Oi <3 Tudo bem com vocês?
Meredith e eu conversamos até as cinco da madrugada e acabamos dormindo ali mesmo, no meu sofá, que é pequeno, ainda mais com as tendências espaçosas que ela tem. Quando acordei perto das onze, Mer tinha parcialmente me jogado para fora do sofá. Suas pernas estavam em cima das minhas, cabeça no meu ombro e uma mão no meu rosto. Levantei com cuidado, desfazendo-me do seu enlaço estranho e fui fazer café. Soltei um bocejo de sono e cocei a cabeça. Demorou um pouco para eu acordar de verdade e mesmo assim não podia dizer que estava totalmente lúcida. Sempre demoro mais do que o restante das pessoas ao meu redor para despertar totalmente.
Apesar de estar dolorida, foi uma boa noite de sono – melhor dizendo, algumas horas de sono – e tive um sonho estranho com meus pais. Um fragmento de uma conversa de anos atrás. Ao mesmo tempo em que foi reconfortante, me deixou com a pulga atrás da orelha sobre o porquê de ter sonhado com isso justo agora.
O sonho começava comigo chegando da escola, talvez com quinze ou catorze anos. Estranho como alguns detalhes estavam tão vívidos na minha mente, eu me lembrava até da roupa que estava usando, jeans e uma blusa de verão florida.
– Como a gente sabe que tá apaixonada? – perguntei para minha mãe pendurando a mochila numa das cadeiras da cozinha. Tinha feito essa pergunta porque, Letícia, uma amiga de escola da época, tinha mais uma vez reatado com o namorado. Eles viviam brigando, mas sempre voltavam um para o outro. Um dia desses entrei no Facebook e dei de cara com uma foto dos dois. Estavam noivos. Noivos! Quem diria que mesmo com tantas idas e voltas os dois continuaram juntos anos depois?
– Algum motivo especial para essa pergunta? – minha mãe ergueu a sobrancelha curiosa e pensativa ao mesmo tempo.
– Espero que não! – meu pai surgiu dos fundos da casa me assustando. Ele era insuportavelmente bom em aparecer do nada, sem que ninguém percebesse. – Está cedo demais para querer saber disso, não acha?
Assim como eu, minha mãe rolou os olhos. Inacreditavelmente meu pai ainda me faz a mesma pergunta. Acho que para ele sempre vou ser nova demais para me envolver com alguém, mesmo quando tiver oitenta anos.
– Carter! – minha mãe abriu a geladeira pegando uma garrafa de água gelada, servindo um pouco da mesma num copo. Era verão e os dias de verão em Pelotas, e em todo sul normalmente, são quentes e sempre com temperaturas altas e insuportáveis. – Não seja intrometido e aliás, tu não estava dormindo? Tenho quase certeza que te ouvi roncar quando fui no quarto pedir ajuda para limpar a sala.
Meu pai riu.
– Sonambulismo.
Bebericando um pouco da sua água, minha mãe riu.
– Então refaça o caminho e volte a dormir.
Ri baixinho, quando ele pegou a garrafa de água das mãos dela, soprou um beijo para mim e obedientemente fez como ela mandou. Meus pais eram estranhos, lembro-me de pensar isso e ainda hoje continuo com esse mesmo pensamento em mente.
– A Letícia e o Rodrigo voltaram como à senhora disse que aconteceria – falei.
– Fiz bolo enquanto tu tava na aula – disse ela, apontando para o forno. – Mais alguns minutos e já já fica pronto, mas tem suco de laranja na geladeira, toma um pouco enquanto isso.
Meu estômago roncou tão alto que minha mãe ouviu. Fiz menção de ir pegar o suco, mas ela me impediu.
– Lava as mãos, primeiro! – censurou, como só as mães conseguem fazer.
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Era Pra Ser Você
ChickLitJasmim Sanclair é uma estudante de design fazendo intercâmbio em Nova York. Depois de ser assediada pelo antigo chefe, perder o emprego, ser barrada nas aulas e quase não ter mais um lugar para morar ela já deveria saber que nada seria fácil em sua...