2. Desire

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Sophie Davis

— Tenho que encontrar um jeito de me divertir. Qual é a sua nota?

Essa pergunta eu escutava sempre que ele dormia com uma garota. Justin estava morando no mesmo apartamento que eu há alguns meses. Eu estava prestes a responder, mas enquanto ele andava pelo corredor, vestindo uma regata preta, me esqueci de todos os meus pensamentos. Minha cabeça apagou, como sempre.

Depois daquele acidente na frente do meu prédio no final do ano passado, a gente acabou criando uma amizade estranha. Ele me trata como se eu fosse uma deusa, uma mulher que ele não pode mexer. E até que está funcionando.

Quando Beatrice foi morar na casa do Alfredo, acabei ficando sem companhia durante um tempo, até a menina que morava com o Justin pirar e jogar suas coisas no quintal enquanto ele estava em turnê com os meninos da banda. Justin acabou ficando sem onde morar e a primeira pessoa que procurou, foi eu. No começo eu queria matá-lo, eu atacá-lo durante à noite com muitos beijos. Mas, acabei me acostumando com sua presença e com as vadias que ele levava para casa.

Apesar de tudo, a visão daquele abdome malhado, das tatuagens que o cobrem e do piercing na língua, faz todas as minhas boas intenções e meus pensamentos virarem pensamentos sexuais. O que é desnecessário. Desviei o olhar e me obriguei a não respirar quando ele se inclinou por cima de mim para roubar a rosca que eu estava comendo.

Então ele esticou aquelas pernas malhadas cobertas por um jeans preto, bem na minha frente. Fui obrigada a imaginar como é que conseguiu entrar naquela calça. E passei um tempo obsceno imaginando como tirá-las.

— Que foi Sophie?

— Olha como você se senta. Não sou obrigada Justin.

— Está me desejando? — questionou erguendo a sobrancelha.

— Um homem malhado senta na minha frente com uma calça justa e pernas abertas. Você quer que eu fique normal? Sou mulher Justin, tenho as minhas necessidades. Não são só os homens que reparam.

Ele ficou em silêncio.

— O que foi que você disse?

— Nada. Quer dizer, nada além da verdade.

— Mudando de assunto, não é nem um pouco educado você ficar dando nota para cada menina que trago para casa.

Depois dessa, eu fiquei sem resposta.

— Um dia desses vai rolar uma nota dez e você não vai saber o que fazer.

Quem sabe essa nota dez, não seja minha nota? Perguntei no pensamento e deixando um sorriso escapar.

Coloquei as meu cabelo atrás da orelha, e olhei para ele por cima dos óculos. Ele fez uma careta que conheço bem, ele está pensando em algo e não estava a fim de falar. Sempre fico imaginando o que é.

— Onde você estava ontem à noite? Beatrice disse que você iria encontrar a gente no bar do Noah, mas você nem apareceu.

Limpei a garganta e fitei o chão.

— Saí com o Scot depois da aula. O convidei, mas ele não estava afim. Então pedi para me deixar aqui.

Ele ficou furioso. Justin não gosta muito do Scot, e o Scot odeia o fato de eu morar com o Justin. Tento manter os dois separados, já que Scot quer que a gente seja mais do que ficantes. Faz uns meses que a gente está saindo, e eu preciso dar um passo além ou terminar com ele, mas alguma coisa vive me impedindo.

— É claro que o Scot não estava a fim de ir. Quando é que ele faz alguma coisa que você queira fazer? Caramba, Sophie, larga de ser trouxa. Qual o mal em encontrar os seus amigos?

— Ele se sente intimidado Justin. Alfredo e Ryan não são muito simpáticos, e você adora tirar sarro das pessoas. Ia ser estranho, então prefiro evitar esse tipo de situação.

— Nós somos seus amigos, Sophie. Se ele quer ficar com você, não acha que precisa engolir isso e se acostumar com a gente? Ou pretende trocar a gente por ele?

O tom de voz dele dava a entender que aquele era um papo que se estenderia. Mas, como sempre, antes que eu pudesse descobrir mais informações, Justin mudava de assunto. Era sempre a mesma novela.

— Além do mais, se ele não quer aguentar eu tirando sarro da cara dele, não devia usar um suéter de tricô.

— O Scot é legal.

— Claro que você acha isso, vocês transam toda hora.

— Ciumes?

— Não viaja Sophie.

— Você não tem motivos. E outra, você perdeu sua oportunidade ano passado.

— De novo com esse assunto? Você estava bêbada.

Eu não estou agora. — paralisei ao perceber o que eu tinha dito. Burra!

Então ele passou a mão no meu cabelo, e foi embora. Fiquei o observando sem tirar os olhos dele, até ele sumir dentro do quarto. Só aí consegui respirar.

Justin não faz a menor ideia do que existe por baixo da Sophie que criei antes de mudar para cá. Ninguém faz ideia. Eu só tenho vinte e dois anos, mas parece que já vivi cem vidas nesse período. A menina que Justin jura ser tão diferente dele, é só uma ilusão que tento manter diariamente. Tê-lo tão perto de mim e tão presente põe à prova meu desejo de deixar a velha Sophie para trás.

— Ei! – resmunguei, quando um pano me acertou bem na cara.

Beatrice tinha acabado de chegar e me olhava com cara de quem sabe das coisas.

— Achei que você ia querer o pano, para limpar a baba que está escorrendo.

— Para com isso.

— O tempo todo. Sophie, parece que você está com uma onda de calor. Não sei como conseguem ignorar esse lance que rola entre vocês estando a centímetros de distância um do outro.

Abri a boca para dizer, mas ela me impediu.

— E não venha com esse papo furado de que são apenas bons amigos. Eu tenho amigos homens, e não olho para nenhum deles como se tivesse a fim de quebrar a cama. Do jeito que você olha para o Justin quando ele não está reparando, Sophie, você está doidinha nele. — sempre estive, pensei.

— Nós somos amigos, um não faz o tipo do outro e já te contei o que aconteceu ano passado.

Fico incomodada toda vez que vejo uma garota sair meio que tropeçando daquele quarto, mas me recuso a admitir.

— Vou correr antes de ir para aula – anunciei.

Coloquei roupas quentes para enfrentar o frio que faz em Denver e coloquei meus tênis de corrida. Correr me ajuda a clarear a cabeça. Coloquei meus fones de ouvido e selecionei músicas country. Gosto de música tranquilas, e a maioria das letras de country são assim.

Entrei no ritmo com o vento frio que batia em meu rosto e fui em direção ao Parque. Quando corro, gosto de bloquear tudo ao meu redor, mas não estava dando muito certo. Não posso ignorar que estou vivendo uma mentira. Ainda existe a antiga Sophie aqui, que às vezes grita para se libertar e voltar a ser como antes. São duas faces da mesma moeda, e parece que uma vai tacar fogo na outra.

All of MeOnde histórias criam vida. Descubra agora