Capítulo XXXIX

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No outro lado da rua, Marcelo espiava entre suspiro e outro a janela da sala da feiticeira. Podia ver claramente eles e isso o deixava com uma extrema mágoa. Ele via Miguel usando apenas uma calça e Ana com sua camisa. Eles riam a trocavam olhares que para ele eram afetuosos. Os ciúmes o corroíam e ele não podia ficar vendo aquilo. Trocou sua roupa e foi visitar Eduardo, um amigo de muitos anos dele.

– Pra você me procurar num sábado de manha das duas uma: ou você engravidou alguém ou está com problemas com mulheres. – Eduardo abriu a porta vestindo apenas uma cueca e recebendo seu amigo com um semblante calmo. – Então, o que você fez?

– Problemas com mulher mesmo... E você deveria vestir mais roupa.

– Estou na minha casa, se eu quiser ficar pelado eu vou ficar. Eu fui até gente fina de ter posto uma cueca pra ti hein. – Eduardo sorriu abrindo uma latinha de cerveja. – Quer uma?

– Não, obrigada.

– Oi amor. – Apareceu na cozinha uma menina que parecia ser muito mais jovem que ele, vestindo apenas sua camiseta. – Oh, não vi você aí! Prazer, Juliana.

– Ah, prazer é meu. – Ele sorriu sem jeito. –

A garota deu um beijo em Eduardo, despediu-se de Marcelo e voltou para o quarto. Marcelo ainda estava boquiaberto e seu amigo, com um sorriso orgulhoso.

– Linda ela, né? – Edu sorriu enquanto se encostava –

– Linda e nova! Quantos anos essa menina tem?

– Falou o cara que tava de olho numa menina de 20.

– Ela tem 23 anos.

– Quase a idade da minha Ju.

– Quantos anos ela tem cara?

– 19... Mas faz 20 mês que vem!

– Ai senhor amado...

– Não me julgue! – Eduardo disse irritado. –

– Você sabe o que eu penso a respeito.

– O que são dez anos de diferença?

– Tanta coisa. Quando ela tinha dez anos, você tinha 20.

– É claro que olhando dessa maneira... – Eduardo suspirou. – Afinal, o que você queria mesmo?

– Eu terminei com a Ana.

– O que?! – Ele deu um grito, espantado. – Mas por quê?

– Eu sinceramente não sei explicar. Isso me tira do sério! – Marcelo suspirou. – Foi semana passada, eu tive um dia estressante e descontei nela. Quando vi já estávamos discutindo e eu falei que não estava dando mais certo.

– Como você é um babaca e infantil.

– E agora o primeiro namorado dela brotou do inferno e voltou pra vida dela. Tá uma merda. – Marcelo fitou o amigo e buscava respostas em seu olhar. –

– Não sei o que te dizer, cara. Já tentou conversar com ela?

– Eu tenho tudo planejado no que falar, mas chega na hora e parece que minha língua trava, entende? Como se algo me impedisse de falar com ela sobre isso. É inexplicável.

– Acho que você deveria buscar um psicólogo.

– Como faço pra reconquistar ela?

– Primeiro: não fique com nenhuma mulher na frente dela. Seg- – Eduardo foi interrompido. –

– Tarde demais, no dia seguinte transei com uma ex minha.

– Você não está se ajudando, sabia? E o canalha da história normalmente sou eu.

– Não sei o que deu em mim. – Marcelo deu de ombros, cansado. –

– Sinceramente? Nem eu. Você não é esse tipo de cara.

A conversa não se estendeu mais, seu amigo tampouco tinha solução para tamanha burrada. Queria ele mesmo saber explicar o que estava acontecendo consigo. Até mesmo sua filha estava chateada com ele por ter rompido com Ana. Pela primeira vez teve medo de perder alguém além de sua pequena. Nem a própria Marisa, mulher com quem ele foi casado e viveu anos juntos ele teve o mesmo sentimento. Sentia que com ela ia ser pra vida toda. Por que esse fim tão triste para eles? Era isso que ele não entendia. Sentia falta de Ana em seus braços, dos seus corpos suados se entrelaçando, até mesmo dela fazendo manha pra sair do seu lado da cama e quando ela dormia no sofá mesmo jurando que não ia dormir.

Tudo nela fazia falta para Marcelo.

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