Capítulo LVIII

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Desde o dia que Ana viu Luiz, não conseguiu pregar os olhos na cama. A sensação de ter alguém a observando era frequente, contudo ela nada via. Parte dela sabia que tinha alguém vigiando-a, a outra parte tentava ignorar o ocorrido.
– Lucia, posso te buscar hoje no fim do expediente? – Marcelo naquele dia não iria trabalhar, folgou para levar Mariana ao pediatra. –
– Ai Celo, não precisa. Eu pego um táxi ou carona com alguém. Não te preocupa. – Ana lhe lançou um sorriso. – Sou bem grandinha.
Não, você não é. Tens 1,55 de altura e pesa 50 quilos. Pensou Marcelo, irritado.
– Não posso te obrigar a voltar comigo, senão essa opção estaria sendo descartada. – Ele se aproximou do rosto da feiticeira e depositou um beijo em seus lábios. –
– Se acontecer alguma coisa, eu ligo.
– Se cuida, amor.
Ana saiu as 07:25 da matina como todos os dias, deu suas aulas e durante a quinta aula do período da tarde, foi chamada na direção para falar com um pai preocupado com as notas da filha caçula. Ela ficou cerca de quarenta minutos tentando explicar para o pai que ela havia passado todo o conteúdo e ainda feito simulados por email, o que nada adiantou perante a raiva do responsável. Mais difícil que acalmar os alunos numa sala: era acalmar pais enfurecidos com o boletim dos seus filhos. Já era seis e meia quando finalmente saiu da escola e como ainda estava dia, resolveu ir andando para a casa. Não tardaria muito pra chegar já que sua nova moradia era no centro da cidade.
Estava há duas quadras do seu apartamento quando avistou uma criança sentada na beirada da calçada com um homem que tinha aparentemente cinquenta anos.
– Vem pra casa comigo, que daí ligamos pra sua mamãe vir buscar. O que tu acha? – Ele acariciou o rosto banhado de lágrimas da menina. –
– O que o senhor pensa que está fazendo? – Ana chegou se entre pondo diante da menina e do velho, sua face era a da mais protetora e raivosa. – Vá embora antes que eu chame a polícia, velho nojento!
– Que isso dona, eu só estava acalmando a menina...
– Eu já falei pra você ir embora!
E ele foi, com as mãos na calça e um sorriso sem jeito.
– O que houve, meu amor? – Ana se agachou para ver a criança de frente. – Se perdeu de alguém?
– Uhum... – A criança disse chorosa –
– Ora, vamos a delegacia, tá bem? Lá logo sua mãe irá te buscar.
E elas foram, Ana chamou um táxi e prontamente estavam na delegacia, onde a menina foi levada para a assistência social. Ana ficou ali por mais algumas horas, como havia ela que tinha encontrado a criança, tinha que preencher uma papelada. Por volta das dez chegou em casa com um alívio no peito, só foi embora quando a mãe dela apareceu. Também estava demasiadamente cansada.
– Tia! Tia! – Mariana veio até ela correndo assim que abriu a porta do apartamento e a abraçou fortemente. – Onde cê tava?
– Oi lindeza, tive que resolver uns problemas, mas tá tudo bem agora.
Não tardou um minuto para Marcelo chegar na sala e abraçar Ana, com um semblante preocupado e logo em seguida, raivoso.
– Onde você estava, Lucia?!
Seus olhos transpareciam raiva e  preocupação.
– Ah amor, não vais acreditar...
– Caíram teus dedos, foi? Custava retornar minhas chamadas?
– Ora, eu nem vi meu celular. O dia foi tão corrido e – Foi interrompido por Marcelo furioso. –
– Porra Ana! Pode deixar de ser tão egoísta? Fiquei preocupado pra caralho! Tu não mora mais sozinha. Moramos juntos agora. Haja como tal! – Ele, sem perceber, tinha apertado os braços finos da feiticeira na hora da raiva. Apenas a soltou e não pediu desculpas. – Eu vou dormir na sala hoje.
Isso não podia ser real. Ele estava bravo comigo? Pensou Ana.
A professora foi para o quarto do casal sem entender e se sentiu sozinha. Não sabia se pedia desculpas ou ficava irritada com Marcelo. Ele tinha razão, contudo isso não era desculpa pra ele ser estúpido com a mesma. Esperou uma meia hora sentada no quarto esperando que por algum milagre, Marcelo atravessasse o quarto agora para conversarem e falar que está tudo bem. Se deu por vencida e foi tomar seu banho, era quase onze da noite e estava com muito sono. Seu banho durou uns dez minutos, tempo suficiente pra Ana tirar todo o peso nas costas de um dia exaustivo. Ainda de toalha, adormeceu rapidamente assim que deitou na cama.
Era duas da manhã quando ela abriu os olhos sonolenta, com Marcelo por cima dela, segurando seus braços que estavam esticados na beira da cama. Completamente desnuda, sentiu os beijos molhados dele se distribuírem generosamente pelo seu corpo. Ainda estava grogue e demorou um pouco para entender aquela situação.
– Marcelo? O que você está fazendo?
Ele suspirou ao ouvir a voz manhosa da feiticeira.
– Shhh.
Se era errado ou um tanto imoral, ele nem ligou. Adentrou Ana e a jovem assustada deu um gemido alto, uma mescla de dor e surpresa. Logo se acostumou com seus movimentos e sentiu prazer com as estocadas de Marcelo.
Ele ainda prendia seus braços e a impedia de qualquer movimento, não que quisera sair dali, todavia toda essa cena a deixou surpresa, pra não dizer assustada.
Marcelo aumentou sua velocidade por cima da bruxa, que já arfava e deixava escapar um gemido intenso que avisava que seu orgasmo estava chegando. Levou mais alguns minutos para Marcelo chegar ao seu ápice e descansar seu corpo por cima do dela. Ofegantes, Ana ainda não entendia o porque daquilo já que mais cedo estavam brigados. Ele não percebeu, mas mesmo após ter se desmontado em cima dela, suas mãos ainda seguravam seus braços.
– Pode me soltar? Está me machucando. – Ana sussurrou, envergonhada. –
– Desculpa, é difícil conter a raiva quando se mistura com o tesão.
– Você tá com raiva de mim? – Perguntou amuada. –
– De ti não, da situação em si. Fiquei extremamente irritado e não consegui dormir, quando vim pra cá pegar mais um travesseiro, te encontrei pelada na nossa cama. Foi impossível negar a vontade que eu tava de te comer.
Ana se surpreendeu com as palavras, não costumava ver Marcelo com esse tom de voz e muito menos falando essas coisas pra ela.
– Não te machuquei, né? – Ele saiu por fim de cima dela. – Acho que machuquei... – Ele disse passando a mão na intimidade da feiticeira, que sentiu uma leve ardência ao sentir Marcelo metendo um dedo suavemente nela, tentou conter o gemido dolorido, mas foi em vão. – Não quis te causar dano, desculpa amor.
– Acho que tá tudo bem. – A garota disse tímida. – Vais dormir comigo hoje? Não te quero naquele sofá.
– Tá bem.
Marcelo beijou sutilmente o rosto de Ana, que sorriu na gentileza do rapaz. Estava dolorida e um tanto confusa com a reação dele. Marcelo se jogou no lado da cama e dormiu em questão de minutos, já Ana ficou olhando seu namorado dormir, ainda buscando explicações pra aquela atitude.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora