Segundas-feiras são sempre as piores

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Oi <3 

Desculpem o sumiço, fiquei organizando algumas coisas importantes na história, como a viagem para Chicago e a volta da Jas para o Brasil. 

Boa leitura e um beijo procês <3 

****

A segunda feira estava pouco a pouco se provando uma completa decepção. Exatamente como quando você encontra um pote de sorvete na geladeira e se anima, só para descobrir que o conteúdo é feijão. O despertador não tocou, meu banho estava gelado, Thor, sabe-se Deus o porquê, resolveu fazer suas necessidades fisiológicas ao lado da minha cama e não em sua caixa de areia como o habitual. Além disso, o metrô estava cheio e precisei fazer o caminho todo a pé. Para ser honesta, o único momento em que minha manhã ficou minimamente melhor foi quando recebi uma mensagem de texto de Will, desejando-me um bom dia. Estranhamente me senti distante e de certa forma culpada, tanto que até coloquei o celular de volta na bolsa sem responder.

Embora a empresa estivesse calma, o semblante de todos os funcionários se assemelhava ao meu, isto é, desânimo puro. Claro que por preocupações diferentes das minhas, pois eles não estavam preocupados assim como eu em encontrar com Mabuchi. Com um suspiro, acenei para Cathelyn, a garota da recepção, que faça chuva ou faça sol está sempre sorrindo.

***

Mabuchi agia como se nada tivesse acontecido. Como se nós dois não tivéssemos nos beijado, como se sábado não tivesse existido. Meu sangue estava fervilhando de raiva e contestação e eu sequer conseguia entender o motivo. Não era o que eu queria? Que tudo fosse esquecido?

Perto da hora do almoço recebi uma nova mensagem de Will, dessa vez ele perguntava se o nosso almoço ainda estava de pé. Olhei para a porta fechada de Mabuchi e mordi o lábio.

Sim, ainda estava.

Se eu tivesse cancelado com Mer e saído com Will não estaria nessa saia justa. A verdade é que Will e eu não tínhamos nada, mas ainda assim eu me sentia desconfortável por ter beijado alguém – principalmente por esse alguém ser meu chefe – e por ter tão descaradamente flertado com ele.

Ainda faltavam quinze minutos para a pausa do almoço começar oficialmente, mas como Mabuchi mal tinha saído de sua sala, presumi que não faria e disquei o número de Will.

– Ei! – eu sorri, girando em minha cadeira. – Tudo bem?

– Melhor agora! – Will respondeu. – E com você?

– Galanteador! – debochei com um rubor aquecendo minhas bochechas. – Estou bem também. Hum... você já sabe onde vamos almoçar?

Esperei sentir a emoção e o nervosismo que normalmente aparecia quando eu falava com ele, mas não senti, irritada com isso resmunguei um palavrão.

– Espere! – Will riu surpreso. – Isso foi para mim?

– Não! – o som alto da minha voz me assustou e me encolhi na cadeira temendo ter chamado à atenção de Mabuchi. Olhei para a porta ainda fechada e soltei o ar preso nos pulmões, aliviada.

– Não! – repeti dessa em um tom de voz mais baixo. – Era porque – balancei a cabeça, calando a boca ao perceber que não havia como me explicar. – Deixa pra lá, não é realmente importante. Eu passo na livraria ou você vem me encontrar?

– Encontro você.

Sorri.

– É um bom encaixe! – apertei algumas teclas e salvei o arquivo em que eu estivera trabalhando nas duas últimas horas, feliz por finalmente ter acabado. – O que está fazendo? – eu quis saber ao ouvir alguns sons do outro lado da linha.

– Temos muitos livros guardados e sem uso. No último mês houve um erro com um dos fornecedores e a livraria recebeu muitos exemplares repetidos...

– Mas isso não é normal? – interrompi. – Exemplares repetidos, quero dizer.

– Até certo ponto sim, perfeitamente normal, mas existe um limite.

– Ah, entendi. E o que pretende fazer com o excesso?

– Doação – comentou calmamente. – Passei boa parte da manhã ocupado com isso. Ainda não sei para qual lugar vou doar, mas provavelmente será para algum orfanato ou escola.

Minha boca abriu e fechou, mas as palavras não saíam. Era tão incomum alguém fazer algo pensando no próximo, sobretudo no mundo de hoje onde a moda é ser egocêntrico e frio. Pelo pouco que eu conhecia Will, sabia que ele não estava falando aquilo com o intuito de ganhar pontos comigo e me levar na lábia, fingindo ser algo que ele não era, como alguns caras babacas fazem, e isso só o tornava mais atraente aos meus olhos.

Um largo sorriso se espalhou pelo meu rosto.

– Estou realmente ansiosa para encontrar com você, Will – falei sorridente, feliz pelo frio na barriga ter voltado. Mas meu sorriso rapidamente sumiu quando olhei para cima e vi Mabuchi de braços cruzados, encostado em sua porta, agora aberta.

Jesus me proteja.

– Preciso ir, Will! – murmurei para ele, sem tirar os olhos de Mabuchi. – Até daqui a pouco!

Afastei o celular da orelha, preparando-me para o sermão que com certeza viria. Eu e Mabuchi abrimos a boca para falar ao mesmo tempo, mas ele foi mais rápido e falou primeiro.

– Eu não pago você para ficar de namorico no telefone.

Namorico? Quem diabos ele achava que era falando daquele jeito? Meu pai?

– Eu não estava fazendo isso! – defendi-me. – Já tinha acabado meu trabalho.

Mabuchi puxou seu pulso para cima e consultou as horas em seu relógio.

– Ainda faltam dez minutos para a sua pausa começar.

– Eu já tinha acabado todo o meu trabalho – repeti rangendo os dentes.

– Espero mesmo que sim, ou...

– Ou o quê? – explodi. Não era justo que eu tivesse dormido tão mal nas últimas duas noites e ele estivesse tão firme e inalterado na minha frente. – Você é o meu chefe não meu dono.

Minhas palavras o acertaram em cheio, pois Mabuchi de repente ficou inquieto, finalmente parecendo um ser humano e não um robô movido no automático.

– Eu não disse que...

– Agiu como se fosse! – rosnei. – Dá na mesma.

Soquei algumas teclas aleatórias do teclado, fingindo digitar algo. Mesmo com a cabeça baixa eu sabia que Mabuchi não havia se movido um centímetro sequer.

– Isso é por causa de sábado? – ele perguntou.

Minhas bochechas ruborizaram. Até meio segundo atrás ele estava fingindo que nada havia acontecido, porque estava trazendo isso à tona?

– Não! – respondi ainda digitando algo imaginário no teclado. – Não é sobre sábado.

– Eu... – iniciou ele. Ergui a cabeça e esperei que continuasse, completamente divertida com seu desconforto.

– Você o quê? – incentivei quando ele permaneceu em silêncio. Deixá-lo sem palavras era algo raro e em qualquer outro dia eu teria aproveitado cada segundo com satisfação, mas hoje não. Hoje eu queria que ele falasse. Queria que ele fosse tão odioso quanto possível para que eu pudesse tirá-lo do meu sistema.

– Está arrependida? – sua voz era dura e suave ao mesmo tempo e eu não sabia como isso era possível. Era confuso de entender. Mabuchi era confuso de entender.

– Você está? – perguntei trancando a respiração.

Bom Deus, no que eu estava me metendo?

Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora