O ventilador girando no teto do meu quarto faz barulho de chuva. É estranho e reconfortante ao mesmo tempo. Eu gosto do barulho que a chuva faz quando cai do céu, me acalma e quando eu não consigo dormir ligo o ventilador e me concentro no som até pegar no sono e Mabuchi... Afundei a cabeça no meu travesseiro e gritei frustrada. Mabuchi estava em cada pensamento meu, mesmo naqueles que não tinham nada a ver com ele. Fechei os olhos com força tentando dormir, mas com uma clareza assustadora minha mente recriou o momento em que nos beijamos. Fiquei me debatendo na cama e acabei arremessando o lençol para o chão.
Desde que cheguei em casa até agora, a temperatura parece ter subido pelo menos dez graus. Levantei da cama, resignada com minha insônia e acendi a luz do quarto.
– Um banho frio vai me ajudar a dormir – resmunguei, abrindo as portas do guarda-roupa, entretanto uma batida na porta da sala me fez recuar antes de pegar uma muda de roupa. Olhei para o relógio no bidê, era quase uma da manhã.
Quem bate na porta de alguém tão tarde? Mal concluí o pensamento e a pessoa do outro lado bateu novamente – ou melhor – esmurrou a porta com força. Debati internamente se deveria ir ou não atender, até ouvir uma voz conhecida chamar meu nome.
– Jasmim? Você está aí? Está tudo bem?
Meredith.
E ela gritava tão alto que em breve acordaria o prédio inteiro. Meio desajeitada, apressei-me para atender a porta e franzi a testa ao encontrá-la toda descabelada e agitada.
– Aconteceu alguma coisa? – nós duas falamos juntas. Meredith tinha a voz uma oitava mais alta do que a minha e estava tão confusa que mais uma vez perguntei o que estava havendo.
– Estou bem! – ela respondeu, arfando como se tivesse acabado de correr uma maratona. Seus olhos me inspecionaram a procura de algo. – De pijama... – murmurou mais para si mesma do que para mim. – Você está de pijama.
Abri um pouco mais a porta, deixando-a entrar.
– Como assim... – iniciei e foi aí que a ficha caiu. Cobri a boca com a mão quando um riso nervoso escapou. – Me desculpe!
Seus olhos me estreitaram perigosamente e eu sabia que isso era um indicativo de que ela estava começando a se irritar. Joguei meus braços ao seu redor.
– Eu sou a pior amiga do mundo! – falei com uma voz chorosa, apelando para o seu lado emocional.
– Eu procurei você como uma louca na Galeria, até me dar de conta de que já não estava mais lá, então meu melhor palpite foi que estivesse no meu apartamento, já que tínhamos combinado que iríamos para lá depois da exposição. Mas adivinhe? – ela riu. – Você não estava lá também. Portanto – Mer cruzou os braços sobre o peito – comece a falar e é melhor que tenha uma boa razão para ter ido embora da exposição sem me avisar e não atender ao maldito telefone! – abri a boca para falar, mas ela ergueu a mão me cortando. Sacudiu a cabeça e soprou o ar para fora algumas vezes seguidas, até que assentiu com a cabeça. – Agora já pode falar.
Tranquei a porta e fui para o sofá.
– Melhor sentar! – avisei.
– Eu estou bem de pé! – resmungou com a cara fechada. Eu sabia que era pura pose, para não demonstrar quão preocupada ela realmente tinha ficado.
– Beijei o Mabuchi! – comecei a contar pausadamente o que tinha acontecido e com tanta calma que me surpreendi, já que ainda estava sobre o efeito de um misto de hormônios e calor.

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Era Pra Ser Você
Chick-LitJasmim Sanclair é uma estudante de design fazendo intercâmbio em Nova York. Depois de ser assediada pelo antigo chefe, perder o emprego, ser barrada nas aulas e quase não ter mais um lugar para morar ela já deveria saber que nada seria fácil em sua...