YoonGi e eu chegamos, mas ele não me deixa ver nada do percurso até aqui. Janelas fechadas, e nada de luz no interior do avião. Na hora de descer, ele me venda.
– Se você estiver me levando para algum precipício querendo me jogar dele, eu volto para matar você. -digo, mau-humorada.
– Eu não faria isso. -ele ri abafado. - Anjos sabem voar, sabia?
Essa frase... ela me arrepiou de uma forma diferente. Algo como se, eu já soubesse disso, mas só precisava lembrar. Ignoro a sensação e continuo andando com a ajuda de YoonGi. Sei que estamos em um lugar muito calmo, e há pássaros em volta. Parece uma... floresta. Paramos de andar quando chegamos em um solo de madeira. Uma varanda, eu acho. Respiro fundo, pronta para tirar a venda, até YoonGi me mandar esperar ali. Bufo, obedecendo. Ouço o som de uma porta se abrindo, então um cheiro de madeira úmida passa por minhas narinas, me proporcionando uma breve sensação de paz. Sorrio torto com aquilo, ignorando novamente aquela sensação repentina.
– Entre... -YoonGi sussurra com voz rouca.
Respiro fundo e entro, tateando as paredes para não errar a entrada. Por que esse idiota não está me ajudando? Paro ao lado de YoonGi, então ele anda até minhas costas e começa a retirar a venda lentamente, arrepiando cada fio de meu corpo.
– Não fique muito brava quando ver. -ele sussurra ao pé de meu ouvido.
– V-vamos logo com isso. -sem querer gaguejo e minha voz sai em um sussurro. Sua idiota! Seja mais forte, Jheny.
Ele retira a venda, então tenho a visão que menos imaginava ter um dia.
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– Y-YoonGi, o quê... -meus olhos se enchem de lágrimas. Não de felicidade. De desespero.
Corro até a porta de entrada, para ter uma pequena noção de onde eu estou. Meu coração falha ao ver.
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Eu não consigo dizer nada. Estou estática. Estou presa no meio do nada com um garoto que eu odeio e que pode fazer qualquer coisa comigo porque ninguém vai ouvir e nem ficar sabendo, justamente porque não tem ninguém aqui além de nós dois. Por favor, eu preciso estar apenas em um pesadelo.
– Jheny, e-eu...
– POR QUE ME TROUXE PARA CÁ? -grito, atrapalhando qualquer tentativa de explicações dele.
– Jheny, me ouç...
– YOONGI, EU TENHO UMA VIDA LÁ! -continuo. - POR QUE NÃO ME AVISOU?
– Vão ser só alguns dias. -ele tenta explicar.
– QUANTOS?
– O necessário.
Ele usa um tom diferente. "O necessário" significa muito tempo, eu entendi o recado. Mas por quê? Por que eu estou sofrendo todas estas coisas logo após os meus 18 anos? Por que logo comigo? Me aproximo de YoonGi, em passos lentos, sentindo minha visão embaçar pelas lágrimas. Estamos com os rostos quase juntos, mas eu só sinto nojo.
– Eu odeio você. -sussurro, olhando no fundo dos olhos do maior, sem afastar nossos rostos. - E nada que você faça... Nada que você tente fazer, vai mudar isto. Porque você me dá nojo. Nojo, Min YoonGi. -eu faço uma pausa, observando os olhos do maior marejarem. - Eu tenho nojo de falar com você. Tenho nojo de ter ficado um dia na sua casa sozinha com você. Tenho nojo de dividir o mesmo espaço com você. Tenho nojo de quase ter te beijado. Eu tenho ódio de você. E eu tenho ódio de ter te conhecido! -uma lágrima escorre na bochecha pálida de YoonGi, mas ele continua me olhando no fundo de meus olhos com a expressão firme, sem demonstrar a mesma fraqueza que seus olhos demonstravam. - E eu preferia vê-lo morto, do que vê-lo respirando em minha frente. Obrigado por me fazer te odiar.
Finalizo meu discurso sussurrado de ódio. Sinto meu coração mais leve. Eu não sei o motivo, mas o ódio que sinto por Min YoonGi está se tornando algo incontrolável... Até o mesmo decidir fazer alguma coisa.
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