Mau humor e frango frito não combinam

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Dizer que meu coração estava batucando mais que pandeiro em desfile de escola de samba era pouco!

Eu vou rever os meninos Gong! Eu vou rever eles agora!

Foi como se toda a saudade mal reprimida que senti nesses oito anos tivesse me atropelado feito um trem-bala. Eu nem precisei fechar os olhos pra ver nós quatro correndo pelos parques de Seul, comendo jajamyeon (macarrão com feijão preto)até a barriga doer, acampando no quintal, contando histórias de terror e cantando nos norebangs (karaokês).

Em todas as aventuras éramos sempre eu, Seo-Jin, Dong-Wook e Dong-Yul. O mais velho dos meninos Gong, Dong-Yul, tem 24 anos em sua idade coreana e 23 na idade internacional (que é como você e eu contamos). No começo ele só andava com a gente porque nossos pais obrigavam ele a tomar conta de nós, mas com o passar do tempo ele passou a gostar.

Na adolescência, Dong-Yul estava sempre tão atolado com trabalhos da escola, aulas de luta, de desenho e de instrumentos musicais que a minha visita era uma pausa bem-vinda para toda essa loucura. Nos primeiros momentos do nosso reencontro ele sempre parecia um robozinho tenso, cheio de olheiras e exausto. Mas bastavam algumas horas pregando peças em nós três para que ele deixasse seu lado crianção sair para brincar.

Dong-Wook é apenas dois anos mais velho que a minha prima, mas isso nunca o impediu de me perseguir pela casa carregando um dos anéis da mãe, dizendo que se casaria comigo. Hoje em dia eu consigo achar isso fofo, mas naquela época, bastava eu escutar a voz dele pra sentir uma onda de calafrios.

Ele simplesmente entrava na sala anunciando nosso compromisso. Nunca houve um pedido oficial, apenas uma exigência formal.

É claro que um garotinho que, desde os cinco anos de idade, corre de um lado para o outro cortejando sua nova esposa causaria a maior comoção entre os adultos. Eles achavam tão bonitinho que ganhei um apelido: a noiva de Dong-Wook. Meus pais eram os únicos que não viam graça nenhuma na piada e sempre ralhavam coisas como: "achei que vocês fossem mais modernos" ou "meu Deus, eles são só crianças!", o que, para meu desespero, só fazia com que todos rissem mais.

— Estou curiosa para saber como eles estão... E para conhecer o mais novo! Ainda não encontrei Gong Kyang Joon .

— Ele estava na casa da avó paterna com os meninos. Você deve conhecê-lo amanhã.

Assustei-me quando o meu celular vibrou no bolso. Ele tinha ficado tão silencioso por tanto tempo que até me esqueci de que ainda tinha ele. Sem jeito por causa das luvas térmicas, enfiei a mão dentro do bolso do casaco e pesquei o meu celular. Era uma mensagem da Júlia!

 Era uma mensagem da Júlia!

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Júlia estava mais obcecada com o trato de resgate que eu fiz com o meu pai do que eu. De acordo com ela, "é extremamente aceitável que eu tenha uma experiência enriquecedora com a cultura coreana, desde que isso não atrapalhe a minha 'vida de verdade'". Então no segundo que as coisas ficarem forçadas demais, ou chatas demais, ou se a data do Festival de Curtas de São Paulo estiver próxima demais, eu ganho carta branca para embarcar no primeiro avião para casa.

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