Primeiro dia

4.6K 489 40
                                    


Afastei um cacho do rosto e sentei no sofá-cama de Chase, suspirando.

Ótimo! Sonhei com ele de novo.  

Um sonho vívido demais para o meu gosto e que me fez acordar suada, com o coração palpitando. Fechei os olhos e encostei a cabeça no travesseiro. A luz do dia invadia as janelas me impedindo de voltar a dormir, mas não me importei, eu queria ficar ali. Não queria ir para o trabalho. Se bem que hoje é a última vez que vai vê-lo, pensei. Pouco tempo atrás o pensamento teria me alegrado, mas hoje tinha me deixado... Triste?

Jogando o lençol para o alto, levantei. Havia escolhido minha roupa cuidadosamente na noite anterior. A mesma roupa que estava vestindo no meu primeiro dia de trabalho. Era justo. Iria sair do mesmo jeito que entrei. Ou quase. Arrastando os chinelos, peguei meus produtos de higiene e uma toalha da mala e fui para o chuveiro.

De banho tomado, vestida e maquiada, me dirigi para a cozinha. Estava com fome, mas com vergonha de mexer na geladeira de Chase sem ele por perto, então tomei só uma xícara de café. Chase tinha dito que iria me dar uma carona, mas, pelos roncos vindos do corredor, era melhor contar com uma carona do Papai Noel do que com a dele.

***

Eu estava muito emotiva. Não, eu estava muito além de emotiva, porque chorei no metrô quando vi um casal se beijando, chorei quando entrei no elevador da empresa e precisei desviar meu caminho para o banheiro por quase chorar por querer chorar.

Deus, eu sequer estava no meu período menstrual para tanta choradeira, mas lá estava eu trancada numa cabine, chorando sem entender o motivo. Uns bons cinco minutos depois eu me senti mais controlada e quase envergonhada por tanta choradeira. Nisso ouvi a porta se abrir e em seguida vozes começarem a tagarelar.

– Ela jura que vi os dois com um comportamento estranho – uma voz estridente disse.

Assoei o meu nariz com papel higiênico e alcancei o trinco da porta para abri-la, mas uma segunda pessoa começou a falar e eu resolvi esperar mais um pouco antes de sair.

– Jasmine e Mabuchi? A secretária?

Minha mão caiu para o lado e permaneci no lugar. Curiosidade e raiva floresceram no meu peito.

– Sim – a outra mulher respondeu. – Eu realmente estava achando estranho ela durar tanto tempo na empresa. Lembra-se da secretária anterior?

– Mas o que Elizabeth disse?

– Que ela apareceu na empresa exigindo falar com ele e que depois os dois se trancaram dentro da sala dele.

Alguém riu. Meu coração disparou.

– Ouvi dizer que ela tem regalias na empresa – continuou a mulher de voz estridente. – Você sabe, algumas mulheres fazem tudo por poder.

– Sim – a outra concordou. – Algumas mulheres fazem tudo por dinheiro. Vagabundas! – disparou.

Meus olhos queimaram com lágrimas de raiva, mas mordi o lábio, engolindo-as. Quem elas pensavam que eram para falarem de mim como se me conhecessem? Soprei o ar para fora até me acalmar. Eu tinha duas opções bastante claras: sair e enfrentá-las ou continuar trancada deixando-as falar o que quisessem de mim.

Abri a porta, tentando fazer com que meus movimentos parecessem graciosos. De primeiro elas não me notaram, mas com satisfação notei seus olhos aumentando de tamanho. As duas mulheres eram loiras e seus rostos eram bastante conhecidos por mim, ainda que não soubesse seus nomes.

Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora