Tchau, Coreia!

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Mesmo pedindo para que ele não me seguisse tive que correr quando saí do restaurante. A voz de Yul e o eco de seus passos me perseguiam para onde quer que eu fosse. Entrei em uma avenida movimentada disposta a saltar pra dentro do primeiro meio de transporte que brotasse na minha frente.

Por sorte, quando já era capaz de sentir a presença de Yul a centímetros de mim, um passageiro desembarcou de um táxi bem do meu lado, deixando-o livre para mim.

— Está tudo bem moça? — o taxista perguntou depois que pedi para que ele acelerasse o carro.

A curiosidade do motorista me pegou de surpresa porque normalmente os coreanos não se intrometem na vida dos outros. É normal você andar pelas ruas e ver pessoas caídas de bêbadas sem ninguém nem dar uma olhada de canto de olho. Mas eu estava tão detonada que o taxista simplesmente não conseguiu fingir que não tinha nada acontecendo.

— Está — falei depois de respirar fundo e enxugar o rosto. — Só me leve para este endereço o mais rápido possível, por favor.

Eu queria chegar em casa o mais rápido possível e contar sobre a minha volta para o Brasil aos meus tios antes que eles descobrissem da pior maneira possível. Porém, não sei se tenho forças para encarar mais uma despedida emotiva e problemática.

Digitei uma mensagem qualquer para Joon Young e Choi In-Ha explicando que teria que encerrar o meu estágio mais cedo e me desculpando por qualquer transtorno. No final cheguei a pedir que ajudassem Yul e tentassem consertar a bagunça emocional que estou deixando para trás, mas no último segundo apaguei esta parte. Não preciso arrastar mais ninguém para o meio de toda esta confusão.

Quando saltei do táxi dei de cara com Sang-Woo esperando por mim.

— Como você sabia que eu estava vindo para cá? — perguntei ao ser recebida pelo meu amigo com um abraço apertado.

Sang-Woo me apertou mais forte, hesitando antes de responder.

— Yul me ligou.

Senti meu corpo inteiro ficar tenso e imediatamente comecei a me contorcer, procurando sinais de que tinha sido seguida até ali.

— Não se preocupe eu pedi a ele para não vir aqui. — Respirei aliviada e deixei que Sang-Woo me conduzisse para dentro de sua casa. — O que não significa que você está livre de me dar explicações. Não vou deixar você sair daqui até me explicar exatamente o que aconteceu.

Se Sang-Woo queria extrair informações de mim com comida, ele não podia ter pensado em uma isca melhor. Da sala eu já conseguia sentir o cheirinho de um bolo de chocolate fresquinho. No balcão que dividia o espaço entre o cômodo e a cozinha já havia uma fatia generosa acompanhada por uma bola de sorvete de creme e muita calda a minha espera.

— Pelo tom dele no telefone imaginei que você precisaria de um desses — ele falou enquanto me guiava gentilmente até a mesa. — Agora me conta: por que eu devo voltar a odiar o filho da mãe? Tá na cara que ele aprontou uma das boas.

Antes de responder respirei fundo e deixei que as endorfinas da sobremesa apaziguassem um pouco o meu coraçãozinho angustiado.

— Dessa vez a culpa é minha — Sang-Woo se apressou a dizer que não podia deixar que Yul me manipulasse desse jeito, que nada que eu fizesse poderia deixá-lo daquele jeito então eu disse: — Eu terminei com ele e... volto para o Brasil amanhã.

Sang-Woo colocou a mão no peito como se tivesse levado um tiro e se sentou na cadeira ao lado da minha.

— Ah, mas não vai MESMO.

Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora