Um.

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A musica estava alta, alta até demais.

Havia uma fila bem discreta de homens ali, mas logo desapareceram por entre a porta de entrada do salão.

Eu observava tudo em silencio, porque eu sabia que nunca entraria ali. Não era lugar para uma pessoa como eu. De jeito nenhum.

Todas as sextas - feiras me reunia com minhas amigas na pracinha em frente, conversávamos sobre diversas coisas, bebíamos e pagávamos diversos micos por conta do álcool a noite inteira. Eu era uma delas que vivia pagando mico.

Eu observava aquele vai e vem de gente entrando e saindo do salão discretamente, sempre olhavam para um lado e para o outro como se estivessem com medo de serem vigiados ou até mesmo seguidos.

Entre um gole e outro de minha bebida, observava algumas garotas chegando vestidas com grandes casacos onde cobria boa parte do seus corpos semi - nus. Eu sabia que tipo de clube era aquele e sabia muito bem como as mulheres de lá se vestiam.

Definitivamente não era pra uma pessoa como eu.

- A gente deveria ir qualquer dia desse ali dentro. - Lucy disse, fazendo com que todas nos olhássemos para ela.

Ela tomava mais um gole de sua bebida despreocupada enquanto olhava fixamente para mim.

Nenhuma de nós ousou falar nada. Olhavamos uma para as outras discretamente como se quiséssemos fala 'ela está louca?'.

- Qual é gente, estamos precisando fazer algo de interessante! - Revirou os olhos e tomou mais um gole de sua bebida quando percebeu que não falamos nada e nem tivemos qualquer ação a não ser olha-la.

Lucy era linda, linda do estilo modelo. Porém, era uma vadia de primeira.

- Não acho que seria uma boa ideia irmos ali. - Disse enquanto observava mais uma vez.

- Sabe qual é o seu problema? - Ela perguntou enquanto sorria de um jeito angelical.

Apenas balancei a cabeça negativamente. Eu sabia que viria aquelas respostas no qual você depois se perguntava o 'porque de ser amiga de uma pessoa dessas?', porém você nunca achava uma resposta que realmente valesse a pena.

- Você é muito medrosa. Tem que aproveitar a vida, senão vão aproveitar por você. - Ela arqueou as sobrancelhas e sorriu torto. - Duvido que você queira que alguém aproveite por você e ainda mais que seja o que é seu.

Eu odiava esse jeito dela.

Ela fazia com que as pessoas se sentissem desnecessárias.

Ela gostava de rebaixar as pessoas e nunca fizemos nada para para-la. Nenhuma de nos tinha coragem, afinal precisamos de Lucy Underwood para sermos populares ou pelo menos conhecidas.

- Já esta tarde, melhor irmos indo. - Digo me levantando do balanço já velho da pracinha.

- Vamos fica mais um pouco, não é mesmo meninas? - Lucy encarava uma por uma e logo pude ouvi leves vozes femininas dizendo - É... Vamos ficar mais um pouco... - aquilo era mais um efeito de Lucy Underwood. O que ela dizia, obedeciamos.

Acenei me despedindo delas, me enrolei mais em minha velha e lutadora jaqueta e caminhei pela rua já com pouca iluminação.

(...)

Faltava mais um quarteirão.

Falta cerca de sessenta casas ainda.

Falta cerca de dez postes te luzes.

Minha coragem já estava se esgotando. Odiava andar tarde sozinha na rua. Odiava todos os efeitos que o álcool poderia causar, principalmente o fato de está um pouco tonta por isso.

A rua estava coberta por sereno, não tinha barulho e nem se quer uma alma viva andando por ali.

Caminhei em passos largos e apressadamente, coloquei minhas mãos dentro dos bolsos da jaqueta e abaixei a cabeça para tenta me concentra apenas nos meus passos.

Num dos meus passos apressados, uma garrafa de vidro foi rolada até que parasse em meus pés. Abaixei curiosa e ao mesmo tempo cautelosa para ver se tinha algo dentro, porém estava vazia.

Me levante e olhei para os lados, mas meu coração disparou, meu sangue gelou e meu corpo tremeu quando uma sombra humana vinha em minha direção por trás.

Corri como numa.

O vento frio batia em meu rosto.

Alguns fios de cabelo caiam em meu rosto e ficavam grudados r eu não tinha nem se quer tempo para pensar em tira-los.

A pessoa corria em disparada atrás de mim.

O ar já não preenchia meus pulmões e eu não conseguia mais correr.

Olhei para trás e a pessoa não estava mais. A sombra não aparecia e nem se quer o corpo grande estava ali. Nada.

Continuei minha corrida desesperada até meu quarteirão. Apalpei meus bolsos afim de achar minhas chaves, porém não as encontrava, parei por alguns minutos para respirar e olhava atentamente para os lados.

Meu corpo já doía, principalmente quando eu respirava.

O vento frio batia em meu rosto e todo meu corpo se arrepiava de frio e de medo.

Minhas pernas tremiam e eu cheguei a achar que poderia cair a qualquer momento, porém arrisquei, me agaixei e apoiei minhas mãos em meus joelhos.

Respirei profundamente. Uma. Duas. Três vezes.

Quando me ajeitei e me levantei, um rosto mascarado estava a minha frente, vestia uma blusa preta e uma calça moleton preta, calçava um tênis próprio para corrida.

Eu gelei em sua frente, simplesmente esqueci como era que se respirava.

Ele estendeu a mão e pegou a minha, a abriu e coloquei as minhas chaves na palma da minha mão, logo depois fechou-a e a apertou junto a sua.

Lentamente ele tocou meu rosto com as pontas dos seus dedos gelados. Pegou uma mecha do meu cabelo que teimava cair sobre meu rosto e o colocou atrás da minha orelha.

- Tome cuidado, pode se machuca. - Dizendo isso, ele saiu andando sem ao menos olhar para trás.

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