51. Vai sair daqui problema.

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PDV. Lúcia

Abri os olhos e reparei que estava num quarto de hospital. Tudo em tons branco ou com cores que deixavam qualquer pessoa saudável doente só de as ver.

Olhei para uma poltrona que estava do lado direito, e vi o meu irmão Ruben, sentado nela, a dormitar. Mexi-me com cuidado para não fazer barulho, mas mal mexi um braço ele abriu de imediato os olhos.

- Estás bem? – Perguntou levantando-se e dirigindo-se a mim.

- Dentro dos possíveis, depois de tudo. O Guilherme? – Questionei preocupada.

A última coisa de que me lembrava era da polícia ter aparecido e o Jaime ter levado o Guilherme em peso até à porta, e depois o tiro. Se ele estiver morto eu nunca mais me perdoarei.

Ele não podia morrer, não por minha causa.

És um problema. – A voz da Beatriz ecoou na minha cabeça.

- Depois falamos dele, temos outras coisas para falar. – Respondeu, apenas revirei os olhos. – Porque é que não me contaste nada? Porque é que aquele nojento já te tinha tocado e eu não fui informado disso? – A sua posição do lado da minha cama tinha sido abandonada, e eu apenas o via de um lado para o outro como se fosse uma barata tonta.

- Eu tinha medo. – Murmurei.

- Medo de mim? – Neguei, e ele passou a mão direita pela cara. – Não percebo, se me tivesses contado tudo poderia ter sido diferente.

- Não. – Contestei. – Se eu o tivesse feito, e eventualmente ele fosse preso, fugiria de qualquer maneira, como conseguiu fazer agora. – Expliquei, tentando que o meu irmão percebesse o meu lado, apesar de ter a plena consciência de que isso era praticamente impossível. – Ele estava louco por mim.

- E mesmo assim não tiveste medo?

- Queres mesmo saber do que eu tinha medo? – Perguntei, entrando no jogo dele. O Ruben assentiu e eu prossegui. – De que me mandasses para a mãe. – Vi-o a sorrir.

- E porque é que eu o iria fazer? – Perguntou, como se suplicasse a minha resposta, e ao mesmo tempo estivesse saturado de toda a situação.

- Porque eu sou um problema, porque era a gota de água e acabarias por te fartar de mim. – Respondi, sentindo as lágrimas a quererem sair dos meus olhos.

Ele parou em frente à minha cama, e apoiou as mãos, na barra frontal da cama, olhando para mim.

- Eu não me vou fartar de ti. – Respondeu, dando um suspiro. – Já fizeste coisas bem piores e não te mandei recambiada para a mãe, não era por isto que o ia fazer. – Fez uma pausa e fitou-me. – Eu apesar de todos os defeitos que tens, e olha que são muitos, eu amo-te Lúcia. Para mim és a minha irmãzinha, aquela miúda gorducha que veio viver comigo.

- Evitavas lembrar-me que eu era uma baleia. – Resmunguei, com a sua lembrança.

- Eras super fofa. – Contestou.

- Já não sou? – Perguntei chateada.

- Super fofa? Não, és apenas fofa. – Respondeu, vendo-me amuar.

A porta do quarto abriu-se, e apareceu o resto da minha família, menos o meu pai. O meu irmão, primo, irmã, e a minha mãe, surpreendendo-me como sempre faz.

Não deve saber avisar.

A presença da minha irmã Patrícia também era esquisita, a nossa relação não era boa, para não dizer péssima, e a presença dela quando eu fazia alguma asneira era escusada, e muitas vezes ela própria se recusava a comparecer nas reuniões familiares.

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