85. Será que seguimos realmente?

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PDV. Lúcia

Passados 4 anos...

Sentei-me na minha mesa favorita, junto à janela, com vista para o rio. A melhor. Todos os dias à mesma hora ali estava eu, sentada a lanchar e a trabalhar.

A minha vida tinha dado uma grande volta desde que tinha regressado a Londres. O curso de artes tinha passado para segundo plano quando encontrei uma nova paixão, a escrita. Quem diria que me ia render às palavras... acredito que tudo o que tinha deixado em Portugal tinha sido a minha inspiração. Passaste muito tempo sozinha. Essa era outra verdade, tanto tempo em comunhão comigo mesma reproduziu-se na escrita. Segui então para um curso de jornalismo, algo que também nunca tinha pensado em toda a minha vida, mas não deixei as artes.

A música estava sempre presente em mim, era como se fizesse parte de mim para todo o sempre, por isso estava a trabalhar no meu primeiro disco e de originais com a ajuda do meu pai, e também costumava cantar em bares uma vez ou outra. Apesar de me satisfazer, não o fazia por completo, daí o curso de jornalismo. Também a dança e o teatro continuaram a fazer parte da minha rotina. Juntei-me a um grupo de teatro amador, e frequentava as aulas de dança no ginásio onde ia todas as semanas, pois é até o desporto regular tinha entrado na minha vida. Contudo com a agenda tão preenchida não tinha tempo para uma coisa, o amor.

Encerrei esse capitulo da minha vida quando parti de Portugal, vinha concentrada em focar-me em mim, e no meu sucesso, fosse no que fosse, e assim foi. Quando vi que o curso de artes não era para mim, a realidade é que tinha criado espectativas demasiado altas que caíram por terra quando percebi do que se tratava, procurei algo que o fosse até chegar ao jornalismo. Em toda a minha jornada o amor não estava nos meus planos, contudo não o reneguei, simplesmente não o procurei. Passaram alguns homens pela minha vida nos últimos 4 anos, mas nenhum que realmente quisesse ficar, talvez a culpa também fosse minha, não dedicava tempo suficiente às relações.

Quanto ao que deixei em Portugal tentei não ter qualquer contacto. Sei que tentaram, mas ele não tentou. Por um lado, agradeço que o Guilherme não me tenha procurado, por outro sinto que ele talvez não gostasse mesmo de mim.

- A coffee, please. – Pedi ao empregado que anotou, e foi até ao balcão. Gostava daquele local porque era suficientemente calmo para poder trabalhar nos meus diversos projetos. Tinha que me preparar para um estágio que ia ter numa editora, graças a uma amiga do meu pai, consegui estagiar, era fantástico.

- Thanks. – Agradeci, vendo o café a ser posto em cima da mesa.

- De nada. – Respondeu o empregado surpreendendo-me. Era um café típico inglês normalmente não sabiam falar português, desviei olhar do computador e observei pela primeira vez o homem que estava na minha frente. Não pode ser.

De todas as pessoas que alguma vez eu pensava em encontrar em Londres certamente que ele não aparecia na lista. Mas o que ele faz aqui? Ter o Guilherme na minha frente, vestido com a farda do café, e principalmente em carne e osso era de outro mundo.

- O que é que fazes aqui? – Perguntei ainda surpreendida.

- Trabalho aqui. – Respondeu sorridente. Com aquele sorriso que durante este tempo não me saiu da cabeça.

- À quanto tempo? – Perguntei curiosa, eu frequentava aquele lugar diariamente e nunca o tinha visto.

- Comecei hoje, e quem diria que seria o melhor dia para isso. – Respondeu antes de regressar ao seu posto.

Vê-lo afetava-me. Por mais que tivessem passado 4 anos e de ter sido um namoro de adolescentes, ele não me era indiferente. Todos me disseram que eu ia superar e que nunca mais me lembraria dele, porque é um amor de crianças, mas nenhum de nós o era.

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