Capítulo VII

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Demorou cerca de cinco minutos e três viagens de ida e volta pra Marcelo trazer tudo que Mari queria brincar, e no final das contas, deixou todos os brinquedos de lado quando viu que numa das árvores no quintal detrás tinha um balanço. O pai saiu correndo e agradeceu Ana mais uma vez. Enquanto Mariana se deliciava brincando na grama ainda molhada da chuva, Ana fazia um café da tarde pras duas, incluindo suco de limão natural e pão de queijo (ah, os congelados!). As duas passaram a tarde de sábado brincando e correndo pelo quintal. Quando estava começando a escurecer Marcelo chegou com uma cara cansada e um olhar talvez triste. Franco, preocupada, ofereceu uma xícara de café fresquinho para o rapaz, que via da janela sua filha brincar e rodopiar sua saia pelo jardim.

– Está tudo bem, Marcelo? – Ana perguntou um tanto aflita –

– Já falei que podes me chamar de Celo. E não, não está nada bem. Tive uns contratempos no meu trabalho, questões de aluno x professor. Ando tão cansado dessa merda! – Ele olhou agora para Ana, que escutava atentamente. – Queria voltar a ter tua idade, Ana. Que saudade dos meus vinte e dois! Eu era mais otimista. E agora cá estou, chegando aos trinta sendo cantado por meninas de quinze anos que ultrapassam o limite, e quem acaba levando bronca? Eu. Vai entender. Eu não entendo. Às vezes queria poder recomeçar. Mudar de carreira talvez, mas não posso, tenho Mariana pra sustentar e não fazes ideia da responsabilidade que isso é, uma coisa é você cuidar de si mesmo, porque se passar fome, é você e só você. Agora quando se tem filhos, meu deus! Tem que abdicar de inumeráveis coisas e excluir a ideia de que tu não podes fraquejar, nem ter medos, nem por um momento sequer, cogitar outra possibilidade que não inclua segurança e base. Sem falar que a minha ex-esposa está enchendo a paciência que eu não tenho para voltar a nossa vida de casados... E fala que a Mari não pode crescer numa família desestruturada, que ela sente minha falta, que sente falta da nossa família. Não sei o que fazer. E to falando depois né? – Ana sorriu – Me desculpe, faz tempo que não desabafo assim. To tão acostumado a ouvir problemas dos alunos e tentar dar bons conselhos que acabo não cuidando de mim. Ora veja só eu sou um adulto com crise dos vinte e tantos!

Ana observou cautelosamente o rapaz que agora sorria, com uma mescla de alivio e agitação. Em nenhum momento da vida dela alguém fora tão sincero e aberto com ela, nem mesmo Miguel que fazia juras de amor pra mesma. Os olhos de Ana brilhavam enquanto ele falava tudo aquilo, e uma espécie de admiração por Marcelo cresceu no peito dela. Não podia deixar de notar que além de atraente, ele tinha uma mistura de banca de homem maduro com menino confuso e isso a deixava ainda mais instigada. Tratou de tirar esses pensamentos da cabeça enquanto ele voltou a falar.

– Eu falei demais né? Desculpa novamente. Acho que vou indo. – Ele agora foi ao quintal – Mari, vamos!

– Mas pai, só mais um pouquinho! Vem brincar comigo! Ana vem também!

– Mari aqui não é sua casa, vamos.

– Pode ficar, quer dizer, pode brincar. Chega a ser um pecado um quintal tão bonito não sendo usufruído por uma criança que gosta de brincar nele. Fique a vontade. Aceita mais um café? – E assim ficaram até o anoitecer chegar e as luzes do quintal se acender, e enquanto se despedia de Marcelo, Ana finalmente falou algo sobre o ocorrido mais cedo. – Celo? Não precisa pedir desculpa não, por mais que sejam problemas, eu adorei o fato de tu ter os compartilhado comigo. Pode parecer bobagem, mas eu realmente não me importo. Sinta-se a vontade. 

Ele sorriu ao gesto da feiticeira.

Ele sorriu ao gesto da feiticeira

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– Você é um amor, Ana. Boa noite e brigada viu? Até mais.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora