19. "Por essa é que eu não esperava"

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PDV. Lúcia

            Naquele momento nunca me passaria pela cabeça que viria a beijar o Guilherme. Ele estava a ser tão carinhoso comigo, a limpar a estúpidas das lágrimas que teimavam em molhar a minha cara e a deixar os meus olhos vermelhos como um tomate. O abraço dele reconfortava-me, o toque dele fazia-me arrepiar, o voz dele, calma e serena, fazia com que eu acreditasse que tudo estava bem, quando na realidade á minha volta estava a dar-se a 3ª Guerra Mundial.

            Não queria descolar-me dos lábios dele, não queria que ele se afastasse, e não me queria afastar. Não sabia o que estava a acontecer no meu cérebro, para não o empurrar e ir a correr para longe, normalmente era o que faria, o que fiz muitas vezes. Mas desta vez era diferente ele não me tinha apanhado de surpresa, porque quando o vi a olhar para mim, com aquele olhar carinhoso, eu apenas pensava em beijá-lo. Percebi que ele ao inicio estava indeciso, e estava a adorar aquilo. Porquê? Não faço a mínima, apenas aquele gostinho de olhar para ele.

            Mas como eu ainda preciso de ar para respirar e ele também, tivemos de nos separar. Durante todos aqueles segundos que estive colada a ele, me tinha esquecido de como iria voltar a olhar para a cara dele, o que faria?

            Afastamo-nos e ficamos a olhar um para o outro. Eu tinha um sorriso no rosto e ele também. Tinha-me esquecido da cena que se passava á minha volta. Passei a mão pelo cabelo e dei um passo em frente, olhando para o cenário que estava na minha frente.

            Finalmente a luta tinha acabado, e os perseguidores tinham ido embora. Vi o António sentado no banco com uma garrafa de água encostada ao lábio, que estava inchado e a deitar sangue.

            Aproximei-me dele, sentando-me ao seu lado. Não o consegui olhar nos olhos, a culpa dele estar assim era minha, e só minha. Ele odeia lutas, confusões, tudo o que envolva violência. Para ele tudo pode ser resolvido com diálogo. E agora estava ali com o lábio a sangrar, com um olho meio arroxeado e eu sem nenhuma mazela, não era justo.

            - Estás bem? – Perguntou, olhando para mim.

            - Eu estou. Agora de ti não se pode dizer o mesmo. – Respondi. – Desculpa, a culpa é toda minha.

            - Não te martirizes, não vale a pena. Eu voltaria a fazer tudo de novo. – Respondeu, encostando a garrafa mais perto da ferida.

            - Não tinhas que o fazer. – Contestei. Ninguém tinha de o fazer, nem ele, nem o Pedro ou o Rafael e muito menos o Jorge, que quase nem fala comigo.

            - Tu és a minha melhor amiga. E não foi nada que não tivesses feito por mim. – Não era verdade, eu não tinha ficado com mazelas assim tão marcadas.

            Olhei em volta, e vi a Sara aflita a correr para onde estávamos. Notava-se que estava preocupada, e não era comigo, a sua amiga de infância. Aproximou-se de nós, um pouco reticente, e ajoelhou-se em frente ao António.

            - O que aconteceu? – Perguntou-lhe preocupada.

            - Nada de mais. – Respondeu o António, virando a cara para o lado, escondendo a ferida que tinha no lábio. Mas mesmo assim, ela pegou-lhe no rosto e virou-o para ela.

            - Nada? – Perguntou ironicamente. – Isto aqui não tem aspecto de “nada”. – Falou apontando para a ferida que ele tinha no lábio. – Anda comigo, vamos tratar disso. – Falou ela, levantando-se e pegando na mão dele. Sempre pensei que ele recusa-se ir com ela, mas em vez disso levantou-se e caminhou ao lado dela, e principalmente iam de mãos dadas. “Vai haver alguém que não vai gostar nada disto.”

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