43. O Trabalho do tempo

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PDV. Lúcia

                Depois de ter entupido a minha cabeça com acções estúpidas realizadas por mim, porque afinal de contas, eu faço isso durante todo tempo, já nem me devia maçar com isso, resolvi arrumar o assunto numa das mais altas prateleiras da minha massa cinzenta para que com o meu 1,50 m, não consiga voltar a tirar de lá. Ou pelo menos pensava eu, porque mesmo assim acho que fui buscar um escadote, porque não estava a conseguir deixar de pensar no Guilherme.

                Peguei no telemóvel para me redimir dos meus pecados, não me arrependia do que tinha feito, ele mereceu ouvir aquilo, mas podia ter sido em particular, sem uma criança de 5 anos, que iria contar à mãe dele, por perto. Erros de cálculo, acontece até aos melhores.

Desculpa aquilo de ontem, agi mal, não devia ter dito nada à tua prima, mas sinceramente não resisti. Mais uma vez desculpa, não quero ficar chateada contigo, no entanto se achares que deves ficar, força, tens o meu apoio para cortar relações comigo. Beijinhos”

                Foi a melhor coisa que me saiu no momento, não queria que ele me excluísse dos amigos do Facebook, nem de mais nenhuma rede social, e principalmente não queria que me banisse da sua vida real.

Acho que pela primeira vez estava a gostar de verdade de alguém, porque senão nem me dava ao trabalho de pensar no que ele pensava de mim, ou se não gostava do que eu tinha dito ou feito, sempre fui muito resolvida no que toca a assuntos de gostar ou não gostar do que eu faço, é simples estou-me a lixar para se gostam ou não, mas com o Guilherme é diferente, eu preocupo-me com o que ele acha das minhas acções, da minha roupa, do meu cabelo. Coisas que sempre achei fúteis, que critiquei nas barbies que passearam pela minha vida social. A questão era que eu estava a ser assim, a deixar que o meu exterior valesse mais para os outros que o meu interior. O exterior, nós podemos mudar sempre que quisermos, é passar no cabeleireiro, ou numa clínica de estética, e problema resolvido, enquanto o interior, a nossa essência não se muda de qualquer maneira.

Talvez te desculpe, eu sei que não me querias arranjar problemas, apesar de tudo. E eu admito, mereci ouvir aquilo, mas eventualmente um dia possas ouvir a minha história e percebas que tudo na vida tem uma razão de ser. Quanto a deixar de falar para ti, se fizeres muita questão, eu deixo, mas só se quiseres, porque a mim não me apetece. Beijinhos”

A resposta dele, que passo a informar tardou em chegar, trouxe-me uma certa descontracção, digamos que: ele não me ia excluir da sua vida, pelo menos naquele momento, por isso eu estava aparentemente bem.

A partir desse dia as minhas energias foram direccionadas para a passagem de ano, eu queria uma noite inesquecível, com os meus amigos. Coisa que não foi possível, tudo porque o meu querido irmão resolveu, por mim, que iríamos ter algo mais familiar, visto que os meus pais estavam ambos a passar tempo connosco. Não me interpretem mal, mas não é o revillion de sonho de uma adolescente, neste caso eu. Eu sei que a idade ainda pesa nestas coisas, e que os meus 15 anos não ajudaram, mas pelo menos uma festa eu mereceria.

Mas tirando o sofrimento a pensar como iria festejar, ou quais os desejos que ia pedir, aproveitei para comprar prendas de natal para os meus amigos. Eu a mãe natal, sempre presenteei os meus friends com presentes, na maioria tabletes de chocolate gigantes.

                                               ***

Passou-se a passagem de ano, as férias acabaram e era altura de voltar à escola. Depois do deprimente Revelion sem uma pinga de álcool, porque os meus papás não queriam que eu passasse os limites. Como se não bastasse ser a única com o fígado limpo naquela sala, o meu caro irmão fez-me prometer que no novo ano não lhe fazia nascer possíveis cabelos brancos, resumindo, não me metia em problemas, ia ser uma boa menina. Como eu não gosto de fazer promessas que não tenho a certeza que consigo cumprir apenas prometi: “Vou tentar não me meter em confusões desnecessárias.” Sempre é melhor que nada.

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