Coloquei a gargantilha que Chase me deu e forcei um sorriso calmante para mim mesma. Ter estado com ele ontem foi bom para me distrair da quase loucura em que me encontro, por causa da minha apresentação de TCC. Hoje, porém, meus pensamentos confusos voltaram.
– Tá tudo bem! – eu disse, encarando o espelho do meu quarto, enquanto acabava de me arrumar. – Você deu o seu melhor e tudo vai correr bem.
Alisei meu vestido e respirei fundo, pegando tudo o que eu precisava levar para a faculdade, o tempo todo lutando para controlar o nervosismo. Quando me certifiquei de que tudo que eu precisava estava comigo, dei um beijinho no nariz gelado de Thor e fui para a estação de metrô. O céu estava azul e brilhante. Sorri lembrando que minha mãe ama dias assim.
Uns bons minutos depois eu já estava sentada no trem do metrô, feliz por saber que não iria me atrasar. Entretanto, quando entrei na sala de áudio visual e encarei meus professores, desejei ter me atrasado, e também desejei ser uma daquelas pessoas que tem coragem de fingir ataques, para fugirem de situações complicadas.
– Bom dia! – saudei a todos, cogitando seriamente em fingir um desmaio.
Uma hora e meia, muitos slides e um quase ataque cardíaco depois, eu estava sendo aplaudida pelos meus professores. Mesmo o meu orientador, que raramente sorria, parecia satisfeito. E caramba, meu coração estava tão agitado que eu poderia mesmo sofrer um infarto, bem ali na frente de todos.
– Você fez um bom trabalho! – ele me disse.
Balancei a cabeça sem conseguir expressar em palavras o quanto estava feliz.
– Obrigada! – foi tudo o que consegui responder.
Pouco a pouco meus professores foram saindo e a sala foi ficando vazia, até que restei apenas eu. Quando tive certeza de que não havia mais ninguém por perto, dei um gritinho feliz e sorri. Tudo tinha corrido bem. Ou pelo menos eu esperava que sim, já que o resultado sairia junto com os das provas finais. Em dois dias. Na quarta feira.
Pesquei meu celular da bolsa e pausei. Para quem eu ligaria? Meus pais? Meus amigos? Um nome apareceu na minha mente. Eu queria ligar para Mabuchi, queria contar que fui elogiada e que recebi aplausos, mas aí pensei que ele sequer se dignou a me mandar um e-mail, desejando-me boa sorte ou qualquer coisa parecida. Desisti. Estava acabado.
Oficialmente.
Depois que eu me formasse e embarcasse de volta para o Brasil, nossas lembranças de Chicago sumiriam. E mesmo se eu quisesse me lembrar de tudo o que aconteceu entre Mabuchi e eu, de que adiantaria, já que eu estaria em outro país? Suspirei resignada a não pensar mais nisso, para não estragar minha felicidade. Era imensamente importante, para mim, encerrar aquele ciclo da minha formação com alegria e Mabuchi não estragaria isso.
Você precisa resolver isso, minha mente disse. Relutante, concordei que precisava, pois minha garganta estava queimando para derramar coisas engasgadas no meu peito.
***
Cumprimentei os seguranças da empresa com um sorriso, ao passo que eles responderam com seus habituais acenos de cabeça.
– Jasmim! – Cathelyn, a recepcionista do hall de entrada sorriu. – Atrasada de novo?
Tentei não demonstrar quão afetada estava e sorri, balançando a cabeça.
– Dia de folga, mas preciso entregar alguns arquivos – menti, encolhendo os ombros.
Não ouvi sua resposta, porque comecei a caminhar em direção aos corredores, e também não prestei atenção nos empresários conversando dentro do elevador. Tudo que eu pensava era no porque estava ali.
Os números foram aumentando pouco a pouco no painel, até que as portas se abriram para o hall de entrada da sala da presidência. Sentada no lugar que era meu, de segunda a sexta, estava uma mulher loira na faixa dos trinta. Seu olhar se ergueu quando o elevador abriu e eu pisquei atordoada.
– Você tem horário marcado? – indagou, com um sorriso hospitaleiro e franzindo a testa, provavelmente se perguntando porque Cathelyn tinha me deixado subir sem que ela autorizasse.
Balancei a cabeça encarando-a.
Que diabos ela estava fazendo ali?
– Eu sou a secretária dele – respondi. – Ou era! – dei de ombros sem entender. Ergui minha pasta e acenei com ela no ar. – Trouxe os documentos que ele pediu – repeti a mentira.
– Ah – ela assentiu, ficando de pé. – Eu entrego. Obrigada.
– Pode dizer que Jasmim está aqui? – acrescentei, ignorando sua mão esticada.
– Um segundo – seu sorriso se tornou menos simpático, mas não me importei. Tirando o telefone do gancho ela apertou uma das teclas e esperou que Mabuchi atendesse. – Alô senhor, Jasmim...
– Desculpe, como é mesmo seu sobrenome?
– Sinclair.
– Jasmim Sinclair está aqui e... – seus olhos pousaram em mim quando ele respondeu algo.
– Claro, imediatamente – concordou ela desligando. – Você pode entrar.
A porta se abriu, antes mesmo que eu encostasse na maçaneta. E, mesmo tendo-o visto na sexta, isso não impediu algo dentro de mim explodir em borboletas.
– Quem é ela? – perguntei, pigarreando.
Mabuchi encolheu os ombros sentando em sua cadeira, me analisando com cuidado.
– Elizabeth, ela é uma das estagiárias do administrativo.
Estagiária? Quer dizer que eu não fui substituída?
– Ela vai ficar no seu lugar só por hoje – acrescentou como se lesse meus pensamentos.
Assenti lentamente.
– Ah.
– O que você pensou?
Encolhi os ombros em silêncio.
– Não sei ao certo – sentei em uma das cadeiras em frente sua mesa e suspirei. – Como está Ellie?
– Hoje é seu dia de folga – começou ignorando minha pergunta. – Porque está aqui?
Eu também gostaria de saber.
– Tudo correu bem no meu TCC – falei com cuidado. – O que significa que a formatura será em breve – dei de ombros. – Por isso estou aqui.
– E o que mais? – perguntou.
Entrei em modo defensivo.
– Como assim?
– E por que mais está aqui?
Apertei a pasta entre as mãos.
– Quer que eu vá embora?
– Não. Eu quero saber se o fato de estar aqui significa que tudo está bem entre nós. Na minha casa as coisas ficaram um pouco...
– Não quero falar sobre isso – avisei. – Eu estou aqui porque provavelmente tenho apenas mais uma, duas semanas, sendo esperançosa, em Nova York e quero aproveitar isso ao máximo.
Mabuchi me encarou por uma batida inteira e então riu.
– Você é mais inconstante que...
Rolei os olhos.
– Me beija logo – interrompi, surpreendendo a mim mesma.
– Não consigo decidir qual de nós dois é o mais insano – murmurou. Mas estava sorrindo quando seus lábios encostaram nos meus.
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Era Pra Ser Você
ChickLitJasmim Sanclair é uma estudante de design fazendo intercâmbio em Nova York. Depois de ser assediada pelo antigo chefe, perder o emprego, ser barrada nas aulas e quase não ter mais um lugar para morar ela já deveria saber que nada seria fácil em sua...