A Feiticeira

Capítulo XLVII

– Cadê o Miguel? Marcelo? – Ana disse apertando a mão do rapaz que estava junto com a sua. – Onde está Miguel?

Não obteve resposta e tentou se levantar, mas foi impedida por sua mãe que a abraçou fortemente. Não tardou para Ana dar-se conta do que tinha acontecido. Só lhe restaram lágrimas e culpa a respeito da morte de Miguel. Sentia-se tola e impotente.

– Posso conversar a sós com a minha filha?

– Claro. – George saiu do quarto arrastando Marcelo que permanecia do lado da feiticeira. Levou também Lucas e Jaqueline. –

– Que bom que você está bem meu amor, voltamos mais tarde... – Jaqueline beijou seu rosto com os olhos cheio de lágrimas e saiu depressa com Lucas. –

– Ele morreu tentando me salvar, mãe?

– Sim, meu doce. – Samantha sentou-se ao lado da feiticeira que ainda estava perplexa com a notícia e ela lutava desesperadamente para não chorar. – Senti tanta sua falta.

– Também senti a falta da senhora. Senti mesmo. Meu deus, eu quero morrer.

– Não fale isso! – Samantha a abraçou. – Isso que aconteceu com o pobre Miguel serviu para mostrar o quanto tua vida é importante meu bem. Não fale mais isso.

– Mãe, como eu fui tola! – Ela dizia inconsolada. –

– Teu coração é muito puro. Isso não é um defeito.

– Eu matei Miguel.

– Não, você não matou. Ele podia ter optado por não entrar naquela casa. Ele podia, Ana Lucia. Naquela noite ele decidiu te salvar e sabia das consequências.

Ana não conseguia dizer mais nada, se manteve em silencio por alguns minutos e não tendo coragem de olhar pra Samantha, apenas fitava as paredes brancas do quarto.

– Preciso te contar umas coisas. – Samantha suspirou e fez carinho no rosto da sua filha. – Soube de toda a história de Marcelo, de Miguel, desse homem que seu pai já está caçando para honrar a morte de Miguel. – Os olhos de Ana estavam cheio de lágrimas e sua visão turva. Sentia que ia desmaiar a qualquer momento. – Filha, o Marcelo não terminou contigo porque não te amava mais... Ele foi hipnotizado pelo Miguel numa tentativa de te ter de volta. É bobo esse menino, né? – Samantha sorriu sem jeito. –

– Eu não acredito...

– Nem eu meu amor, nem eu.

– Como vou me perdoar?

– De pouco em pouco. Você tem pessoas ao seu redor que te querem bem. Não há o que perdoar, mas sei como você se sente. Estou aqui pra ti minha filha.

– E até onde o Marcelo está sabendo?

– Ele sabe meias verdades, contamos que você sofreu tentativa de assalto e Miguel ficou e acabou sendo morto. Ele te trouxe pro hospital e é somente isso que ele sabe.

– Estou enganando ele.

– Na hora certa ele saberá. Não faça nada que se arrependeras.

– Tu estás certa.

– Eu vou buscar um café que estou morrendo de cansaço. Já volto, ok?

– Mãe, vai pra casa. Eu vou me cuidar.

– Sempre fosse terrivelmente independente, filha. – Samantha sorriu ao ver sua "menina" –

– Eu sou uma Franco, afinal.

– Você é sim. – Ela deu um beijo na testa da filha. –

Do lado de fora do quarto, George estava sentado na frente de Marcelo, que olhava a cada um minuto para a porta do quarto para ver se abria. Estava ansioso para ver Ana e saber como ela estava em relação a tudo aquilo.

– Ela vai ficar bem filho. – George sorriu para o rapaz. – Não se preocupe.

– Tenho medo de ela levar nas costas a morte de Miguel. Ela se sentirá culpada para sempre e isso não é verdade.

– Você estará lá quando ela precisar? – George arqueou as sobrancelhas. –

– Se ela me quiser, vou estar sim, senhor.

– Bom, bom... – Ele sorriu para o rapaz. – Você não é de todo mal pelo jeito. Ela vai precisar de todo o apoio do mundo e isso pode vir de tu se quiseres. Mas preciso saber se aguentaras estar com ela nessa fase. Só vou permitir que ela continue nesse país por você, rapaz. Por mim ela já teria voltado comigo há meses. É claro que pela Mariana também, quero visitá-la mais vezes. Estava com saudade daquela bonequinha.

– Obrigada pelo voto de confiança. – Marcelo disse decidido. – Não vou estragar dessa vez. Sei o que eu fiz no passado e – Foi interrompido por um sorriso de George. –

– Meu filho, não se culpe.

– Como não posso me culpar? Eu fui um babaca com Ana e ainda hoje não entendo por que.

George buscou as palavras certas para aquele momento, não podia simplesmente dizer a Marcelo que ele fez o que fez por malinagem de Miguel. Contentou-se em usar poucas palavras para Marcelo que o olhava buscando conselho.

– Às vezes um homem faz o que acha necessário. Você vai se sair bem.