Trinta e Cinco.

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New York
18:32 pm

Hoje

- Aqui está sua roupa. - Uma carcereira me entrega um macacão laranja.

Peguei de suas mãos sem vontade nenhuma, eu só queria sair dali o quanto antes. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente e eu pude sentir uma cair sobre o meu rosto.

- Onde vou me troca?

- Dentro da cela mesmo. - Ela deu um meio sorriso e abriu o portão da cela para eu entrasse. - Seja bem vinda ao seu novo castelo, princesinha.

Tirei peça por peça das minhas roupas, ficando apenas de roupa íntima. O frio que entrava pela pequena janela com barra de ferro e me deixava extremamente arrepiada.

Era um lugar razoavelmente médio, havia uma cama presa na parede na parte de cima e uma cama em baixo. Um travesseiro duro na duas camas e uma coberta fina dobrada em cima do travesseiro.

Estava tudo escuro, não dava para saber se nas outras celas tinha outras pessoas ou não. Tudo era extremamente silencioso, apenas se ouvia o barulho dos portões se abrindo e se fechando e depois voltava ao extremo silêncio.

Um barulho de latinha começou a surgir e algo bateu em meus pés me pegando de surpresa. Olho para o chão e uma latinha de milho em conserva estava aperta, um pedaço de papel estava pendurado nela e novamente o silêncio se instalou.

Darei apenas essa chance, não me decepcione ou ficará presa pelo resto da vida.

De repente algo comigo a vibrar debaixo de mim.

Jogo o travesseiro em qualquer lugar da cela, mas não estava ali, ainda posso escutar algo vibrando e o receio de mais alguém ouvir começa a me assusta.

Puxo o colchão na tentativa de arranco-lo dali, mas assim que eu puxo um celular cai no chão e a tela se acende, iluminando tudo.

Desesperada pego-o e vejo que tem três ligações de uma número privado e mais cinco mensagens.

Fique atenta a todos os sinais que eu te darei e instruções.

A partir de 00:00, você fugirá.

Deixei preparado a sua roupa e identidade para o momento certo.

Espero que dessa vez não me decepcione ou não terei dó.

Vamos ver até onde pode ir para salvar as pessoas que ama.

(...)

Estava tudo escuro, escuto a barras de ferro fazerem barulho e uma sombra correr para longe, me deixando ali sozinha.

A grade de ferro se abriu, sem fazer qualquer barulho.

Não pensei duas vezes e sair apressadamente.

Ainda de longe podia ver alguém vestindo roupas escuras correndo com extrema agilidade pelos corredores e eu apenas o seguia. Não tinha muito o que se fazer, não sabia o caminho de volta e tudo que me restava era segui-lo.

Descemos por uma escada de caracol e paramos em um corredor escuro, um lugar cheio de porta e extremamente vazio. Vi quando a pessoa entrou por uma porta a direta e eu a segui, mas quando cheguei lá, não tinha mais ninguém.

Era uma sala cheia de coisas, com cadeiras enferrujadas, mesa velha e várias caixas de papelão espalhadas, o cheiro de mofo estava presente ali e tudo era sombrio.

Uma estante com livros velhos tinha sido empurrada e um buraco na parede foi exposto.

Me abaixei e passei pelo buraco com certa dificuldade. Agora eu estava fora da prisão e perdida no meio do mato. O celular vibrou em meu bolso e rapidamente peguei.

Aqui faremos o nosso acordo. Se quiser se livra de tudo isso e salva as pessoas que tanto ama é melhor fazer tudo que eu mandar e dessa vez sem dar o pra trás.

Dessa vez pude responder:

Tudo bem. Mas não os machuque.

Prontamente a resposta chegou:

Você vai começar a sair toda a noite pelo mesmo caminho que eu te mostrei e vai começar a fazer as coisas que eu mandar.

Apenas balancei a cabeça concordando com tudo que estava escrito. Desta vez não tinha escolha e tinha que ceder, talvez assim, eu conseguiria dar um fim nisso tudo e sair da situação no qual me encontrava.

Estava tudo tão silencioso que eu poderia jurar que as batidas aceleradas do meu coração estava ecoando por toda parte, ou ele estava batendo em meus ouvidos, não sabia o certo, mas sabia que meu corpo estava misturado com adrenalina alta e o medo.

Sabia que mesmo ajudando no que fosse, estaria sendo vigiada vinte e quatro horas por dia.

Não tinha em quem confiar, muito menos em quem me ajudar. Meus pais estavam do meu lado, porém, eu sentia que eles não confiavam em mim cem por cento. Algo no olhar deles os entregava quando conversaram comigo pela última vez ao sair da delegacia e depois que fui transferida para o presídio.

Talvez pelo fato deles serem conservadores, colocariam a honra deles em julgamento pelos vizinhos e até mesmo pela polícia local. Esse orgulho que eles carregavam dentro de si poderia ser o motivo pelo qual não me apoiariam por muito tempo.

Estava sem saída, e me ver sozinha, naquela situação só me provou que eu nunca tive companhias confiáveis. E no final das contas a única pessoa que eu poderia confiar mesmo não querendo era a pessoa no qual me colocou nesse problema.

O celular vibra novamente entre meus dedos, me tirando do meus pensamentos assustadores.

Não temos tempo para pensar. Suas roupas estão atrás de uma árvore ao leste, vista-se para que podemos começar.

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