Seollal - Ano Novo Lunar

2.2K 251 115
                                    


A história dos Gong e dos Yujin caminha lado a lado muito antes de eu, Seo-Jin, Dong-Wook, Dong-Yul e Kyang Joon nascermos. Os nossos pais eram amigos, assim como os pais de nossos pais. E os pais de nossos pais de nossos pais.

A mãe dos meninos Gong costumava brincar que nossos laços surgiram na dinastia Joseon. O engraçado é que, em todo esse tempo, as famílias nunca se uniram em matrimônio. Mas isso nunca nos impediu e comemorar o Ano Novo Lunar juntos, como se fôssemos uma só família.

Antigamente íamos todos para Daegu encontrar os mais velhos e prestar respeito aos que já partiram. Mas, no lado Yujin, os mais velhos ainda vivos estão aqui em Seul. Para ser mais específica, a mais velha de todos está na cozinha me passando um sermão por não saber fermentar Kimchi do jeito adequado. Então este ano, em vez de viajar ficaremos aqui e receberemos todos.

Os meninos Gong até têm outro lugar para ir, mas como a mãe deles foi sepultada aqui, a avó e o pai dos meninos vêm para cá e celebram conosco.

— Ai, você não sabe fazer nada direito! — a avó de Seo-Jin gritou, fazendo com que todos os parentes que estavam ali me encarassem de cara fechada.

Antigamente, para mim, o Seollal era um dia em que a casa se enchia de sorrisos. Um feriado em que todos os parentes distantes me procuravam porque queriam me passar ensinamentos valiosos e ver o que eu tinha para mostrar. Escutar minhas histórias sobre o Brasil. Mas graças a avó do mal, meu feriado favorito se transformou no festival de olhares recriminadores e puxões de orelha.

— Eu juro que estou tentando! — Choraminguei tentando mexer o Kimchi com mais vigor.

Eu estava tentando. Mas além de ser péssima na cozinha, depois de dois dias preparando comida para um batalhão de pessoas, minhas costas estavam queimando e meus braços quase não tinham forças. Sério! Quase pedi a Seo-Jin para me ajudar a vestir a roupa hoje de manhã porque meus braços doíam perante a mera ideia de serem utilizados.

— Chega pra lá, deixa eu te ajudar.

Yul me surpreendeu, caindo sentado do meu lado feito um saco de batatas.

Depois que se desculpou pelo que fez comigo no estúdio da KBS, ele tem tentado ser mais gentil, não que tenha se tornado tão doce quanto Dong-Wook ou tão fofo quanto Kyang Joon. Era apenas uma versão mais bem humorada dele. Mais parecida com a que os colegas de trabalho dele descreveram para mim.

— EU TAMÉM QUERO AJUDAR A NOONA! — Kyang Joon mirou e se jogou feito uma bola de canhão no meu colo.

Desde que cuidei dele na semana anterior, o menino se tornou a minha sombra. Quando não estava na escola, estudando nos cursos particulares ou fazendo alguma aula especial, estava correndo atrás de mim. E isso foi ótimo! Graças a ele, vou poder transformar o meu simples documentário em uma websérie completa! Já terminei de editar sete episódios para poder oficializar a minha inscrição. E assim que voltar a KBS vou editar os três episódios que faltam.

Kyang e Yul são muito melhores que eu e me ajudam a terminar todas as minhas tarefas em meia hora. O que me deu tempo de sobra para tomar um banho e ficar toda arrumada.

— Você não devia ficar o dia inteiro enfiado na cozinha, Dong-Yul! — Só de ouvir a voz da velha os pelos da minha nuca ficaram arrepiados. Mas desta vez ela não estava sozinha.

Meu tio e a avó do mal o fizeram se levantar e começaram a enxotá-lo dali sem cerimônia nenhuma.

— Vem meu filho. Se ficar aqui, não vai conhecer as moças solteiras da família.

— Halmoni! — ele retrucou ficando mais vermelho que o Kimchi que agora repousava na bacia.

— Sua Halmoni está certa — meu tio entreviu. — Você já é um homem e, em breve, não será mais tão jovem. Precisa pensar em arrumar uma namorada e começar sua família.

Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora