SIXTEEN

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Acordo no dia seguinte e percebo que a porta está aberta. Percebo também que há dois homens guardando a mesma. Já era de se esperar.
Sento-me na cama e uso um pedaço de pedra - que encontrei na minha primeira noite aqui - para marcar mais um risco na parede, qual eu estou contando o tempo que passo neste lugar.

Cinco dias. -sussurro à mim mesma, sentindo minha voz falhar.

Não consigo abrir o olho esquerdo, e quando levo a mão ao mesmo, percebo o corte aberto. Vejo hematomas horrivelmente grandes espalhados pelo meu corpo. Percebo o corte que ia por todo o comprimento de meu braço esquerdo e perna direita. Prendo o choro ao ver isto, eu vou morrer aqui.
Alguém entra no quarto, não demoro muito para reconhecer Husa. Ela se aproxima com uma maleta de primeiros socorros e uma muda de roupas íntimas.

– Meu pai não quer que eu venha aqui. -diz, sentando-se ao meu lado. - Mas eu possuo um coração, ele não precisa saber que eu vou te ajudar.

– Eu não quero a sua ajuda. -digo, encolhendo-me na cama.

– Seus machucados vão infeccionar. -alerta ela, largando a maleta entre nós duas. - Deixe-me limpar.

– Por que está me ajudando? -pergunto.

– Eu não odeio mais você.

– Me odiava por qual motivo, afinal? -rebato. - Porque achou que eu tinha algo com o YoonGi? Ou você acha que eu esqueci de quando você me "ameaçou" no meu primeiro dia aqui?

– Gosto do YoonGi, mas desde que você apareceu, sinto que ele não retribuiu mais o que eu sinto por ele. -ela está séria, posso ver sinceridade e arrependimento. Isso não me comove. - Mas nunca vi uma pessoa tão parecida com ele antes. Vocês parecem a mesma pessoa, obviamente, com diferenças físicas, mas... a alma de vocês, os pensamentos, o temperamento, as crenças... são iguais.

– Isso não importa. -digo, virando o rosto. As palavras dela me deixaram pensativa, sei que não vão sair da minha cabeça tão cedo, mas preciso manter-me firme.

– Posso te ajudar? -pergunta ela.

Assinto, então dou minha perna para ela limpar, afinal, era o machucado maior. Prendo os gritos por conta do álcool que ela passa em cada machucado, mas preciso ser firme, eu preciso resistir.
O último machucado limpo é o do rosto. Enquanto limpa, Husa chora.

– Por que está chorando? -pergunto, olhando-a no fundo dos olhos.

– Meu pai fez isso com você. -ela soluça. - Ele já foi um bom homem, um dia.

Dou de ombros, então ela passa um algodão com pouco álcool e faz os curativos em meu rosto.
Ela me entrega a muda de roupas íntimas e uma garrafa de 2L de água.

– Não posso te trazer roupas e nem comida. -diz Husa. - Mas trouxe água e roupas íntimas, percebo que meu pai rasgou as suas.

Assinto, então visto as peças sem me preocupar com Husa me olhando. Após me vestir, ela passa um spray sobre os hematomas, garantindo amenizar a dor. Fico em silêncio e ela sai do quarto.
Por que eu sou tão parecida com Min YoonGi? Tem de haver uma razão. Tem de haver uma razão para toda esta dor. Eu odiava a forma que YoonGi tratava as pessoas, odiava a forma que YoonGi era. Mas agora, sinto que estou igual à ele. Eu sinto que estou mudando, algo dentro de mim está em constante mudança e eu não sou capaz de impedir isso. Eu preciso sair daqui, sei que preciso. Sei que é impossível, mas algo dentro de mim está implorando para que eu resista. Para que eu me mantenha firme pois isso vai passar, mas eu simplesmente não consigo escolher no que acreditar. Se eu vou resistir até o último minuto, ou se eu preciso simplesmente desistir agora.

THE WRONG ANGEL » myg {1º temporada}Onde histórias criam vida. Descubra agora