Depois daquele beijo

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SIM, EU VOLTEI!! E trouxe surpresas como agradecimento por terem sido tão atenciosas comigo. A formatura foi muito boa, e esse pequeno período que fiquei fora foi um divisor de águas. Muito obrigada, eu precisava disso. Sem mais delongas, boa leitura  e até a próxima semana <3


  Mentalmente fui repetindo cada um dos compromissos que eu me lembrava da minha agenda:

Almoço na casa dos meus pais no domingo.

Reunião na escola de Ellie na segunda.

Reunião da empresa na quarta.

Viagem para Chicago em poucos dias.

Fiz isso na esperança de assumir um pouco de controle sobre minhas emoções, mas bastou olhar para o banco do passageiro para falhar miseravelmente. Mais uma vez. Apertei o volante com força e suspirei.

Jasmim Sinclair.

Meu corpo vibrou com a lembrança de seu nome, fazendo-me recordar que há poucos instantes atrás seus lábios estavam nos meus. Eu não deveria tê-la beijado, não deveria ter gostado e certamente não deveria querer fazer de novo. Praguejei baixinho. Onde eu estava com a cabeça?

Parei no sinal esperando os pedestres atravessarem a rua, o que só me deu mais tempo para pensar na besteira que tinha feito. Era ridículo quão nervoso e ansioso eu me sentia. Era como se tivesse voltado aos tempos de adolescência e fosse dar meu primeiro beijo. Quem dera fosse algo tão insignificante, pois sem dúvida, muitas coisas poderão se complicar segunda de manhã.

Tudo que eu esperava da minha noite era relaxar um pouco na exposição – mesmo que estivesse acompanhado de Tifanny, que conseguia fazer tudo menos me deixar relaxado – e então voltar para casa. Sempre gostei do mundo artístico, talvez por influência da minha mãe que até hoje é, sem dúvida, a maior amante das artes que já conheci, mas ao invés disso beijei a Jasmim.

Puta merda! Eu sou seu chefe! E mesmo que tenhamos nos beijado fora da empresa, ela ainda pode me processar por assédio e a lei estará a seu favor. Apesar disso, não estou arrependido e certamente deveria estar.

Jasmim Sinclair – tornei a repetir mentalmente. Uma completa maluca.

Ri como um louco sem conseguir me conter ao me lembrar dela caindo no chão, foi aí que o maldito gatilho foi ativado. Minha mente como que por vontade própria voltou para aquele momento e para o que aconteceu em seguida. O beijo em si não foi o que me deixou surpreso e sim o fato dela ter correspondido, já que um chute certeiro era exatamente o que eu esperava receber. O lado racional do meu cérebro arranjou uma explicação para o que aconteceu entre nós numa teoria simples de física. Os opostos se atraem, e certamente nós dois éramos era isso, completos opostos. Sendo assim era óbvio que cedo ou tarde a energia frustrada que tínhamos um contra outro fosse explodir. Melhor assim do que se algum de nós tivesse arremessado o outro pela janela, que sem dúvida alguma não era uma opção tão insana de se pensar. A cena voltou ao meu pensamento.

– Eu não deveria ter deixado isso acontecer! – Jasmim me disse, mas só após o segundo ou terceiro beijo. Lembro-me de ter acompanhado atentamente sua língua umedecendo seus lábios.

– De fato! – concordei e pude jurar que por um segundo ela pareceu decepcionada. – Mas certamente não é hora de lamentar.

Aproximei-me de novo com cautela, dando a chance dela se afastar de mim se assim desejasse, mas ela não o fez. Na verdade permaneceu imóvel, esperando meu próximo movimento, então olhando-a nos olhos, a beijei. Forte e ainda assim desajeitado de alguma forma. Estava acostumado a brigar e provocá-la de inúmeras maneiras, mas aquilo era algo novo. Minha mente gritava obscenidades do quão errado aquilo poderia acabar, mas sua boca na minha, pouco a pouco, fez baixar minhas defesas, e me entreguei às sensações que ela me provocava. Qualquer pessoa poderia nos ver e foi isso que me fez resgatar a razão e me afastar. Tinha vários conhecidos do trabalho ali na exposição e se qualquer um deles me visse aos beijos no chão tiraria conclusões precipitadas. Eu podia detestá-la, mas não gostaria de vê-la numa situação constrangedora como essa.

– Preciso ir! – respirei contra sua bochecha, abrindo meus olhos. – Te levo para casa.

– O que está sugerindo? – ela se afastou. Seus olhos brilharam de mágoa... Raiva talvez? – Se acha que só porque...

Quase ri. Agora essa era uma versão dela que eu conhecia bem. Com sua raiva e opinião precipitada era fácil lidar, estava acostumado com isso.

– Carona – falei pausadamente limpando a garganta. Não consegui olhá-la nos olhos, pois sabia que iria rir e isso só despertaria seu lado pior. – Estou oferecendo uma carona. Nada mais.

Mesmo no escuro pude ver suas bochechas coradas e saber que era a causa de sua vergonha me deu uma satisfação esquisita e peculiar.

– Tudo bem! – sussurrou.

Fingi não ouvir.

– Desculpe-me o que disse?

Uma batida inteira se passou e, se eu pudesse ler pensamentos, poderia dizer com certeza que ela estava planejando uma forma muito dolorosa de me fazer pagar por envergonhá-la.

– Eu aceito! – disse se levantado rápido demais, quase caindo outra vez.

– Cuidado! – censurei sem conseguir me parar.

Jasmim rolou os olhos com desdém.

– Eu sei me cuidar sozinha.

– Não parece.

– Tinha esquecido quão idiota você pode ser quando quer! – murmurou cruzando os braços sobre o peito. – Não faça eu me arrepender de aceitar sua carona.

Meu queixo caiu por um segundo. A mulher era mais instável que Ellie depois de ingerir açúcar demais.

– E então? – sua sobrancelha se ergueu e ela soltou um suspirou de impaciência. – Vai ficar aí parado me olhando?

Cogitei responder com um insulto como seria de praxe, mas ao invés disso só balancei a cabeça forçando para dentro o sorriso que teimava em aparecer em meus lábios.

Balancei a mão no ar, indicando que ela passasse na minha frente.

– As damas primeiro! – retorqui, fazendo-a rolar os olhos, o que me fez rir.

Como era possível odiar e ansiar tanto algo? Pensei.


Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora