Mal entendidos em série

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Quando finalmente cheguei em casa, meus olhos ardiam tanto que parecia que eu tinha entrado no meio de uma guerra de areia no parquinho e sido atingida em cheio na cara por um punhado generoso.

Seo-Jin, um anjo que faz a minha vida em Seul ser muito mais fácil, me botou pra dentro do quarto sem que eu tivesse que ver ninguém, justificou minha ausência no almoço com um surto de gripe ou virose qualquer e ficou do meu lado, escutando todas as minhas queixas e lamentações a respeito do que eu fiz e da reação exagerada de Gong Dong-Yul.

— Eu juro que não entendo o que deu no Dong-Yul oppa —  ela disse quando veio me trazer o almoço no quarto. —  Talvez seja a proximidade do Ano Novo Lunar... Ele sempre fica meio esquisito nessa época.

Seo-Jin ficou me encarando por uns segundos, como se refletisse se deveria ou não me contar suas suspeitas. Ela abria e fechava a boca, como um peixe que cai fora do aquário e tenta, inutilmente, sugar algum oxigênio no ar.

Como já estou enterrada até as orelhas na bagagem emocional de Dong-Yul, achei melhor fingir que não percebi e puxar outro papo.

— Acho que agora é a hora quem eu aceito a sua oferta para de me apresentar ao mundo dos dramas coreanos.

—  Sério? —  A minha prima me abraçou com força e saiu saltitando pelo quarto para buscar o computador.

A reação dela foi tão fofa que fez com que eu me sentisse um pouquinho melhor.

— Tenho que aprender mais sobre eles se quiser realmente terminar esse documentário ou escrever o piloto para o tal concurso.

Não me esqueci da promessa que fiz para ela. Vou ajudá-la a pagar pelos 300 CDs que ela comprou em um surto de loucura.

— Você fica aí. Eu vou buscar algumas guloseimas e refrigerantes para você.

Escutei os passos pesados dela ao descer a escada, também escutei quando, na volta, seus passos entusiasmados foram interrompidos no meio da subida.

—  Onde você acha que vai? — A raiva na voz de Seo-Jin me pegou de surpresa. Ela é sempre tão doce e meiga... nunca pensei que fosse capaz de se dirigir a alguém deste modo.

— Eu preciso falar com a sua prima.

Yul.

O que ele veio fazer aqui? Gritar comigo mais um pouco? Contar tudo para o meu tio? Desde o incidente do dia em que nos encontramos até a besteira que eu fiz no trabalho dele?

Ele seria tão baixo assim?

Meu sangue gelou nas veias no mesmo segundo que meu cérebro registrou que ele poderia ser capaz de qualquer coisa.

Tenho que parar de esperar que ele se comportará como o Yul das minhas memórias de infância. Muita coisa aconteceu no tempo que passamos separados, nós mudamos demais e, mesmo que meu carinho por ele seja o mesmo, se quiser parar de deixá-lo me atingir desse jeito, tenho que aceitar que meu amigo ficou no passado e me dar espaço para conhecer esse novo homem.

— Você não vai dar mais um passo! — Ai meu Deus, ela não está usando honoríficos com ele!! — Sabe quanto tempo demorou para ela parar de chorar?

—  Eu...

—  Vai pra casa Gong Dong-Yul. 

Fingi que estava distraída demais olhando os dramas coreanos no computador para escutar a discussão. Se Seo-Jin percebeu, não deixou transparecer.

— Pronta para a sua maratona?

— Sim!

— Recomendo que você assista Goblin, Descendants of the Sun, The Heirs, W e The Legend of the Blue Sea.

Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora