Um até logo

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Ainda estávamos abraçados quando o telefone de Mabuchi tocou. Deitei de lado e o encarei enquanto ele atendia a ligação. Sua voz estava calma e baixa, o que só acontecia... Bem, nunca acontecia, exceto quando ele conversava com Ellie.

– Comeu todo o café da manhã? – ele perguntou e fez uma pausa para ouvi-la responder. Segundos depois sorriu, parecendo feliz com a resposta da filha.

– Eu sei querida... Também, estou com saudades... Amanhã... Sim... – ele riu, dando-me um rápido olhar. – Prometo ser gentil com ela... Eu te amo – encerrou a ligação com gentileza.

Fechei os olhos brevemente, para fixar em minha memória cada carinho, cada beijo, cada sensação maravilhosa que eu havia acabado de sentir em seus braços. Sabia que teríamos que nos levantar em breve, mas eu estava evitando pensar nisso. Queria aproveitar ao máximo, antes de ter que lidar com as consequências.

– Com quem você precisa ser gentil? – perguntei ainda de olhos fechados.

– Com a princesa da Disney – ele riu e isso me fez enrugar a testa e abrir os olhos.

Princesa da Disney? Como assim?

– Quem é a princesa da Disney?

– Você?

– Certo, o quê?

– Ela está convencida que você é uma princesa da Disney.

Ergui uma sobrancelha achando graça, esperando que ele me desse uma explicação.

– Eu também não entendi. Num primeiro momento achei que era porque seu nome é parecido com o da princesa do Aladim, mas mesmo após eu explicar a diferença, ela continua chamando-a assim.

– Oh, eu me lembro da confusão que ela fez com meu nome – falei. Foi quando Ellie se perdeu do pai na empresa. – Estourei em uma gargalhada.

Princesa? Ser uma princesa era exatamente tudo o que eu não tinha sido durante minha vida toda. Além disso, eu me considerava corajosa, e estava longe de ser graciosa e gentil, como é suposto que princesas devam ser.

Mas precisava admitir, Ellie era mesmo um amor!

Nossos risos pouco a pouco foram sumindo e pelo canto do olho olhei para ele. Parecíamos um casal, ou ao menos amantes casuais, dividindo a cama e rindo de aleatoriedades. Foi estranho e muito bom ao mesmo tempo. Mabuchi certamente estava pensando o mesmo, já que caímos num silêncio íntimo e um tanto constrangedor.

– Preciso me levantar e ir ao encontro com os representantes – ele admitiu com relutância, enquanto acariciava minha pele.

Balancei a cabeça como se falasse "eu entendo, tudo bem". E entendia mesmo. Ele tinha perdido o café da manhã e não poderia se atrasar para o próximo compromisso.

– Tudo bem – testei minha voz, que saiu calma e impessoal, apesar dos arrepios que suas mãos estavam me causando. –Precisa de mim para algo? Quero repassar sua agenda, se tiver um minuto.

Sem perceber entrei no "modo secretária", mas gostei disso. Eu me sentia menos vulnerável assim e mais no controle.

Com um suspiro ele levantou da cama e foi catar suas roupas, que mais uma vez estavam espalhadas pelo chão.

Também me levantei para vestir o roupão, perguntando-me se checaria sua agenda no laptop, ou por meio dos post its, que eu sempre mantinha na bolsa, caso alguma tecnologia resolvesse se voltar contra mim. Decidi usar o laptop. Em silêncio o peguei, liguei e então abri sua agenda virtual. Em voz alta comecei a falar seus compromissos.

– Às três da tarde... - comecei sentando novamente na cama.

– Porque está agindo assim? –interrompeu-me.

– Assim como? – perguntei sem tirar os olhos da tela para me proteger.

– Por que sinto que fiz algo errado? – ele indagou confuso e eu me senti obrigada a olhá-lo. Estava praticamente vestido agora.

– Está tudo bem – afirmei tentando controlar minhas emoções. Porque de fato estava, eu só... De repente não sabia como agir e meus olhos brilhavam com lágrimas teimando em surgir.

– Tudo bem, prossiga com agenda – disse ele, mas sua voz triste parecia querer dizer outra coisa.

Prossegui com a leitura dos compromissos, sem ser interrompida dessa vez.

Olhei para mim mesma sentada na beira da cama e percebi que estava me deixando invadir por dúvidas e tristezas, por saber que em breve, a princesa imaginada por Ellie, teria que deixar o príncipe.

Mas que droga eu estava fazendo?

 

– Tem mais um compromisso – segurei seu braço, quando ele passou por mim indo em direção ao banheiro.

Seus olhos me fitaram. Ele parecia quase irritado, ou talvez confuso. Ou talvez um misto dos dois.

– Qual?

Soltei seu braço e toquei seu rosto. Por um segundo Mabuchi pareceu querer me afastar e me surpreendi o quanto isso me doeu.

– Beijar Jasmim, a princesa da Disney. – murmurei, tentando amenizar a confusão de sentimentos que surgiu entre nós, e que eu mesma tinha causado.

Ele riu e, aliviada, o segui rindo também.

– Você quer me enlouquecer? – seus olhos procuraram os meus.

Dei de ombros, querendo devolver a pergunta, mas resistindo ao impulso.

– Está funcionando? – perguntei.

Sua boca subiu um pouquinho, num quase sorriso.

– Mais do que imagina.

– Bom – falei, sem saber ao certo o que responder.

– Cedo ou tarde vamos ter que conversar sobre o que aconteceu.

Tarde. Bem tarde, de preferência...

– Quando voltarmos – respondi, alisando seu terno. – Não precisamos disso agora.

– E do que precisamos? – sua voz saiu provocativa, com duplo sentido.

– Não ponha fogo em algo que não vai ficar para apagar.

– Quem disse que não irei?

Sorri sentindo meu rosto aquecer, assim como o restante de mim.

– Até muito breve – ele se despediu, beijando meus lábios.

– Até – respondi suspirando.

***

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Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora