Capítulo 55 - Poucos sobreviventes.

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   Ryan não consegue respirar normalmente. Está abrindo a boca. Tentando falar algo, mas indaga antes que as palavras saiam. Ouço gritarias. O hospital inteiro parece virar um inferno.

   Isso não pode está acontecendo aqui. Fecho os olhos. Esperando que ao abri-los, tudo volte ao que era antes. Mas isso é real. Isso está acontecendo. Aqui e agora.

   Escuto vidraças quebrarem. Isso acontece em meio ao desespero que todos estão passando lá fora. Não consigo imaginar mais ninguém morrendo na minha frente. E muito menos ver.

Isso tem que acabar!

   Vou até o Ryan. Ainda está encolhido no canto da parede. O levanto. Limpo suas lágrimas. Ele está impressionado com algum acontecimento. Seus olhos dizem isso.

----Ei! ----chamo sua Atenção----Vamos sair daqui, tá legal?

----Uhum!---- ele não interage. Nem se quer pisca os olhos.

----Você fechou a porta? ----pergunto.

----Fechei ----ele consegue retirar poucas palavras em meio a soluços.

----Tá ----vou até lá para conferir.

----Não vamos sair nunca desse quarto. Não tem nenhuma saída ----ele dispara nas palavras.

----Não. Para com isso! Pense positivo, Ryan ----limpo uma outra lágrima que cai.

   Faço uma pequena análise nas "saídas" que nos restam. A janela é alta. É óbvio que não podemos pular. Seria suicídio. Escalar com lençois também não é nada bom. Não aguentariam o nosso peso.

----Ryan. Vamos sair daqui. Devemos ir para o próximo. Quarto, fica ao lado desse que estamos. OK? ----busco um ferro para quebrar a janela.

As moletas!

   Mas e o barulho? O vidro fará muito barulho. Vão saber que existe gente nesse quarto. Estamos ferrados. Quebrar a vidraça com certeza não seria uma boa ideia. Mas quem sabe o chaveiro do Ryan?

----Ryan ----ele me ouve atento.

----Oi.

----Você tem todas as chaves do hospital nesse chaveiro? ----Ryan continua me olhando.

----Tenho! ----ele retira o chaveiro do bolso.

----Perfeito. Me empresta, por favor ----estendo a minha mão.

   Ryan balança o chaveiro sem querer. Faz barulho. Fecho os meus olhos, esperando que ninguém tenha escutado isso. Mas parece que não. O cheveiro é enorme, deve possuir pouco mais de 100 chaves. O mais novo problema era: achar a chave que abrisse o cadeado da janela.

Começo a fazer os testes. De uma por uma. Vou procurando aos poucos, daí percebo que todas as chaves estão numeradas. Em seguida, olho para a janela, procuro o número do cadeado, é o 92, daí vou até a chave de número 92. Tento abrir. E consigo.

----Ryan, consegui ----susurro.

----Tá, agora abre bem devagar pra não fazer barulho ----ele me alerta.

----Tá bom!

   Começo a puxar a janela de vidro claro e brilhante. Seu peso é exorbitante. Não consigo abrí-la sozinha, mas o Ryan me ajuda. Seu tom de romantismo me surpreende. Ryan desliza seus dedos nos meus braços e abre a janela junto a mim.

----Muito bem! Vamos escalar até o próximo quarto, tá? ----aviso e ponho minha perna esquerda para o lado de fora.

----Sarah! ----Ryan está novamente assustado.

----O quê?----volto o meu olhar para ele.

----Tem alguém batendo na porta. ----aponta ele.

Tento me concentrar nas batidas. Uma voz chama do outro lado. A voz é grave. E está muito baixa.

----Quem está aí? ----pergunto.

Ninguém responde.

----Quem está aí? ----persisto.

A porta parece aos poucos ser perfurada. Uma faca arromba a fechadura. Continua. Daí percebo.

----Ryan, vem!!! Ryan vem, escale o mais rápido que puder.

   A porta não aguenta, logo é brutalmente arrancada do seu posto. Além dela surge um homem alto e forte, com uma faca em uma das mãos, e uma injeção letal na outra. É ele. É o Jeff que está ali de pé.

   Ele ergue a faca. Droga. O Ryan está logo atrás de mim. Apresso meus passos, estou agora escalando o alto de um hospital. O próximo quarto está a pelo menos 7 metros. Ryan vem logo atrás, achava que ele estava a salvo. Até o maldito Jeff puxá-lo de volta para a janela.

----Ryan, não!!!!----não posso fazer nada por ele, isso me faz entrar em desespero.

   Jeff pôe o Ryan pressionado sobre a janela, puxa a faca, e detalhadamente perfura um dos seus olhos. O sangue espirra por sobre a vidraça, o Ryan ainda está consciente. Ele grita de dor. Desespero. Amargura. Talvez ódio. Mas grita alto.

----Jeff, para, por favor! Eu sei que você pode me escutar. Sei que ainda existe alguma bondade aí dentro de você. ----tento acalmá-lo.

Jeff para. Me olha atentamente agora.

----Deixe o Ryan. Deixe-o em paz. ME DEIXE EM PAZ!!!----grito.

   Jeff se precipita. Parece adquirir fúria. Ryan tem o rosto ensangentado, e agora, jogado contra o vidro da janela. A vidraça se divide em muitos pedaços. Um deles é usado pelo Jeff para perfurar o outro olho de Ryan. Quase morto, o Ryan ainda sente a minha presença , e antes do seu último suspiro, ele grita.

----Sarah, saia daqui!!!

----Ryan, eu não posso...

----Saia agora, Sarah!!!----ele se desespera.

----Ryan, por favor...----estou com medo.

----Sarah, vaai!!!! ----
grita a sua última palavra antes de dar o seu último suspiro ao ser jogado pela janela do último andar.

----RYAN, NÃOOO!!!! ----vejo seu corpo "se abrir" quando bate no chão.

RYAN ELIMINADO.

"MUITO SANGUE SERÁ DERRAMADO"

               Guilherme Mendes.


  

A Cabana do Bosque (Saga)Onde histórias criam vida. Descubra agora