Um dia já havia se passado desde o sumiço de Ana e nada dela aparecer. Marcelo ficava cada vez mais aflito com sua companheira e Marisa todavia estava no apartamento dele, buscando soluções para aquele problema.
– Sabe o que não sai da minha cabeça, Mari? – Ele disse cabisbaixo. Não tinha dormido nada naquela noite. – É que Ana sumiu enquanto aquele cara continuava perseguindo ela. Não sei como a deixei sair sozinha. Me sinto péssimo.
Marisa o fitou com um semblante incrédulo e preocupado.
– Luiz ainda a persegue?
– Como você sabe disso?
– Ela me falou há alguns meses e – Parou de falar, tinha que ser cautelosa. – Bem, achei que ele tivesse sumido.
– Voltou há algumas semanas, ela já fez b.o contra ele e tem uma ordem de restrição na justiça, mas o cara é doido. Essa opção tá martelando na minha cabeça. E será que foi ele?
– Não foi, deixe disso.
A verdade é que nem ela sabia e isso a deixava muito assustada. Tratou de ir ao quarto do casal e buscar o pente de cabelo da feiticeira, um fio de cabelo era suficiente para o que ela queria.*********
Ana acordou só na manhã seguinte depois de ter sido topada por Luiz, estava nua e sozinha no quarto. Logo o desespero tomou conta dela e tentou não chorar, estava exausta. Pensou em como sair dali e ao averiguar a janela, era muito alto pra pular, até que teve uma ideia. Fez a árvore que tinha perto da janela crescer, iria tentar sair por ali. Estava no meio do processo quando escutou alguém vindo em direção a porta do quarto. Ana correu até a cama e se cobriu inteira com o lençol. Fingiu estar dormindo e pode notar a presença de Luiz ali, que olhava para a feiticeira.
– Se você soubesse o quanto eu gosto de você....
Ele sorriu, sentou na beirada da cama e tirou o lençol que cobria Ana, a mesma se assustou com isso e tentou cobrir-se novamente, mas foi impedida por Luiz. Ele percebendo o medo que a mesma sentia, se encheu de excitação. Ficou por cima dela e começou a beijar seu pescoço, Ana se debatia na cama e tentava sair de baixo dele, mas seus esforços de nada adiantaram com o peso de Luiz.
– Se você se debater assim, vai ser pior. – Ele finalizou a frase fazendo com que Ana estremessece.–
– Por favor, não me machuque.
– Eu só vou machucar se você não ficar parada, só vai sentir dor se quiser.
Ana começou a chorar e mais nada disse, sabia o fim daquilo e torcia só pra acabar rápido. Pensou no Marcelo e no sorriso dele. O que ele pensaria vendo-a daquele jeito com outro homem? Qualquer pensamento era melhor do que estava sentindo naquele momento.
De repente, uma onda muito forte de dor atravessou Ana, tinha sido invadida por outro homem e as lágrimas desciam rolando pelo seu rosto. Luiz fazia movimentos bruscos enquanto mordia o pescoço de Ana, deixando inúmeras marcas pelo seu corpo. Ela gritava de dor e implorava para ele parar, mas parece que só o instigou a mais e mais.
Mais alguns minutos e ele desmoronou em cima dela.
– Viu? Não foi tão ruim.
Luiz tinha um sorriso travesso no rosto enquanto falava aquilo. Seu corpo estava suado e nem ligará para o choro constante da menina. Deitou atrás dela e a puxou para um abraço, onde em alguns minutos dormiu. Na cama havia sangue de Ana e o cheiro de Luiz, tudo aquilo a deixava cada vez mais enojada de si mesma e tentou fechar os olhos e esquecer que aquilo tudo tinha acontecido.
Mas aconteceu.*********
– Como será que ela tá? – Marcelo perguntou-se a si mesmo enquanto pensava na amada. –
– Ela é uma mulher forte. Tenho certeza que está bem. – Mentiu. – Escuta, eu vou dar uma saída, preciso resolver umas coisas. Eu não demoro, ok?
– Tudo bem.
Marisa pegou seu carro e acelerou o máximo que pôde, já sabia onde a feiticeira estava, mas algo dizia que o pior já havia acontecido. Quando chegou lá, bastou um olhar para destrancar todas as portas até o quarto de Luiz e quando viu aquela cena e o olhar quebrado de Ana, não conteve suas forças.
Quebrou os ossos de Luiz com apenas um estalar de dedos e o deixou com as pernas reviradas. O rapaz gritava de dor enquanto Ana olhava assustada para aquela situação.
– E como é a sensação de sentir dor, Luiz? Não avisei para ficar longe? Eu não avisei?
Ana não entendia o que acontecia, mas logo que se deu por conta tinha corrido para os braços de Marisa e desatado a chorar. Ela a recebeu com um abraço apertado e acolhedor.
– Escute Ana, eu quero que você pegue sua roupa na sala, as vista e espere dentro do carro, tá bem? – Ana concordou. – Não saia de lá por nada. Apenas me espere.
E foi isso que ela fez.
Marisa apareceu cerca de meia hora depois, com as mãos ensanguentadas e o olhar mais leve. Entrou no carro e seguiu rumo a sua casa.
– O que você fez com ele? Como me achou?
Eram tantas perguntas que não saíam de sua cabeça.
– Feitiço localizador. E não se preocupe, ele não voltará a andar nunca mais, muito menos terá qualquer tipo de relação. O encapacitei.
Marisa deu um sorriso diabólico.
– O que Marcelo achará disso? – Ana se lamentou enquanto deixava cair algumas lágrimas. –
– Não pense nele agora, ele já está preocupado, umas horinhas a mais não irão matá-lo. Vamos para minha casa.
Ana concordou, por mais que sua vontade fosse ver Marcelo e correr para seus braços, não conseguiria naquela hora.
Ao chegarem no apartamento de Marisa, Ana foi tomar um banho e ela a ajudou, não deixando a menina em momento algum sozinha. Minutos mais tarde ambas estavam no sofá de Marisa, tomando um café com bolachas, que Ana foi forçada a comer já que não sentia fome.
– Eu não acredito que isso aconteceu. – Ana disse por fim. – E eu não acredito que não consegui usar minha magia. Eu deixei que isso acontecesse, Marisa.
– Não fale isso jamais! – Ela abraçou a feiticeira. – É comum não conseguir praticar magia em situações assim, eu mesma, só funciono pela raiva. É meu sentimento de impulso. Você descobrirá o seu.
– Estou esperando um bebê do Marcelo e agora nem coragem eu tenho de encará-lo.
– Você não precisa, não agora.
– O que vou fazer? Me sinto tão imunda... – E mais algumas lágrimas caíram do rosto dela. –
– Aconteceu a mesma coisa comigo quando eu tinha dezesseis anos. Há mais de dez anos atrás. – Marisa disse relutante. – Foi um ano antes de conhecer o Marcelo e isso que vou te contar ele jamais deve saber. – Ana assentiu. – Meu professor de feitiçaria me estuprou cinco vezes até eu ter conseguido dar fim na vida dele. É por isso que funciono melhor pela raiva.
– Meu deus Marisa, e você contou isso para alguém? – Ana a fitou assustada. –
– Não, achei melhor guardar esse segredo pra mim. – Ela segurou nas mãos de Ana. – Você não precisa fazer o mesmo, tens amigos ótimos, um homem maravilhoso na tua vida e também a ajuda psiquiátrica. Tu não tá sozinha, Ana!
Ana Lucia se calou, ainda não sabia o que fazer e o sentimento de tristeza não ameniza um por cento sequer.
E naquele silêncio elas permaneceram por alguns instantes. Uma se apoiando na outra.
Mulheres precisavam se unir.
Foi naquele pensamento que Ana adormeceu no colo de Marisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Feiticeira
RomanceAna Lucia Franco é uma feiticeira de 22 anos que vive mudando de lugar cada vez que espalha sua magia demasiadamente. Aventureira por si só, fala mais de 15 idiomas e sabe mais sobre cultura do que si mesma. Aos quatorze anos, como é de costume na b...