Já fazia três meses que eu estava de volta ao Brasil, desde o dia em que voltei para casa. Penso que três meses é tempo considerável para quem sente saudades e ao mesmo tempo não significa nada para quem não sente a falta de alguém.
Três meses...
Às vezes eu me lembro de tudo o que aconteceu em Nova York e oscilo entre rir histericamente e chorar copiosamente. Porque é inegável de que eu sinto muita falta de tudo...
Incluindo Mabuchi.
Definitivamente de Mabuchi.
Chase, Julyan, Jack, Mer, Susan e Eoin me ligam diariamente por Skype. Tal como meus pais faziam quando eu estava longe. Mas dele não tive mais notícias, só fico sabendo umas pequenas coisas que Julyan me conta. Eu quero acreditar piamente que é melhor assim, mas uma parte minha se rasga inteira desejando saber todos os detalhes sobre ele.
Uma batida na porta me despertou dos meus devaneios e sentando na cama pedi para a pessoa do outro lado entrar. Era meu pai. Nos últimos dias ele vinha me observando mais atentamente do que o normal, o que, para ser sincera, me enervava um pouco.
– Oi! – ele disse, entrando. Thor vinha logo atrás, balançando sua cauda, e mais uma vez fiquei satisfeita pelo quão bem ele se sentia ao lado dos meus pais. Thor se acostumou surpreendentemente rápido à sua nova casa – meu antigo lar – e segue meus pais para todo canto, exigindo carinho e comida. Típico dele.
– Oi! – sorri, dando uma batidinha no lugar ao meu lado, num convite não falado para ele se sentar.
Inicialmente ele apenas me encarou, mas por fim se sentou.
– Quando você era mais nova – ele disse, colocando afetuosamente a mão no meu joelho, como fazia quando eu era uma garotinha e tinha tido um dia ruim na escola – eu me preocupava que o mundo fosse muito duro com você. Ou então de que as pessoas pudessem se aproveitar da bondade em seu coração.
Franzi a testa, mas não disse nada, mesmo sem entender porque ele havia começado aquela conversa. Meus pais e eu sempre tivemos uma boa relação e eles sabiam quando algo estava errado comigo, mesmo que eu fizesse de tudo para disfarçar. E pelo jeito eu não estava conseguindo disfarçar minha tristeza pela falta de notícias do Mabuchi.
– Mas não importa o que aconteça, você se recusa a desistir. Eu admiro isso em você. E é por isso que não entendo porque continua aqui, quando algo obviamente te chama em outro lugar.
Meu olhar de confusão se intensificou.
– Pai, o quê...?
– Você está aqui por nossa causa? – perguntou, sem julgamento algum em sua voz, só a mais pura compreensão.
Não respondi e isso só serviu para que ele continuasse falando.
– Nós sempre vamos te apoiar, Jas – sua voz embargou. – Sempre.
Continuei em silêncio, encarando sua mão no meu joelho. Seus dedos eram longos e ressecados, marcados por uma vida toda de trabalho.
– Eu não me sinto obrigada a ficar aqui, pai – falei. E realmente não me sentia, mas também não mais me sentia pertencente só àquele lugar de filha. Não mais. – Aqui é meu lar. E eu amo vocês.
– Seu lar é onde se sente bem, ou onde pode encontrar o amor – disse com gentileza. – Tem sido bons dias com você ao nosso lado, mas eu não vou colocar meus sentimentos de pai acima dos seus. Sua mãe e eu sabemos que não está feliz aqui. Não como merece.
Meus olhos umedeceram. Dezenas de sentimentos giraram no meu coração.
– Se você... Se você decidir voltar aos Estados Unidos...
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Era Pra Ser Você
ChickLitJasmim Sanclair é uma estudante de design fazendo intercâmbio em Nova York. Depois de ser assediada pelo antigo chefe, perder o emprego, ser barrada nas aulas e quase não ter mais um lugar para morar ela já deveria saber que nada seria fácil em sua...