Love Will Tell Us Where to Go || ✔️

33. Auréolinhas Papudo

PDV. Guilherme

O meu cérebro congelou e isto não passou de um sonho”

Eu estava atónico, devia estar vermelho que nem um pimento, ainda bem que no local onde estava quase ninguém me conseguia ver. Não acreditava que a Lúcia tinha tido coragem, descaramento, o que lhe quiserem chamar para me fazer aquilo. Que linda demonstração, fiquei bastante esclarecido!

Levantei-me e sentei-me encostado a uma árvore, eu precisava de pensar, e muito. Não acreditei muito na historiazinha de que estavam a falar muito perto um do outro, e as mãozinhas? Estavam a coçar-lhe as costas? Deve pensar que eu nasci ontem.

Eu tinha três opções, acreditava, ou melhor fingia que acreditava, não acreditava, ou ignorava o sucedido. O último era um bocado difícil, porque cada vez que fechava os olhos, aquela imagem deprimente invadia a minha mente, deixando-me no mínimo enojado.

Precisava urgentemente de um psicólogo. Supostamente no fim do mundo a vida era pacata, pelo menos para o comum dos mortais, mas para mim, parecia que não, estava destinado à desgraça.

«- Segue o teu coração, Guilherme. – Murmurou o anjinho que permanecia no meu ombro.

- Por amor de Deus, não vais ligar a esse auréolas, só diz disparates. - Resmungou desta vez o Diabo, levantando-se do meu ombro e encostando-se ao meu pescoço. – Vai mas é ter com a miúda, joga esse charme cá para fora e mostra-lhe quem é o Guilherme Silva.

- Meu Deus, perdoe este pecador, que ele não sabe o que diz. – Rogou o anjo, perante a cara de espanto do Diabo.

- Não ligues. – Pediu-me. – Vai lá, que eu ainda quero ver que conheço uma Diaba hoje. – Falou, esfregando uma mão na outra.

- É uma boa ideia, que eu assim conheço alguém para alguém desse atrasado. – Constatou o Anjo, tocando na sua harpa.

- Mas para que é que queres conhecer alguém, Auréolinhas Papudo? Tu nem sexo tens… Mas uma pessoa vê logo que não és homem, com esse vestidinho e essa harpa mais ferrugenta que o carro da minha avó! – Comentou o Diabo, que se começou a rir, perante a irritação do Anjo.»

Sacudi da minha cabeça todas as fantasias com Anjos e Diabos, que cada vez se tornavam mais frequentes. Mas quando é que eu virei desenho animado?

Os meus pensamentos foram cortados com o barulho do meu telemóvel. Retirei-o do bolso, desbloqueio que a mensagem era da minha mãe. Mas o que é que esta quer agora?

«Marquei-te a tão desejada consulta para os olhos. Como sou influente, consegui uma vaga para hoje à tarde, por isso chega a horas decentes a casa. Beijocas»

Finalmente, já não era sem tempo, desde do inicio das aulas que me andava a queixar, mas ela ignorava sempre o que eu lhe falava. Vais usar óculos! – lembrou-me o meu subconsciente. Eu estava com certas esperanças que não fosse necessário passar a usar óculos, porque ia passar a ser o Guilherme de 4 olhos, ou Guilherme, o caixa de óculos.

Olhei para o relógio e estava quase a tocar, e eu tinha que tomar uma decisão. Ia ou não ia falar com ela? Eis a questão, à qual eu não tinha a mínima resposta.

Posso sempre esquecer o sucedido, e apagar as imagens da minha cabeça. Ou talvez ela tivesse a dizer a verdade e apenas foi ilusão óptica. E eu até gostei da demonstração…

Levantei-me tentando ganhar coragem para lhe falar. O que é que eu vou dizer? Queres repetir a demonstração? Abanei com a cabeça para que as ideias parvas saíssem da minha mente, para que me focasse no que era importante.