Estigma

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 — Em que mão estava a aliança dele? — Foi a primeira coisa que Júlia me perguntou assim que eu botei os pés em casa e contei que não só terei aulas com Yul, como também teremos encontros de aconselhamento individual, pelo menos, duas vezes por semana.

Forcei a minha memória, tentando reconstruir a cena afim de observar com mais atenção os detalhes, mas foi inútil. No instante em que Jeff anunciou o nome de seu professor assistente, eu forcei meu cérebro a pensar em qualquer coisa que não no fato de que o cara que partiu meu coração seria meu orientador pelo próximo ano.

  — Não prestei atenção, mas não acho que isso seja importante. Mesmo que ele não tenha se casado com a Kim Go Eun, tenho certeza de que é apenas uma questão de tempo, às vezes ele só está esperando concluir seu doutorado para oficializar a união.

Ainda bem que Ally passou o fim da tarde no set porque apenas as minhas obrigações como estagiária de produção não eram o suficiente para que eu controlasse o impulso de pegar o meu celular e sair ligando para todos os meus amigos na Coreia para realizar um interrogatório completo.

O Yul ainda está na KBS? Ele já deu entrada no processo de admissão para dar aulas em alguma Universidade por aí? Ele ainda está noivo? Por que dentre todas as Universidades do mundo ele decidiu vir logo para a UCLA?

É impossível vê-lo aqui, seguindo com os planos que ele traçou para realizar seus sonhos, sem lembrar das inúmeras conversas que tivemos enquanto fazíamos de tudo para tornar o mundo um lugar menor. Um em que encurtar as distâncias entre nós não fosse tão difícil.

— Terra chamando, May! — Júlia estalou os dedos tentando atrair a minha atenção. —  Quantos quilômetros você vai correr esta noite?

— Hoje preciso de alguma coisa mais forte que apenas correr alguns quilômetros.

Fui até o nosso pequeno frigobar e resgatei uma garrafa de vinho que ganhei de presente de formatura. Eu não entendo absolutamente nada a respeito de vinhos, mas quem me deu disse que era uma bebida para momentos especiais. Então deve ser coisa da boa. O suficiente para me distrair até amanhã.

—  Então qual é o próximo passo? Qual vingança você tem planejada?

— E por que eu teria? —  perguntei enquanto servia nossas taças uma quantidade generosa de vinho.

— Porque quando vocês não estão trocando beijos ficam rosnando um para o outro. E eu pensei que depois da idiotice que ele fez com você no casamento do Sang Woo nós partiríamos com tudo pra cima dele! —  A cada palavra Júlia ia ficando cada vez mais empolgada, jogando almofadas pela sala.

— Bom ele pode fazer o que quiser — pausei para dar uma bebida no meu vinho antes de concluir. — Eu não vou continuar com esses joguinhos. Ele pode "ganhar" essa.

Júlia foi a única pessoa para quem eu contei o que aconteceu há dois anos quando Yul e eu nos reencontramos. Algumas vezes ela gostava de me torturar, me forçando a analisar o que houve. Não que houvesse necessidade, tudo sempre foi bem claro para mim. Yul só queria me fazer sentir a mesma rejeição, a mesma, dor que causei nele quando fui embora.

Mal sabe ele que quando dei as costas para tudo também parti meu coração.

 — Se eu fosse você, levaria o Kayng Joon para um passeio na Disney e tentaria arrancar o máximo de informações possíveis.

 — Não acho que entre as minhas aulas, meu estágio e meu emprego como roteirista,  à distância,  da TvN me deixem com muito tempo para chantagear uma criança.   

 — Bem, só estou dizendo que se meu ex aparecesse na minha universidade depois de sumir do mapa por dois anos, eu gostaria de saber exatamente o que o trouxe de volta à superfície.


Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora