Conexão Seul [COMPLETO]

O que acontece em Vegas fica em Vegas

05/07/2019 (2 anos depois da partida da May)

Eu queria que escolher as palavras que diria em breve para meus amigos e familiares fosse tão fácil quanto escolher as que eu boto na boca dos meus personagens. Mas enquanto as coisas que eu faço meus personagens falarem parecem emocionantes e cheias de significado, as que eu ensaio enquanto ando no meu quarto de um lado para o outro parecem vazias e sem importância.

Por mais que eu tente, nenhuma palavra consegue expressar com justiça o sentimento que tento colocar nelas. O quanto doeu ter que abandonar todos do jeito que abandonei, o quanto senti saudades de todos, todos os dias e a minha felicidade ao ver as conquistas de cada um deles, mesmo que de longe.

Depois que eu parti sem muitas explicações, o general cumpriu apenas as partes que lhe foram convenientes em nosso trato. Voltou para a base militar, não pediu a guarda dos filhos, mas não abriu mão de tentar por um fim no sonho de Gong Dong-Wook. Por sorte, o ódio dele era uma faca de dois gumes e acabou ferindo-o de um jeito que ele não esperava. Ao descumprir sua promessa, o general Gong Yoon Jae conseguiu trilhar um caminho que o fez perder definitivamente a guarda dos Gong mais novos.

Nunca vou esquecer do quão rápido meu coração bateu quando Sang-Woo me mandou a notícia que dizia que os meninos estavam finalmente livres. Sei que minha partida deve ter tido pelo menos uns 50% de peso no modo como tudo aconteceu, então fico feliz. Mesmo que todo dia eu acorde sentindo como se houvesse um buraco em meu peito.

Quando dei as costas para tudo, pensei que nunca teria que encará-los de novo. Que não teria que enfrentar a vergonha de ter sido tão covarde ao escolher o atalho que faria Yul feliz com seus irmãos, com o menos sofrimento possível.

— Hey, acorda aí! — Júlia me chacoalhou quase me fazendo derrubar a minha taça de vinho no colo.

— Não adianta ficar encarando o fundo desta taça. Ele não vai se transformar em um portal para jogar o Yul no seu colo como um passe de mágica.

Dei um beliscão na minha amiga e pedi para que ela baixasse o tom para que o meu peguete da noite não tivesse que escutar a minha trágica história de amor.

Você deve estar se perguntando como a Júlia saiu de São Paulo e caiu de paraquedas no meu dormitório em Los Angeles, né? A verdade é, que depois que voltei para o Brasil, eu estava tão destruída que me afoguei no trabalho. Tinha medo que meus pais percebessem que havia algo de errado comigo e ligassem para os meus tios e então descobrissem tudo. Então me mantive ocupada durante a minha curta estadia em São Paulo. Gravei mais filmes e curtas do que imaginei ser possível em tão pouco tempo.

O último que finalizamos ficou tão bom que eu resolvi inscrever em uma competição da UCLA que premiava os vencedores com uma bolsa. E foi assim que, dois anos depois de eu ter iniciado a minha graduação, minha amiga veio para cá. Ela teria que recomeçar a faculdade de cinema do zero, mas acho que é um preço justo a se pagar para fazer o curso dos sonhos com tudo pago em uma das melhores Universidades dos EUA.

— Você sabe que eu não preciso de um portal. — Coloquei a taça na mesa porque minhas mãos tremiam tanto que logo eu acabaria derrubando tudo em cima de mim. — Yul chega em Vegas amanhã.

Jimmy, bartender do pub que fica perto do meu dormitório e peguete provisório, chegou com uma nova rodada antes que Júlia pudesse recomeçar o seu interrogatório a respeito do que eu faria quando visse Yul.

Não que fosse adiantar. Ela poderia me encurralar por horas e ainda assim eu seria capaz de dar apenas uma resposta: não faço a menor ideia. Meus sentimentos e pensamentos estão correndo pela minha cabeça feito baratas tontas. Trombando uns nos outros e deixando a situação mais caótica a cada segundo.