Capítulo 57 - Infectados.

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----Alice!----sussurro novamente.

----Sarah...?----ela não está normal, está vendo algo que eu não estou.

----O que está vendo? Me diz!----tenho medo da resposta que posso receber dela.

Seus lábios se contorcem, ela morde a pele da boca, fixa os olhos em mim. A expressão da Alice é assustadora, o que ela viu? O que ela realmente viu?

----O que você viu, Alice?----me aproximo da janela, mas me falta coragem, me falta o essencial. Como quero sair desse hospital viva se não tenho coragem? Penso.

Alice pega algo do bolso da sua calça, é algo pontiagudo, na primeira vez não consigo ver nitidamente, mas quando o objeto entra em contato com a luz, percebo que o que ela segurava era um bisturi.

----Alice, não faça isso!

Ela leva o bisturi ao próprio pescoço.

----Você não precisa fazer isso! Não precisa! Você tem a mim. Vamos sair dessa juntas. Juntas, tá bom?

Alice não reage, e continua a levar a lâmina para a sua garganta.

----Pense na sua carreira. Na sua família. Na sua idade, o mundo é enorme, você ainda tem muita coisa para conhecer, para viver, aproveitar.

Ela trava. Soluça. Me olha. Pensa nos malefícios. Nos danos.

----Me diz! O que te deixou assim?----questiono-a.

Alice viu alguma coisa, ela não queria dizer. O que seria? Algum tipo de hipnose...? Alucinação...? Um vírus...? Algum tipo de contaminação...? Em um hospital, isso seria mais do que possível.

----Esse hospital é contaminado!----alguém me alerta. Alguém que não é a Alice.

Olho para o lado. Era o paciente. Ele me olhava, algo não estava bem com ele, nem com a Alice. Os olhos do cara estavam vermelhos como fogo. Sem brilho. Mortos. Alice se sentou no chão.

----Contaminado?----pergunto, não acreditando no fato.

----Sim. Esse hospital é maldito! Saia enquanto é cedo!----ele engasga, parece está bem doente.

----E como as pessoas ficam contaminadas?----pergunto.

----Basta ter contato com alguém que esteja infectado, contato corporal e respiratório, mas que esteja perto da pessoa. É melhor usar máscaras e luvas hospitalares----ele adverte.

Ouço o homem. Busco as máscaras e luvas, acho algumas dentro de gavetas. Para prevenção, as coloco. Continuo ouvindo o jovem falar. Ele agora passa a tremer e espirrar. Está infectado.

Será?

----Que droga!----ele se remexe muito, entra em agonia.

----O que foi?----olho para a cama em que o garoto se encontra.

----Esse lençol incomoda.

----Quer que eu tire?----tento tranquiliza-lo.

----Por favor!----ele geme.

Vou até ele em meio a passos curtos e silenciosos. Alice olha para mim. Eu chego até a cama do paciente, que está aflito. Toco no seu lençol branco com ajuda das luvas. Aos poucos, retiro dele toda a coberta. Mas o que encontrei por baixo dela não foi nada convincente.

----Ai meu Deus!----tapo a minha boca.

O cara estava amarrado. Completamente preso naquela cama. E o ferro da cama que pressionava o seu braço rasgava a sua pele, muito sangue se destacava no lençol esbranquiçado. Sua carne estava em decomposição, aquele garoto estava contaminado!

Me afastei dele. O fedor da sua carne podre se manifestou pelo quarto. Percebi isso porque a Alice tentava tapar o nariz. Eu já estava de máscara a muito tempo. Droga! Então foi ele que infectou a Alice. Não poderia ser real!

----Me tire daqui! Me tire desse maldito hospital! Me tire desse inferno!----o cara gritava.

Não sabia qual decisão tomaria.

----Cale a boca!----gritei.

Todos deram uma pausa. O silêncio me ajudou a pensar.

----Sarah!----Alice chamou.

----O quê?----coloco minha cabeça por entre os ombros e a escuto.

----Precisa me aplicar uma injeção. Rápido!

----Como vou fazer isso?

----Não fale nada. Só faça o que eu falo.

----Tá. Onde está?

----Nesse armário----ela aponta para o móvel que está bem no canto da parede.

----Ok!----vou em busca da injeção. Era uma chance para que a Alice sobrevivesse. Eu precisava salvar a vida da Alice. Eu precisava salvar a vida de alguém pelo menos uma vez na vida.

Corri.


A Cabana do Bosque (Saga)Onde histórias criam vida. Descubra agora