Presa em uma mentira

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Setembro de 2021 - dois anos depois do casamento de Sang-Woo e Joon-Young

Eu sabia que a minha "fama" como novata no mundo do cinema underground não me ofereceria grandes vantagens no gigantesco mercado americano, mas nunca pensei que ser babá de uma criança de três anos estaria dentro das minhas funções como produtora júnior.

Durante a maior parte da minha primeira semana de emprego eu fiquei correndo de um lado para o outro no lote da Warner em Burbank, carregando uma mochilinha das princesas e um copinho cheio de glitter cor-de-rosa, tentando acompanhar as peripécias de Ally. A filha única de Jeff Benjamin, produtor sênior do filme Star Wars: episódio X e meu chefe.

Sempre que Ally se jogava no chão implorando por um doce ou saía correndo com algo caríssimo do cenário em suas mãos eu repetia o seguinte mantra para mim mesma:

Tudo bem May. Você só precisa aguentar esse sufoco e desempenhar um bom papel para finalmente ter uma voz dentro do set de filmagens.

E tirando as vezes em que ela parece estar possuída pelo demônio, Ally era uma garotinha bem engraçada.

— May! — Jeff, saiu da reunião com o diretor afrouxando a gravata, seu semblante mais esbaforido do que quando ele entrou. — O J.J adorou a sua ideia para os efeitos sonoros! Parece que vamos conseguir gravar no fim de semana!

— Que ótimo, Jeff! Fico feliz em poder ajudar a equipe.

Senti meu coração acelerar com a perspectiva de finalmente arregaçar as mangas em um blockbuster de uma franquia gigantesca como Star Wars. Nem tive que fechar os olhos para imaginar meu nome entre o dos milhares de funcionários creditados no filme.
Do alto dos meus sonhos mais doces, arrumei minha postura e me preparei para ouvir as palavras que espero desde o meu primeiro dia como funcionária da Lucas Films.

— Você se incomodaria de nos acompanhar durante a filmagem?

— Seria um prazer! — respondi antes que meu chefe tivesse a oportunidade de terminar de falar.

— Que ótimo! Estava preocupado porque a minha ex-esposa não poderia ficar com a Ally e é impossível arrumar uma babá de confiança de última hora nesta cidade.

Babá!!!
Alguém avisa pra esse idiota que a descrição do meu trabalho não inclui ser babá da filha dele!

— Ah e é claro que você vai poder fazer uma coisinha ou outra na produção. É só que você é a única que Ally obedece — ele disse displicentemente enquanto procurava o celular nos bolsos da calça.

Sei.

Se ele se desse ao trabalho de disciplinar a filha dele, aquele monstrinho não seria assim.

Cerrei os punhos e estreitei os olhos, pronta para ameaçar denunciá-lo por abuso de poder quando ele interrompeu a busca pelo celular para me encarar e disse:

— Fiquei sabendo que você está no nosso programa de mestrado na UCLA. Parabéns! Sempre escolho meus discípulos favoritos lá.

Como se eu não soubesse disso! O principal motivo que me levou a fazer a inscrição no mestrado da UCLA foi que, além de ser um dos melhores dos Estados Unidos, vinha com a possibilidade de trabalhar com um dos melhores produtores do país.

Sem dizer mais nada, Jeff deu uma piscadinha acompanhada de um sorriso bobão e voltou para os afazeres de produção que ele ainda se recusa a dividir comigo.

Quantos testes ainda vou ter que enfrentar para que ele passe a confiar em mim?

Mais uma vez, cheguei em casa cansada, suada por causa do calor seco de Los Angeles e sem um pingo de paciência. Ao entrar, bati a porta da sala com mais força do que o planejado e passei direto para o meu quarto, sem me dar ao luxo de fazer uma parada estratégica no sofá da sala.

Conexão Seul [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora