usar ela a luz do dia. Fez carinho em seu gato e tratou de colocar ração para Jax, que ainda dormia no sofá calmamente. Ana chamou um táxi que a levou até a escola, à primeira aula seria pro segundo ano e se animava pensando que gostava daquela turma em específico e que não seria de todo mal.

– Bom dia amados. Prontos pra Sociologia hoje? – Ela sorriu enquanto tomava um gole de café. Não tinha comido nada e lembrou que tinha saída com Jaqueline mais tarde. –

– É quase feriado profe!! Nem sei porque vim. A mãe obrigou. Afe! – Uma das alunas disse, emburrada, o que fez Ana sorrir e se lembrar da época do colegial. –

– Vocês estão mais próximos do feriado que eu! Trabalho até as 18:00 hoje!

E assim passou o período matutino, agora estava ao lado de Jaqueline na sala dos professores, que comia uma salada com uns temperos estranhos. Jaqueline tinha 30 anos e era o carisma e simpatia em pessoa, era professora de matemática e sentia o tempo bater em sua porta. Portanto, inventava dietas loucas para continuar com seu corpo e aparência de 20 e poucos.

– Não vais almoçar Aninha? Quer experimentar a salada? Tá uma delícia.

– Eu vou ficar no café. Não tô com muita fome.

– Menina tu tá cada vez mais magra. Deixa disso. Leonardo! – Jaque falou alto para ele ouvir, Leo era meio surdo, professor de química quase aposentado que naquele momento conversava com Marcelo. – Tens aquelas tuas pílulas mágicas? Essa menina não quer comer e pelo visto não comeu nada hoje! Olha como tá pálida! – Ana corou na hora quando viu o olhar de Marcelo sobre ela, desviou o olhar e fitou Leonardo, que tirava de sua bolsa um pacote com pílulas pretas e deu duas a Ana Lucia. –

– Toma só uma, vai te fazer sentir melhor. A outra é por garantia!

– O que é isso? – Ana disse olhando atentamente a pílula. –

– Uma composição de vários elementos que deram certo. Confia que dá certo!

– Obrigada seu Leonardo.

– De nada florzinha. Fica bem.

– O que aconteceu Ana? Está tudo bem? – Nessa hora Marcelo se aproxima de Ana, sentando na mesma mesa que Jaqueline, Ana e Lucio, professor de história também. –

– Está sim, só um mal estar. – Ela sorriu sem jeito. –

– Mas me diz você senhor Marcelo, quem era aquela loirona poderosa ontem? – Ela o olhou maliciosamente. – A escola toda está comentando do senhor, garanhão. – Ele fitou Ana na hora e sentiu-se culpado, ela concentrava toda a sua atenção na sua xícara de café e não tinha coragem de fitá-lo. Sentia-se tão boba e insuficiente. –

– Ela não é nada minha. Foi apenas um beijo. Beijo de despedida. – Ele continuou olhando Ana, que saiu da mesa e foi para o pátio dos fumantes conversar com Maria, outra professora. –

– Bah Marcelo, até a Ana? Nem vem, ela é demais para você.

– Vai te foder Jaque. Não se mete no que não sabe. – Ele falou emburrado. –

– Não acredito que vou fazer isso. – Ela suspirou. – Enfim, hoje eu, Ana e mais uma amiga vamos sair pra beber. Quer ir junto? Talvez de tempo de consertar essa cagada. – Marcelo sorriu de orelha a orelha e fitou Ana que de longe, fingia que ele não existia. – Mas é bom você trazer um amigo junto! E ele tem que ser mó gostoso! E ter diploma.

– Sua linda! Vou trazer sim! Até mais tarde! Me manda um whats pra me dizer o lugar!

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora