Chega de lágrimas!

4.6K 383 111
                                    

— Corta!

Quando finalmente autorizei o fim da última cena do curta, senti toda equipe relaxar um pouco. Uma pontada de culpa me cutucou, mas decidi ignorá-la. Eu tinha plena ciência de que tinha sido um pouco mais difícil com eles que de costume.

Gritando uma vez ou outra, interrompendo uma cena perfeita por causa de bobagens. Minhas bochechas estavam doloridas da força que fiz pra sorrir o tempo todo. A verdade é que meus nervos estavam aos frangalhos.

Por sorte, meus amigos são legais demais para me mandar ir catar coquinho.

— Você está bem, May? — Tomás perguntou enquanto terminava de recolher o equipamento. — Tá agindo de um jeito esquisito desde que chegou aqui...

Preciso te avisar que além de responsável pela mixagem de som do curta, em algumas baladas, nossas bocas costumam se encontrar para outro tipo de mixagem. Se é que você me entende. Não que isso signifique que nós somos loucos um pelo outro e temos "a química do século". Somos apenas amigos coloridos. Talvez melhores amigos coloridos.

Agora você deve estar se perguntando: por que diabos eu ainda não disse para a minha equipe que fui despachada pra Seul? A verdade é que eu estava me sentindo como uma daquelas mocinhas de adaptações de livros do Nicholas Sparks. Daquelas que estão com algum tipo de doença terminal, mas escondem dos amigos e da família porque sentem que a coisa só vira verdade depois que você divide o fardo com aqueles que ama.

— É que... acabei de descobrir que não estarei aqui para o Festival de Curtas, vocês vão ter que levantar esse troféu sem mim.

Dei as costas para ele e comecei a guardar as minhas coisas também, fingindo que meu anúncio não era nada demais.Porque né, quem ficaria triste em perder a premiação depois de dedicar meses de trabalho a um proejto?

Escondi meu rosto para que Tomás não fosse capaz de ler minhas emoções. Naquele segundo, eu juro pra você que acreditei que ele daria as costas e seguiria com a vida. Chateado comigo, óbvio, mas nada que eu não pudesse consertar depois com uma panela gigante de brigadeiro.

Mas é claro que quando a gente jura de pés juntos que uma pessoa vai agir de uma forma, ela escolhe fazer logo o oposto.

Em vez de me deixar, Tomás convocou reforço para o inquérito.

— Júlia! — ele berrou, chamando nossa melhor amiga. — Repete pra ela o que você acabou de me dizer, May.

Tomás cruzou os braços e bateu o pé impaciente até eu abrir a boca para desembuxar.

— Eu não estarei aqui durante o Festival de Curtas.

Senti um gosto amargo impregnar a minha boca. As palavras saíram sem um pingo de emoção, como se eu estivesse entorpecida demais para reagir a toda essa loucura. Quer dizer, de manhã eu tinha toda minha vida organizada e, de repente, BOOM! Tudo foi substituído por um ano e meio na Coreia do Sul.

— Você conseguiu amiga! — Júlia me abraçou apertado, esmagando minhas costelas até eu ficar sem ar. — Sabia que a UCLA ia te raptar da gente, mas não pensei que seria tão cedo.

A confusão da minha melhor amiga trouxe lágrimas para os meus olhos novamente. Quem me dera fosse isso, Júlia!

— Não é isso, ainda não sei se fui aceita.

Ao ouvir aquelas palavras minha amiga me soltou como se eu fosse uma batata quente. Com a Júlia é assim, você sai do 8 para o 80 em uma questão de segundos.

— Então posso saber, dona May Alves Yujin, o que é mais importante que prestigiar o trabalho que fizemos juntos no concurso? — Ela soava como as crianças possuídas de filme de terror.

Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora