Capítulo XV

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O caminho se passou com eles cantando sertanejo. Ele só se sentia assim, tão confortável em ser ele mesmo com Ana por perto. É claro que a amizade que eles construíram antes era bem fortalecida, então não tinha esse negócio de constrangimento por coisas banais. Os dois eram muito palhaços e adoravam fazer chacota um do outro. Celo podia jurar que o momento preferido que os dois tinham era quando Mari estava perto. Não queria pensar em Ana como uma integrante da família, pois tinha medo do que poderia acontecer com Mari se apegando demais a ela, e inevitavelmente, ele também. Claro que uma das preocupações dele era o fato dela ser mais nova que ele e estar em fases distintas, tanto da carreira quanto da vida pessoal, mas ele tentava não ligar, gostava por demais de Lucia para se preocupar com coisas a parte.

– Chegamos. – Ana o interrompeu de seus pensamentos. – Tudo bem?

– E o café? Ana me ajuda, eu vou morrer.

– Dramático.

– Ana, você já pensou em ter filhos? – Marcelo falou alto para Ana ouvir, já que ela estava preparando um café na cozinha e ele tirando os sapatos na sala. –

– O que? – Ela gritou de volta, não tinha escutado. –

– Você quer filhos? – Ele gritou novamente, impaciente. –

– Que? Como assim? – Ana disse agora trazendo o café para ele. – Se eu quero ter filhos?

– Isso, se você pensa em ter filhos.

– Não, na verdade.

– Não pensa ou não quer?

– Não quero.

– Sério? Que massa! É difícil encontrar mulher, ainda mais na tua idade, que não pensa em pelo menos ter um filho na vida. – Ele falou enquanto tomava um gole de café, e percebeu que ela se sentirá incomodada com a sua fala. – Falei algo errado?

Mulher ainda mais na tua idade. – Ela repetiu as palavras de Marcelo. – De certo porque percebemos ao longo das décadas que não somos máquinas de procriar. Essa maternidade compulsória que nos é emposta é foda. 

– Desculpa.

– Ok, mas afinal, por que da pergunta?

– Pois sou metido, oras.

– Disso eu sei. – Ela deu risada e sentou-se ao lado de Marcelo, que terminava seu café e pensava se teria forças para ir até seu quarto. Depois do café e de um banho, ele já estava 45% mais sóbrio e Ana, que estava sentada no sofá vendo um filme qualquer, observou ele voltar do banho de calça moletom e meia e sentar ao seu lado. Ele tinha um corpo que chamava a atenção dela, era difícil não notar. – Foi bom o banho? Precisava mesmo de ajuda? – Ela riu tirando sarro, já que ele tinha pedido ajuda no banho, mas com outros pensamentos. –

– Não precisei, mas acho que merecia uma ajuda só porque sou simpático. O que você tá assistindo?

– Documentário sobre como são feitos os documentários. É bem interessante.

– Vou pegar mais café. Já volto.

– Na verdade, acho que estou indo. Afinal são 03h30min da manhã! Nossa, como está tarde!

– Ana, é sábado. Tá inclusive cedo. Fica. – Ele a fitou sorrindo. – Se quiser, claro! Não estou impondo nada. – Ele disse sem jeito. – É que pareceu. – Ana deu uma risada gostosa e contagiante. Era difícil Marcelo não prestar atenção nela o tempo todo. – E nunca tivesse medo de morar sozinha?

– Medo eu até tenho, mas tenho que pensar que nada vai me acontecer. E tenho meus colares de proteção, acredito muito neles. E tem meu pai também, que me visita com frequência pra ver se estou bem. Aliás, eu fiz um pra você e outra pra Mariana, mas esqueci que ela ia passar o fim de semana na casa da mãe dela, então esqueci de dar. Ó – Ana Lucia entregou o colar para Eduardo, que ficou feliz com o presente –

– Não precisava bonita, mas brigada! – Ele colocou no pescoço – Ficou bom?

– Ficou lindo!

E o final de semana dos dois se passou com muitos beijos, filmes na Netflix e comida. Ana não se sentia em casa há muito tempo, inclusive talvez tenha sido a primeira vez que ela se sentirá assim. Acabou dormindo na casa dele até segunda feira, quando se viu obrigada a ir pra casa voltar a sua rotina. Foram à escola juntos, Ana não tinha forças pra ir de bicicleta depois de uma madrugada inteira conversando com ele. Aquela conexão absurda que eles sentiam deixava ambos abismados; No fim do dia, Marcelo disse para sua filha que iria até a casa de Ana Lucia para pegar açúcar, algo que ela nem ouviu porque estava distraída vendo desenho na televisão.

– Ela não desconfiou? – Disse Ana abrindo a porta rapidamente para ele e o enchendo de beijos.

– Nem um pouco, tá ocupada vendo Hora de Aventura. – E nesse meio tempo Marcelo a pegou no colo, fazendo suas pernas se entrelaçarem nas dele. A colocou levemente sobre a bancada da cozinha e começou a beijar seu pescoço, que se eriçava ao toque de Marcelo. Entre as respirações ofegantes e um ou dois sorrisos abafados pelos beijos acalorados. Ana o interrompeu. –

– Ei, ela não pode desconfiar.

– Está me mandando embora? – Ele falou sorrindo, enquanto mordia o lóbulo da orelha de Ana.

– Você me deixa toda arrepiada! – Sorriu, o abraçando e mordendo levemente o pescoço de Marcelo. – É um sentimento bom.

– É mesmo. – Ele a abraçou. – Tenho que ir.

– Mas já? – Ela olhou para ele cabisbaixa, uma explosão de fofura aos olhos dele. –

– Tu é encantadora, Ana. Tenho vontade de te socar e te beijar.

– Credo! – Ela sorriu entendendo o sentimento. Era recíproco. – Até amanhã então?

– Tu podes dormir lá em casa, sabes né... – Ela a fitou com aquele olhar. Aquele que ela ainda não conhecia muito bem, mas já imaginava que era com segundas intenções. –

– Quem sabe na próxima. Me manda mensagem, ok?

E eles se despediram com mais vários beijos. Marcelo foi embora pensando no fim de semana que eles tiveram e que, em momento algum, ele se excedeu com segundas intenções para com Ana, apesar de estar com muita vontade. Nunca ouviu ela falar sobre sexo e imaginou que fosse bem reservada, ele já havia falado com isso sobre ela há umas semanas atrás, contando da aventura sexual que ele teve com Bruna no parque que tem ali perto da casa deles. Deduziu que sua amiga/ficante gostava de privacidade. Do outro lado da rua, Ana o fitava entrando em casa e logo veio a primeira mensagem.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora