Durante um mês, todos os dias, eu tentei falar com Seo-Jin a sós e durante um mês eu falhei miseravelmente. Em defesa da minha prima, ela nem precisou se esforçar muito. Durante a semana eu sempre acordava mais cedo que ela e só voltava da KBS depois que todos na casa estavam dormindo. Nos fins de semana Seo-Jin desaparecia e quando ela estava por perto, sempre havia ouvidos demais.
Mas não pude deixar de notar que o apetite dela aumentou consideravelmente e que suas bochechas estavam mais redondinhas. Também ficou evidente que, antes de desaparecer, ela sempre dava uma passadinha na cozinha e saía de lá com os braços carregados dos mais diversos lanches.
Quando eu perguntei o porquê de tanta comida ela se limitou a responder "só... tenho sentido mais fome ", com a maior cara de culpa do mundo.
Um dia cheguei a entreouvir uma conversa entre ela de Dong-Wook que deixou minhas antenas ligadas. Foi logo depois de eu levá-la para o nosso quarto, para uma conversa, pela centésima vez. Assim que comecei a subir as escadas, Dong-Wook correu até Seo-Jin e disse:
— Não podemos contar nada para a May. Agora ela está do lado de Yul, não vai nos apoiar.
— Mas eu tenho certeza de que ela já sabe do que se trata. Tem me dado várias indiretas... Não acho que consigo esconder isso — ela disse olhando para baixo —, por muito mais tempo. E eu vou precisar de apoio aqui depois que você for para o alojamento da SM.
A possibilidade de estar certa me assustou tanto que decidi deixar o tempo se encarregar das coisas para mim. Nunca pensei que ele seria tão rápido.
— Seo-Jin! — chamei batendo na porta do banheiro.
A cama dela estava vazia e fria, como se ela tivesse saído no meio da madrugada, mas a porta do banheiro estava fechada e por baixo do batente eu via uma fresta de luz.
— Seo-Jin!
Dessa vez, quando bati na porta ela se abriu sozinha, revelando o banheiro completamente vazio. Mas havia uma energia estranha no ar, como se o lugar tivesse sido abandonado às pressas. Deixei meus instintos me guiarem e vasculhei as gavetas e armários onde Seo-Jin costuma guardar suas maquiagens e remédios. Em um deles, achei um saquinho de farmácia cheio de caixas. Quando joguei seu conteúdo em cima da pia, senti meu sangue gelar. Li as embalagens de todas as caixas umas 30 vezes (até procurei a tradução no Google) para ter certeza de que estava entendendo corretamente.
"Teste de gravidez".
Lê-las foi o suficiente para que eu sentisse um bolo se formar na minha garganta.
Todos já tinha sido feitos, Deus sabe há quanto tempo. Abri a tampa de uma, depositei seu conteúdo na pia e me deparei com o resultado que se repetiu em todas:
POSITIVO.
Me apoiei na pia para não cair no chão enquanto o banheiro entrava e saía de foco.
MEU DEUS, no que foi que eu me meti?
É tudo culpa minha...
Por que esses idiotas não se protegeram como eu ensinei?
Meus tios, a avó do mal e o Yul vão entrar em uma competição para ver quem terá o direito de acabar com a minha raça.
Melhor ligar para a companhia aérea e remarcar a minha volta para hoje.
— May? — ouvi Yul chamar do corredor. — Vamos nos atrasar.
Joguei uma água na cara, troquei de roupa, recolhi todas as provas do crime de Seo-Jin, coloquei em um saco plástico e guardei dentro da minha bolsa. Eu descartaria tudo aquilo na primeira lixeira que cruzasse o meu caminho.
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Conexão Seul [COMPLETO]
RomanceDesde que eu me entendo por gente meu maior sonho é ser cineasta. De Hollywood mesmo, nada de falsa modéstia aqui. Enquanto crescia, assisti à todos os filmes possíveis. Observando e me apaixonando pelo estilo, enquadramento e fotografia de todos el...