THIRTY THREE

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" – O que acham de Busan?"

"– Gwangalli Beatch, eu apóio!"

"Lee's hotel. Minhas pernas amolecem em ver seu esplendor."

"– Onde eles estão?

– Provavelmente em Seoul."

"Um porão escuro e frio."

"Um velho imundo pondo um rato em minha boca. O gosto retorna, fazendo-me quase vomitar."

"O estupro."

"James."

"Suga."

"YoonGi"

"A cabana"

"Meu ódio."

"O esquecimento."

"Dias bons e vazios."

    A cena muda, pareço agora estar em um passado meio distante.

"– Mamãe, o papai vai voltar?
– Ele está resolvendo alguns assuntos."

"– Como é o nome dele?
– Lucifer."

"– Eu vou proteger você sempre. -dizia Taehyung. Estamos vestindo roupas de época então eu o reconheço. Meu amor de todas as vidas!"

"O carinho materno encontrado em Jin."

"– Você é meu anjo."

"YoonGi é um demônio. Ele está matando tantas pessoas. Mas não é nesta vida ainda."

"Hoseok cravando uma faca em meu estômago. Sinto a dor novamente, quase me fazendo cair."

"O ódio descontrolado pelos meninos no dia dos meus dezoito anos de outra vida."

    Agora eu entendo. A maldição é a mais cruel que há. Os meninos me têm como parte da família deles. Sou uma filha para Jin, assim como ele é uma mãe para mim. Sou uma irmã para os outros, assim como eles são irmãos para mim. Após dezoito anos de vida, e após conhecê-los - algo que não consigo evitar -, me revolto descontroladamente contra eles e eles têm de me matar.
    Eles têm que me ver morrer pelas mãos de si mesmos à cada dezoito anos! Eu nunca entenderei como é essa dor. É com certeza pior do que ser a que morre por eles.

    Taehyung... eu lembro-me dele. Ele é o garoto que se diz meu amor de toda e para toda a eternidade. Eu não consigo sentir o mesmo, não agora. Não ainda.
    YoonGi e eu temos uma relação de ódio de toda e para toda a eternidade. Eu nunca serei capaz de odiar alguém da forma que estou destinada à odiá-lo.

    Os outros garotos e eu somos uma família. Na verdade, sou uma família para os sete, mas quando se trata de Taehyung e Yoongi, vamos deixar o assunto em aberto, pois minha relação com eles não é tão familiar assim.
    Eu saio do transe.

    Olho para os lados tentando entender algo. Não sei se foi um sonho, uma impressão ou um flashback. Olho para YoonGi, percebendo seus olhos vermelhos e inchados.
    Desta vez posso sentir sua alma arder em tristeza. Eu preciso fazer alguma coisa! Dou um passo em sua direção e ele recua um passo também. Paro de andar e fico olhando-o. Lágrimas correm livres em seu rosto pálido, destruindo-me.

– Fique aí! -diz ele. Eu obedeço.

    Algo chama a minha atenção entre as árvores um pouco afastadas. Observo as borboletas que antes me propuseram aquelas sensações, agora se  afastarem, na direção das árvores que estão me causando calafrios.
    Identifico 6 pares de asas saindo de trás de um pequeno precipício que há no fim do campo das árvores. Tento me mover, mas meu corpo não obedece este comando. Olho para YoonGi e o mesmo parou de chorar e está respirando fundo, provavelmente tentando manter algum tipo de controle.
    Alguns pares das asas são brancos, perolados ou cinzas-claro; outros enegrecidos e dourados. Apenas duas têm coloração diferente, azul intenso e rosa bebê.

    Assim que os anjos que estão vindo tocam o solo e andam em minha direção, entro em mais um transe. Desta vez de meu pai.

"– Eu vou voltar para te buscar. Esteja preparada!"

    Disseram que Lucifer é meu pai, então este é o motivo para eu ter visto o diabo em meu minúsculo transe.
    Quando meus olhos encontram os do garoto de cabelos rosa desbotado, eu reconheço tudo. Tudo entra em minha mente como se uma caixinha tivesse sido aberta e eu entendo tudo.
    Os sentimentos que YoonGi me fez ter por ele não passaram de ilusões. Ele foi capaz de me fazer sofrer tanto hoje, por ter medo do que eu faria quando soubesse. Aqueles sentimentos têm de ter sido só ilusões. Não podem e não devem ser reais!

Jin omma... -sussurro, sentindo minhas pernas amolecerem e meus joelhos batendo contra a grama baixa. Começo à chorar como um bebê, de alívio, de raiva, de saudades, de tudo.

    Jin me abraça, e suas asas fazem o mesmo. Eu nunca chorei tanto. Estou gritando ao invés de soluçar, porque eu nunca senti tanta falta de alguém quanto senti desses garotos. 
    Tudo o que vivi nessa cabana em um ano faz sentido agora. Eu não sei o motivo, mas é como se todos os momentos que vivi ali, não passassem de meras lembranças sem sentido. É como piscar os olhos e ter um sonho rápido.

– Estamos aqui, Jheny. Estamos de volta! -Jin diz, afagando meus longos cabelos. Percebo o tom choroso de sua voz, e sinto todos os outros emocionarem-se também.

    Em uma questão de segundo, sinto meu corpo ser esmagado por vários corpos pulando em cima de mim. Meus garotos. Eles gargalham, choram e gritam, fazendo-me perceber e sentir a felicidade sincera que flui do corpo deles por simplesmente me ter de volta.

    Ficamos uns 20 minutos abraçados, até eu não conseguir respirar e eles saírem de cima de mim. Percebo então que meu corpo está cheio de roxos e mordidas. Não esqueci o motivo disso, então minhas bochechas coram levemente.
    Algo chama minha atenção há alguns passos de onde os meninos estão fazendo o interrogatório para mim.
    É ele!

    Olhos intensos e levemente arredondados, pele morena, cabelos loiros, lábios fartos e sorriso quadrado. Taehyung. O meu Taehyung.

    Corro até ele e pulo em seu colo, envolvendo-o em um abraço preciso. Ele retribui de imediato, apertando-me contra seu corpo e batendo a asas, tirando nós dois do chão.
    Espio para baixo e vejo todos se tornarem pequenos pontinhos até sumirem. Isto me lembra os dias que voei com YoonGi. Ele era tão arrogante e tão perfeito quando estávamos sozinhos, e estávamos sempre sozinhos.

    Olho para os olhos de Taehyung, então tomo este em um beijo cheio de amor, saudades e intensidade. Ficamos nos beijando no ar até meus pulmões pedirem ar, então paramos e eu fico pendurada no maior, fitando seus olhos.

– Sentiu minha falta? -pergunta ele. A vibração que sua voz grave emite, me faz estremecer.

– Eu senti a sua falta. -digo, sorrindo boba.

– Eu te amo. Me perdoe por não poder ter cuidado de você, eu não pude... -os olhos dele se enchem de lágrimas.

– Calma, Tae. -digo, mexendo em seus cabelos. - Eu entendo completamente. Vamos aproveitar nosso reencontro, e não ficar lamentando o passado.

– O passado faz parte da nossa história. -rebate ele.

– E o presente fará a continuidade dela. -concluo. Foi uma indireta, mas creio que ele não tenha percebido.

———¥———

    Estamos voando há quase uma hora. Não canso de conversar com ele e ouvir sua voz; sentir suas grandes mãos tocando meu corpo para não me deixar cair.
    Decidimos descer para falar com todos os outros, tenho que admitir que estou nervosa para vê-los. Ou para ver um deles em especial.
    Estamos descendo lentamente, ainda vamos levar uns 10 minutos para tocar o chão de acordo com a velocidade atual.

    Algo me vem à cabeça. Sinto que preciso fazer isso. Solto as pernas do tronco de Tae e os braços de seu pescoço, mergulhando de costas no ar, rumo ao chão.

THE WRONG ANGEL » myg {1º temporada}Onde histórias criam vida. Descubra agora