Os dias se passavam cada vez mais rápidos e tanto Ana quanto Marcelo estavam na correria, era semana de provas e sempre tinha algum aluno que perdia avaliação e ocupavam o tempo dos professores. Ana Lucia estava com um enjôo enorme naquela manhã e se arrependeu de não ter tomado café da manhã. Seus cafés frequentes podiam acarretar um problema futuro. Estava sentada em sua mesa enquanto observava atentamente os alunos para que não colassem na prova, tentou também olhar pra fora, onde viu Marcelo fazendo o mesmo que ela. Seu sorriso ao vê-lo se transformou em ciúmes quando viu Paloma o chamando e cochichando algo em seu ouvido.
Ela de novo não.
No fim do dia, já dentro do carro e a caminho de casa, a feiticeira nada falou. Marcelo estava com seu semblante calmo como sempre e ela estava impaciente. Será que ele não vai mesmo contar pra mim daquela cena repugnante? Pensou Ana.
- Tudo bem contigo? - Marcelo arqueou a sobrancelha enquanto fitava a irritação dela. -
- Uhum, só tô enjoada.
- De novo enjoada?
Uma onda de calafrio cercou os dois.
- Meu deus, eu não havia pensado nisso. Vamos passar na farmácia.
- Mas a gente tem usado camisinha. - Marcelo disse tentando parecer despreocupado. -
- Nem sempre, Marcelo.
Ana suspirou e voltou-se a olhar para a janela do carro, tentando amenizar a descarga de pensamentos que ocorriam em sua cabeça. Passaram na farmácia e compraram a pílula do dia seguinte e um teste de gravidez. Ao chegarem em casa Ana nada falou, se trancou no banheiro e lá ficou por quase duas horas. Marcelo estava preocupado e pela demora começou a imaginar o pior. Quando saiu, ele estava sentado corrigindo algumas provas e passando para o estudante online. Tirou seus óculos de descanso ao ver o semblante da bruxa. Seus olhos estavam vermelho de choro e seu nariz também, a ver assim o fez trincar o maxilar.
- E então? - Marcelo aproximou-se dela e a fitou atentamente. -
- Eu tô grávida.
Ouve um minuto de silêncio.
- E o que tu vai fazer a respeito?
- Eu? - Ana disse trêmula. -
- Essa decisão é tua, Ana. Vou te apoiar no que tu decidir. Quero que saibas disso. - Ele a envolveu num abraço acolhedor onde a feiticeira se desabou a chorar. - Tô aqui contigo.
Ele realmente estava, contudo essa decisão era solitária e Ana precisava pensar. Enquanto Marcelo foi tomar um banho, ela disse que iria na padaria. Não é que não queria a companhia de Marcelo naquele momento tão difícil, mas como ele mesmo disse: a decisão era dela.
Não sabia a quem recorrer e divagando nesses pensamentos ficou andando por meia hora, até que percebeu que tinha se perdido pelas ruas daquela cidade. Foi pedir informação a dois jovens de aproximadamente vinte anos que estavam fumando um cigarro em frente de uma galeria de tatuagens.
- Oi, boa noite. - Ela sorriu gentilmente para os rapazes. - Será que poderiam me dar uma informação?
Eles a fitaram da cabeça aos pés e avaliaram a feiticeira com um semblante divertido.
- Claro, boneca. Tá perdida?
Ana estremeceu.
- Na verdade, não. Obrigada mesmo assim. Acho que já me localizei.
Apressou seus passos para longe deles e quando viu estava numa rua um tanto deserta. Colocou a mão sob a barriga e tentou sentir algo, logo sentiu-se estúpida por estar fazendo algo assim. O feto devia ter semanas e se pegou sorrindo pensando nele. Estava andando de volta para casa quando esbarrou em algo, na verdade, em alguém.
- Oi Aninha.
Não podia ser. Ela engoliu seco.
- Luiz? O que tu faz por aqui?
- Estás na frente da minha casa. Não pode ser coincidência, não acha?
Ana olhou para cima e viu o apartamento que Luiz morava, só tinha ido ali uma vez e nem havia se lembrado do lugar. Ele a pegou pelo braço e a arrastou para dentro de casa. Não tinha ninguém no corredor e seus gritos foram abafados pela mão do mesmo.
- Shh... Fica quietinha que é melhor.
Ele morava no terceiro andar e pela primeira vez Ana sentia um medo descomunal. A forçou a sentar-se no sofá de sua sala e ali ela permaneceu enquanto ele ia na cozinha pegar água. Não pode deixar de notar a mobília da casa de Luiz, era um apartamento bonito e buscava formas de sair dali. Quando voltou a sala, trouxe um copo de água para ela, que se indireitou no sofá ao perceber ele sentando-se ao seu lado.
- Ora, não fique assim, não vou te machucar. - Ele sorriu gentilmente. - Só estava com saudade tua.
- Então porque não me deixa ir embora?
- Você acabou de chegar.
Luiz deu de ombros enquanto via a feiticeira beber a água.
- O que você quer comigo?
Ana congelou ao sentir a mão de Luiz em sua coxa desnuda. Péssimo dia para usar um vestido.
- Por favor, não faça nada comigo.
- Eu gosto que tu implore. - Ele sorriu ao se aproximar do pescoço da feiticeira, que estava com a respiração entre cortada. - Dessa vez não vai ter Marcelo para te salvar.
Ana o olhou com os olhos tristes. Era muita coisa ruim para um dia só. Lamentou-se por ter saído de casa nesse dia e foi pensando isso quando sentiu Luiz a pegar no colo. Ana tentou lutar e se debater contra ele, o que foi em vão. A levou para o banheiro onde despiu todas as suas roupas, o rosto de Ana queimava por estar totalmente nua, já Luiz, contemplava o corpo da menina-mulher. Ana já não media as lágrimas que insistiam em cair pelo seu rosto.
- Por que você tá fazendo isso comigo? - Disse assim que entrou no chuveiro forçadamente. -
- Porque eu te amo, Ana. Te quero do meu lado e não ao lado de alguém que não sabe valorizar essa mulher incrível que tu é.
Ela ficou dentro do box do chuveiro temendo pela sua vida, contudo não demorou muito para um sono súbito a atormentar, só ali lembrou da água que tinha tomado.
- O que você fez comigo? - Ana disse antes de apagar, onde caiu nos braços do Luiz. -
- Em breve você verá, meu amor.*********
Marcelo estava preocupado por demais com Ana que sequer havia levado seu celular quando saiu. Tinha ligado para todos: Lucas, Jaqueline, Fernanda, até mesmo Marisa. Sua ex mulher prontamente já estava na casa de Marcelo, fazia mais de três horas que estava sumida e até então nenhum sinal dela. Fora na delegacia com Marisa e relataram o sumiço de sua companheira. Marcelo estava tão aflito que nem pensava direito.
- Pode não ter sido nada, Celo. Vocês tinha brigado ou algo do tipo? Ela pode ter saído para espairecer.
Eles estavam dentro do carro junto com Mariana atrás, que brincava alheia a qualquer atrito.
- Ela não sumiria assim. Sei disso. - Ouve um tempo de silêncio até que Marcelo respirou fundo e fitou sua ex esposa. Não sabia se contava a ela. - Ana tá grávida. Descobrimos hoje.
- Meu deus, Marcelo Andrade! Não ouvisse falar em camisinha não? - Logo ela olhou pra trás e viu sua filha brincar com sua boneca. Suspirou ao pensar em sua filha. - E como vocês estão em relação a isso?
- Eu disse que a escolha era dela.
Marisa o fitou perplexa.
- Nossa, você não muda hein.
- Como assim?!
- Lembra quando descobrirmos que íamos ser pais? - Marcelo assentiu. - Você me disse a mesma coisa e mesmo tendo respeitado a minha escolha, me deixou sozinha... - Marisa suspirou pesadamente. - Imagina ela que possivelmente também será mãe de primeira viagem.
- Eu não havia pensado dessa maneira. A escolha é do corpo da mulher e eu não queria me intrometer.
- Porra Marcelo, a escolha é sim da mulher, mas se mostre mais presente! Ela é tua companheira.
Marisa revirou os olhos.
E ele, sentiu-se culpado.
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A Feiticeira
RomanceAna Lucia Franco é uma feiticeira de 22 anos que vive mudando de lugar cada vez que espalha sua magia demasiadamente. Aventureira por si só, fala mais de 15 idiomas e sabe mais sobre cultura do que si mesma. Aos quatorze anos, como é de costume na b...