Ellie

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O clima embaraçoso, frente aos pais de Mabuchi, foi amenizado pela menção que ele fez à filha. Pude responder com sinceridade ao seu comentário.

– Ellie é mesmo um amor, comparando-me com uma princesa, mas acho que é melhor eu deixá-los descansar e ir para a empresa resolver... – as palavras em inglês fugiram de mim, por isso franzi a testa e sacudi as mãos no ar – as coisas – balbuciei em português.

Os pais de Mabuchi contiveram um sorriso de quem estava achando tudo muito divertido.

Deus!

Quando o assunto era passar vergonha, eu era a campeã. Fechei meus olhos brevemente, pedindo aos céus para ser engolida pelo chão. Contudo, quando os abri, três pares de olhos me encararam com curiosidade.

– Eu vou assinar os papéis da alta na recepção, pode esperar por mim, Jasmim?

– Claro.

Gregory se afastou, deixando-me mais uma vez com seus pais. Por fora sorri, por dentro quis morrer.

– Então, Jasmim, – Catherine sorriu – Greg é um bom patrão?

Os últimos dois dias brilharam na minha mente e meu rosto aqueceu.

– Depende de seu bom humor – arrisquei.

Ela riu com suavidade. Dei uma boa olhada na mulher. Ela exalava elegância na forma como estava sentada. Meus olhos foram então para Yamato, pai de Gregory. Marcas de expressão davam ao seu rosto um ar de sabedoria e seus olhos eram atentos e ao mesmo tempo gentis. Ao contrário de Gregory, cujos olhos eram sempre muito afiados.

– Catherine não é um nome japonês – comentei distraidamente. Tanto para matar o silêncio, quanto para sanar minha curiosidade.

– Meu pai era japonês e minha mãe americana – ela respondeu. Meu Deus! Até a sua voz soava elegante. Como ela conseguia? – Meu segundo nome é Yumi. Catherine é uma homenagem à minha avó.

Sorri, querendo também perguntar o porquê de Gregory ter um nome americano e não japonês, mas desisti.

Após assinar os papéis da alta, Gregory assegurou aos pais de que estava tudo bem e que eles poderiam ir para casa. Fiquei surpresa quando, ao se despedirem, ambos tenham me dado um abraço. Tão surpresa que não consegui responder.

– Ainda precisa de mim? – perguntei a ele.

Meu coração bateu acelerado esperando a resposta. A última meia hora tinha sido estranha e os últimos dois dias mais estranhos ainda.

– Você quer ir para a empresa ou...

A pergunta ficou no ar como uma sentença não dita. Mas eu precisava que ele dissesse.

– Ou...?

– Ir comigo até minha casa.

Rápido demais, estranho demais, minha mente gritou. Abri a boca, não sei se para dizer "sim, claro", ou "de jeito nenhum, nem pensar".

– Não vou voltar para a empresa hoje e, se você concordar, podemos trabalhar lá mesmo – ele completou.

– Tudo bem – respondi, acreditando que decididamente eu estava louca.

***

Durante o caminho até a casa de Mabuchi, ele e Ellie conversaram sobre a queda e o quão perigoso aquilo tinha sido para ela. A conversa era íntima e tentei focar minha atenção na janela do carro e nas ruas por onde passávamos, mas me peguei diversas vezes escutando as palavras de preocupação e carinho trocadas entre os dois.

Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora