Voltei <3 O segundo capítulo que prometi sai até amanhã!!!!
*
Pasma diante da situação, eu rapidamente criei duas teorias.
Mabuchi queria me testar, ou me matar.
Por qual outro motivo ele tão gentilmente acataria a situação na qual o universo tinha lhe colocado sem lutar contra? Mabuchi não é exatamente o tipo que cede facilmente e naquele momento ele estava se comportando desta maneira, isto é, grosseiramente exigente, mas ao mesmo tempo havia um leve sorriso em seu rosto. Não fazia sentido e minha cabeça estava praticamente fumaçando, tentando achar um argumento capaz de explicar a atitude dele.
– Você me ouviu? – Mabuchi fez a pergunta olhando diretamente para mim.
Seus olhos franzidos deram-me a certeza de que a minha conversa interior comigo mesma estava acontecendo há mais tempo do que eu havia imaginado.
– Não! – resmunguei, sem saber ao certo o que ele queria dizer. – Não ouvi.
– Eu disse que posso dormir no sofá. Você fica com a cama.
Abri a boca para argumentar.
– De qualquer forma – ele prosseguiu, sem se importar com o que eu estivesse prestes a falar – não acho que o hotel vá demorar muito para normalizar essa situação. A única razão para não trocarmos de hotel é porque o encontro com os representes irá acontecer em algumas horas e você precisa descansar.
Quis rolar meus olhos. O nervosismo e o cansaço emocional se instalavam pelo meu corpo, o que era compreensível, mas eu não entendia porque estava tão irritadiça, só que estava. E muito.
Mabuchi ficou sério.
– Se sua preocupação é que eu me aproveite de você, ou qualquer coisa semelhante... – ele pausou e desviou o olhar. – A situação está longe da ideal, mas posso garantir que qualquer contato que tivermos nessa viagem será estritamente profissional.
Parte minha não queria admitir o quanto suas palavras me deixaram aliviada e ao mesmo tempo decepcionada. Tudo estava muito confuso.
– A situação está longe da ideal! – repeti nervosa. – O senhor deve entender que, se alguém da empresa descobrir que compartilhamos o quarto, outra versão dessa história pode ser criada, não é mesmo?
Eu não tinha medo de que ele investisse em mim de maneira inapropriada. Eu podia conhecê-lo pouco, mas já tinha esbarrado em mais idiotas do que gostaria e estava ficando craque em reconhecê-los. Mabuchi não era um deles. O problema era o que os outros pensariam. Por experiência própria, eu já imaginava em como isso acabaria. No meu emprego anterior, meu chefe Dylan tinha inventado que eu era uma ladra e todos tomaram isso como verdade absoluta, sem nem se preocuparem em me ouvir.
– Criar outra versão? – sua sobrancelha esquerda se ergueu e ele parecia genuinamente confuso com minhas palavras. – Eu não me importo com o que os outros irão pensar.
Mudei meu peso de lugar. Estávamos no elevador a caminho do quarto.
– Não se importa? – quase gritei, dando graças a Deus de que nós fossemos os únicos ali. – Não seja machista! Trata-se do que vão pensar de mim.
– E porque você se importaria com o que os outros pensam, já que sabe a verdade?
Balancei a cabeça, olhando os números dos andares subindo.
– É tão difícil pensar além de si mesmo?
Dizer que Mabuchi estava confuso seria um eufemismo.
– Pensar além de mim mesmo? – repetiu. – Do que em nome de Deus está falando?
– Tão típico – retorqui baixinho, mordendo o lábio. – Tão típico.
Faltavam dois andares para sairmos do elevador e eu já temia o que poderia sentir quando estivéssemos sozinhos no quarto.
– Eu sinto que existem duas conversas acontecendo aqui – ele começou. Sua voz estava calma, ele sequer estava levemente alterado. Que raiva! – A conversa que estou participando e a que está tendo em sua mente.
Virei meu corpo em sua direção, tendo meu rosto tenso e minha boca prestes a abrir e cuspir dezenas de besteiras.
– E o que espera que eu faça?
– Eu já disse que vou dormir no sofá e qualquer contato que tivermos será apenas profissional.
Ele não entendia. Bom Deus, ele não entendia!
Rangi os dentes.
– Esqueça! – joguei as mãos para o alto. – Simplesmente esqueça!
As portas se abriram e eu pisei duramente para fora, esbarrando em um casal que estava esperando pelo elevador. Pedi desculpas a eles e só então percebi que Mabuchi não tinha me dado a minha cópia da chave. A contragosto, diminuí o passo.
***
Faltavam cerca de duas horas para que Mabuchi fosse ao encontro dos representantes, mas ele só deixou a maleta no sofá e saiu do quarto. Silenciosamente agradeci. Vagamente pensei que para ele minhas atitudes podiam estar parecendo impensadas, ou até mesmo infantis, mas eu sabia melhor.
Quando me recusei a corresponder às investidas de Dylan, e ele me acusou de roubar os hóspedes, eu sabia a verdade. Mesmo assim, quase fui presa por roubo. O mundo não era tão simples como Mabuchi supunha. Por mais que eu soubesse a verdade, de que adiantaria se todo o resto não? O que ele não entendia era que, se alguém nos visse, eu seria taxada como a garota que passou a noite com o chefe. Apenas isso. Todo o meu histórico na empresa, todo o meu trabalho seria desconsiderado, independente se o boato fosse real ou não. Mas para ele tudo continuaria igual. Afinal ele era o chefe, ele era homem.
Joguei-me na cama e fitei o teto. Era impressionante como era fácil eu perder o controle das coisas. Suspirei e chequei se havia novas chamadas no meu telefone. Nada. Tornei a suspirar. Liguei para minha mãe e o telefone só chamou e quando tentei ligar para o meu pai a mesma coisa aconteceu. Eu disse a mim mesma que ambos podiam estar longe do celular e nada mais, mas na verdade eu estava surtando internamente.
Sozinha, comecei a criar ainda mais paranoias sobre o estado de saúde da minha avó e, apesar de nunca ter tido uma relação amorosa com ela, a possibilidade de algo ruim acontecer estava me deixando apavorada. A última coisa que ela tinha me dito antes que eu viajasse foi: "arrume um namorado por lá". Nada de "estou orgulhosa", ou simplesmente "boa viagem e boa sorte nessa nova fase".
Não. Isso seria algo grande demais para ela.
Esfreguei os olhos para impedir as lágrimas de caírem. Eu continuava não entendendo porque me sentia tão mal. Talvez fosse porque a gente só percebe o quanto ama alguém diante a possibilidade de perder essa pessoa.
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Era Pra Ser Você
ChickLitJasmim Sanclair é uma estudante de design fazendo intercâmbio em Nova York. Depois de ser assediada pelo antigo chefe, perder o emprego, ser barrada nas aulas e quase não ter mais um lugar para morar ela já deveria saber que nada seria fácil em sua...