Chase Waters

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Personagem novo. Chase foi o nome que vocês escolheram na enquete do Facebook! ❤ Espero que curtam esse personagem tanto quanto eu.


Minha aula favorita na faculdade sempre foi de design industrial. Desde pequena eu tenho um apreço especial por desenhos. O que antes era um hobby se provou extremamente necessário no meu meio de trabalho. Criatividade era praticamente o codinome de um design, e saber desenhar certamente não era uma coisa negativa. Felizmente ou infelizmente sempre tive bastante criatividade. Felizmente porque esse foi um diferencial que me garantiu o intercâmbio e infelizmente porque apesar de ser uma criança relativamente calma aprontava coisas inimagináveis para os meus pais.

Como engolir moedas por exemplo.

Marlene, minha professora, estava atrasada, algo que não era habitual para ela. Os alunos estranharam porque estavam acostumados com sua exigente pontualidade. Fiquei olhando a esmo pela sala de aula, tentando me concentrar em não cochilar. Nos últimos dias, bastava que eu parasse um segundo para dormir em pé.

Chase Waters entrou aos tropeços na sala, parecendo visivelmente aliviado por ainda não haver uma professora dando aula. Assim como algumas garotas, fiquei observando-o tomar seu lugar ao fundo, apenas uma cadeira a minha frente. Chase era bonito, e por esse motivo chamava a atenção. Não como Will, ou mesmo Mabuchi, que de alguma forma sabiam o efeito que causavam nas mulheres. Chase era bonito de uma maneira diferente. Ele tinha uma doçura nos gestos não característica do sexo masculino.

Penso que os homens, em geral, são brutos, mesmo sem perceber. Passei minha vida inteira convivendo com tais espécimes rústicos. Mesmo meu pai, que tinha uma essência única, conseguia ser um homem das cavernas de vez em quando.

Meus olhos desceram por Chase inspecionando-o. Ele usava uma roupa confortável e casual. Senti que eu estava parecendo uma apresentadora de um programa de fofoca, invadindo a privacidade alheia, mas seja como for, sua blusa de mangas curtas, puídas e pretas, deixavam de fora seus antebraços cobertos de tatuagens. Nunca tínhamos avançado em uma conversa de mais de duas frases. Nossa interação jamais passou de ois educados e sorrisos cordiais.

Assim como no ensino médio, na faculdade também existiam as ditas "panelinhas" e Chase tinha a sua própria. Eu ficava no meio termo, falava com quem falava comigo e ignorava quem me ignorava. Meredith é quem era a minha panelinha, e sem ela eu era uma desgarrada. E para mim, estava tudo bem assim, porque quanto menos laços eu criasse mais fácil seria para dizer adeus, quando a hora de ir chegasse. Era um pensamento triste, mas irresistivelmente prático.

Percebi que eu estivera olhando incessantemente para Chase, e quando ele olhou para trás, como se sentisse meus olhos cavando um buraco em sua cabeça, acabei desviando meus olhos, envergonhada, e fitando o chão.

Era a última aula, e tudo em mim gritava para eu entrar no metrô e ir para casa, mas nos últimos dias eu havia cabulado aula demais, então me forcei a ficar sentada mais um pouco. Bati com o lápis no meu caderno suspirando e então levantei a cabeça e olhei para as tatuagens de Chase. Uma em especial era a que mais me chamava atenção. A do lobo em seu ombro. Não estava visível agora, mas certa vez Chase tinha tirado a camisa para mostrá-la para um amigo e eu a vi.

Deslizei o lápis pela folha traçando o esqueleto de um lobo. Julyan tinha me confidenciado uma vez que o lobo era um dos seus animais favoritos. Engraçado, ela era tão calma, e lobos, em geral, tão ferozes. Pouco a pouco fui notando que estava fazendo uma réplica da tatuagem de Chase e guardei meu caderno, envergonhada de que ele pudesse ver o desenho e me achar uma louca.

Certamente seria o que eu iria pensar se fosse o contrário.

***

Thor miou satisfeito quando me viu chegar. E eu, mais do que vê-lo, senti uma bola de pelo se refastelando aos meus pés.

– Eu sei, eu sei – murmurei pegando-o no colo. – Também tô morta de saudade! – sorri quando ele esfregou seu focinho gelado em mim.

Meu gato era o que se podia chamar de autossuficiente. Talvez por ter sido maltratado pelos antigos donos, sabia cuidar de si e fazia isso tão bem que eu sempre me surpreendia com seus momentos de carência.

– Como foi seu dia? – fechei a porta com o quadril e tranquei a fechadura. A casa estava escura, iluminada apenas pela luz que a lua oferecia por trás das cortinas. Suspirei contente com a tranquilidade ao meu redor, porém, nem bem pensei isso, meu celular tocou. Ainda com Thor no colo, fui pegar o celular na bolsa, fazendo-o pular contrariado. Ele pousou no sofá e deu-me um olhar nitidamente irritado, que mesmo no escuro deu para perceber.

Já era tarde para alguém estar me ligando, mas quando vi a palavra Casa no mostrador de chamadas, meu rosto se iluminou. Não havia fuso horário de duas horas quando se tratava da minha família. E se tinha uma coisa que eu havia aprendido bem, era o maldito fuso horário. Dependendo das estações havia alteração de uma hora para mais ou para menos no fuso, algo que nem eu e tampouco meus pais levávamos muito em consideração quando a saudade apertava. O que era o tempo de uma a três horas quando o assunto era família. Deslizei o dedo pela tela e atendi perguntando-me porque diabos eu estava pensando em fusos horários quando isso sequer importava.

– Alô?

– Criei um Facebook! – minha mãe gritou animada.

Sorri largamente, sem qualquer motivo aparente além da sua voz, e sentei ao lado de Thor sem me preocupar em acender as luzes. Havia uma calmaria nisso, apesar do barulho da cidade do lado de fora.

Por alguns instantes me senti na minha antiga casa.

O bambu que se curva é mais forte que o carvalho que resiste. - provérbio japonês.

p.s: escolhi esse provérbio por conta da Jasmim ter permanecido na faculdade até o final das aulas, mesmo estando cansada.

Era Pra Ser VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora