É claro que, depois de eu ter despejado tudo sobre o meu reencontro com o Gong Dong-Yul, ninguém deu mais um pio na mesa por um longo tempo. A minha sorte é que adolescentes superam esse tipo de vergonha alheia rápido. Então Dong-Wook logo achou um assunto para nós.
— É verdade que, quando acabar o seu tempo aqui, você vai para Los Angeles, noona? — ele perguntou antes de atacar a última porção de arroz da mesa.
— Ai, não fala assim. Não é como se meu tempo aqui fosse uma sentença. Mas sim, eu vou para Los Angeles.
Do meu lado, Dong-Yul bufou, o que me deixou com raiva por um segundo. A duração da minha raiva foi tão curta quanto a da bufada, porque o carma te encontra até na Coreia do Sul. Então, depois de dar uma de bobo arrogante pra cima de mim, ele se engasgou com o refrigerante e ficou tossindo por um bom tempo.
Bem feito!
— Ela vai estudar cinema lá, oppa! — minha prima disse virada para Dong-Yul. — Você devia levar ela no seu trabalho um dia. Tenho certeza de que ela aprenderia várias coisas com a equipe da KBS! Imagina só ela chegando nos Estados Unidos sabendo várias coisas e dizendo "ah, eu aprendi isso na Coreia do Sul. Eles são muito mais modernos que vocês"!
Eu sei que é bobagem, mas não consegui evitar de me sentir envergonhada com o pedido da Seo-Jin. Eu tenho certeza de que Dong-Yul vai achar que eu implorei para ela dizer isso e vai arrumar um jeito de ser chato comigo que nem a avó do mal.
O que será que acontece com as pessoas de Seul quando elas ficam mais velhas? Será que todas frequentam o curso de "Como ser malvado com a May"?
— Posso conversar com os meus chefes.... — Dong-Yul respondeu sem se dar ao trabalho de nos encarar nos olhos.
O desinteresse dele em me ajudar era tão óbvio que mergulhou a mesa no silêncio incômodo do qual tínhamos acabado de nos libertar. Ele me evitava como se eu tivesse alguma doença contagiosa e pusesse a existência de todos em perigo.
— Dong-Wook, você leva as meninas para casa? Eu tenho que ver se Kyang Joon já está com tudo pronto para voltar da vovó.
Dito isto, ele se levantou e foi embora, como se não houvesse mais ninguém almoçando ali com ele.
— Seu irmão costumava ser mais educado, Dong-Wook.
—Ele ainda é um cara legal, noona — um sorriso surgiu nos lábios dele —, mas às vezes consegue ser mais chato que a avó da Seo-Jin.
Na saída descobrimos que ele foi gentil o suficiente para pagar pela nossa refeição. Isso fez com que ele ganhasse de volta alguns pontos que tinha perdido conosco.
Ninguém conversou muito no caminho até o rinque de patinação. Mas dessa vez o culpado foi o frio. Aproveitei para gravar alguns time lapses e fotografar algumas coisas nas ruas que pareciam ter saído direto dos filmes que passam na Sessão da Tarde em Dezembro.
Quando finalmente chegamos à Biblioteca Pública Metropolitana de Seul, o céu azul sem nuvens e as milhares de crianças patinando no rinque tiraram as grosserias de Dong-Yul do meu pensamento. A arquitetura, a árvore de Natal ainda montada, mesmo já sendo dia 30, e os sorrisos de Dong-Wook e Seo-Jin enquanto patinávamos era tudo o que eu precisava para encher meu coração de amor e alegria.
Fiquei feliz em constatar que ainda me lembrava de como ficar equilibrada em cima das lâminas dos patins. Até consegui dar algumas piruetas!
As cores de Seul eram cada vez mais brilhantes diante dos meus olhos. Tão lindas, que a minha única alternativa era pegar a GoPro que sempre carrego comigo e fazer algumas imagens.
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Conexão Seul [COMPLETO]
RomanceDesde que eu me entendo por gente meu maior sonho é ser cineasta. De Hollywood mesmo, nada de falsa modéstia aqui. Enquanto crescia, assisti à todos os filmes possíveis. Observando e me apaixonando pelo estilo, enquadramento e fotografia de todos el...