Capítulo XLII

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Era intervalo e Ana estava com a maior cara de choro, dizia a todos que era uma alergia que a pegou de jeito e pelo visto, acreditaram. Tomava um café quando viu Lucas e Jaqueline se aproximando da feiticeira com um meio sorriso.

– Que carinha é essa, Aninha? – Jaque perguntou enquanto se sentava ao lado dela e Lucas na sua frente. Ambos com os olhares preocupados para Ana. –

– Ah... Só um dia meio ruim. Logo passa.

– É em relação ao Marcelo? – Lucas perguntou enquanto eles olhavam para Marcelo e Paloma conversando no canto da sala dos professores. –

– Quando que não é? – Ana suspirou. – Ele me falou umas coisas hoje e não sei o que pensar. Uma hora ele me dispensa e outra fala que ter namorado comigo foi à melhor coisa. Eu sinceramente não entendo.

– Homens... – Jaqueline disse suspirando e foi repreendida com um olhar de Lucas. – É verdade! Vocês podem ser muito difíceis quando querem.

– O que eu faço gente? – Ana disse escondendo seu rosto em suas mãos. – E tem mais uma coisa... O Miguel me beijou hoje, na frente do Marcelo.

– Eita! Triangulo amoroso. – Lucas disse sem pensar. – Desculpa.

– Ah, é gostoso ser disputada por dois caras. – Jaque sorriu e novamente foi repreendida por outro olhar de Lucas. – Quer dizer, você gosta do Miguel?

– O amei por muito tempo e a companhia dele tem sido maravilhosa, mas eu ainda amo e muito o Marcelo, não quero magoá-lo.

– Barbaridade! – Lucas suspirou. – E agora?

– Não sei...

– Quer saber Ana? – Jaqueline pegou nas mãos gélidas da feiticeira. – Dá pro Miguel.

– Que? – Ana disse enquanto ria da fala da amiga. –

– Assim você pode esperar sentada pelo Marcelo... Sentada em outro.

– Você não presta, Jaque! – Ana riu. –

– Tu achas mesmo que eu fiquei esperando o Lucas voltar pra mim? Que nada guria, dei bastante e curti muito antes disso. Você deveria fazer o mesmo.

– E agora estamos bem felizes juntos. – Lucas sorriu. – É bom ter outras experiências.

– Como você sabe? – Ana perguntou envergonhada e olhou para a Jaque totalmente corada. – Eu disse que era segredo!

– Ah, qual é. – Lucas riu. – É romântico ter se guardado pelo amor da sua vida.

– Eu vou te matar Jaqueline! – Ana agora estava igual a um tomate de tão vermelha. –

– Desculpa Ana... – Ela disse sem jeito. – Casais não guardam segredos.

– E aliás, estávamos pensando. – Lucas disse, silabicamente. – Se você quiser experimentar com um casal gente fina aqui... – Ele deu melhor sorriso e Jaqueline também. –

– É sério isso? – Ana sorriu. –

– Claro. – Jaqueline assentiu. –

– Bem... Vou pensar! Vocês são incríveis, gente!

O resto do dia passou-se muito devagar, Ana não parava de pensar no beijo de Miguel, em Marcelo falando aquelas coisas pela manha e agora no convite dos seus amigos.

– Quer ajuda com isso? – Um rapaz disse ao ver a feiticeira se desdobrar em carregar umas sacolas de compra muito pesadas. Tinha ido ao mercado. –

– Fico agradecida, mas moro a uns quinze minutos daqui. Eu aguento.

– Eu te ajudo, não é problema. É uma judiaria mulher bonita ficar carregando peso por aí.

Uau. Foi tudo que Ana conseguiu pensar ao ouvir tremendo elogio.

– Então, você mora por aqui? – Ana perguntou ao rapaz que andava ao seu lado com algumas de suas sacolas. – Nunca te vi pela vizinhança.

– Eu na verdade, vim a pedido da sua mãe.

– Que? – Ela parou no meio do caminho e o fitou espantada. –

– Sua mãe está preocupada com você, Ana.

– Quem é você? Onde está minha mãe?

– Ela está ocupada e pediu pra eu vir no lugar dela. Chamo-me Israel.

– Eu sei me cuidar. – Ana pegou as sacolas e saiu pisando forte. –

– Ei! – Ele veio atrás dela, era fácil acompanhar os passos da feiticeira. – Não querendo ser rude... Mas se você soubesse se cuidar não aceitaria ajuda dum estranho.

– Ora seu- – Ele a interrompeu. –

– Israel.

– Eu não acredito nisso! – Ana disse enquanto continuava a andar. –

– Você não parece bem. – Ele deu um sorriso debochado. –

– E quem és tu pra falar se pareço ou não pareço bem? Não é da sua conta.

– Eu sou teu protetor por um tempo.

– Como assim?

– A pedido da sua mãe. Ela falou que sente que você está deixando seu coração ser roubado por dois homens. – Ana corou e fitou o rapaz com raiva. –

– Como ela pode achar alguma coisa se não está nem aqui?

– Mãe é mãe. – Ele deu de ombros. – Enfim, vou ficar um tempo com você.

– Não, você não vai. Se afaste. – Ana derrubou suas compras no chão e olhou para Israel com raiva. Estava prestes a usar sua magia para hipnotizá-lo. –

– Você acha mesmo que Samantha mandaria um mero humano pra te cuidar? – Ele deu risada. – Vou ficar com você, quer queira ou não.

– Isso é o que veremos.

– Pois sim.

Ana não estava com paciência para aquele homem petulante que agora andava ao seu lado. O que mais poderia acontecer de ruim? Ela não era uma criança e a falta de empatia da mãe a deixava extremamente irritada e principalmente magoada. Sua fúria momentânea a fez ter vários planos. Se sua mãe queria saber como ela estava depois de quase um ano, bem, ela mostraria.

– Chegamos. Agora pode ir embora. – Ana disse parando na frente da sua casa e pegando o moinho de chaves. – Não está pensando que vai dormir aqui, né?

– Eu tinha certeza. – Ele sorriu. – Eu estou aqui pra ser seu guarda costas, diria que quase um tutor. – Ele agora ria. – Você não tem opção.

– Não vou deixar um homem desconhecido dormir no mesmo ambiente que eu.

– É né, você simplesmente vai dormir na casa dele. – O rapaz deu de ombros. –

– Babaca.

– Sou seu anjo da guarda, meu bem.

A FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora