Capítulo 9

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    Parado atrás de Heloise estava o "senhor estresse" da semana passada que destruira seus relatórios e ainda por cima foi grosso com ela.

  — Ah. — sibila Heloise. — Você. Oi.

Eles ficam se encarando por um tempo sem motivo. Então ele sorri, o que deixa Heloise extremamente surpresa pois até hoje nunca havia visto aquele garoto sorrir, um sorriso que curiosamente não chega aos olhos.

Ele dá um passo para a frente e acena em direção ao lugar vazio do lado dela.

  — Posso?

Ela dá de ombros.

  — Fique a vontade. — Heloise diz procurando um ponto específico no balcão para encarar enquanto ele se sentava do seu lado.

O "senhor estresse", como Heloise continuava o chamando em pensamentos, era intimidador com seus um e oitenta ao que Heloise tinha apenas um e sessenta. Mesmo sentado, Heloise se sentia pequena do seu lado.
Ele estava com uma camisa de mangas compridas, ao mesmo tempo que dobradas até os cotovelos, pelo que parecia de textura jeans. Heloise lança um pequeno olhar discreto para sua calça com tom marrom claro.

Ele parecia sexy do ponto de vista que ela estava. E esse pensamento logo passou na cabeça dela, que deu uma pequena chacoalhada para pôr os neurônios no lugar.

  — Está... — ele lança um olhar para ela. — Sozinha?

  — Não, vim com alguns amigos.

Heloise vê o momento que ele olha ao redor meio que procurando alguma coisa.

  — E onde estão? — pergunta se virando para ela.

  — Por aí. — responde. — Te preocupa?

Ele sorri de novo. O mesmo sorriso de aparência forçada, que não chega aos olhos.

  — De forma alguma. — responde a Heloise. E então fica sem jeito, coçando a nuca, esfregando as mãos e logo sua apreensão passa para as pernas que começa a ser balançada freneticamente.

Heloise lança um olhar de interrogação para ele.

  — Algum problema? — pergunta ela.

  — Err... não. — ele diz quando ela encara suas reações de nervosismo o fazendo se concertar na cadeira. Estava nervoso por causa dela? — Na verdade, eu... Eu gostaria de me desculpar com você.

  — O quê? — o queixo dela cai.

  — Sim, me desculpar. — começa. — Fui muito rude com você na semana passada e acabei descontando um péssimo dia em cima de alguém que nem culpa tinha. — acrescenta. — Fiquei pensando nos seus papéis a semana toda. Ferrei com tudo?

  — Hum, não. Já resolvi tudo. — ela responde sincera. — Só tive que me desfazer de uma blusa, porque a mancha não quis sair.

Então ela sorri consigo mesma, pelo comentário tão estúpido.

  — Mas por que não me procurou na faculdade? — pergunta Heloise.

  — Hum? — ele arqueia a sobrancelha. O que deixa ela com uma leve impressão.

  — Para se desculpar. Por que não me procurou na faculdade?

  — Eu nunca te encontrava, nem mesmo no refeitório. — responde encontrando o olhar dela. — Parecia que estava me evitando.

  — E eu estaria certa se te evitasse. — completa Heloise.

  — Não. Eu não sou tão ruim. — ele rebate. — Só estava num dia difícil. Mas por isso te peço desculpas pelo comportamento tão...

  — Estúpido. — ela solta sem pensar. Ele arregala aqueles olhos verdes sombrios em sua direção. — Ah... seu comportamento... que foi estúpido... — ela tenta concertar o que disse. — Não você. Quer dizer, você foi um pouco... Não foi isso que eu quis dizer...

  — Tudo bem. — ele interrompe Heloise.

  — O que eu quis dizer foi que realmente o seu comportamento foi... estúpido. — ela responde num sopro.

  — Você tem razão. Eu fui estúpido. — diz. — Não costumava ser tão mal humorado antes da morte de minha mãe.

Heloise fica rígida. É uma revelação e tanto para um clima tão descontraído de um bar. Ela gostaria de se sentir honrada pela declaração do rapaz, mas só consegue pensar o que estavam fazendo conversando. Eles nem se conheciam. Nem os nomes sabiam, e isso a fez lembrar da noite em que conhecera o príncipe desconhecido e nem seu nome sabia. E sentia que nunca saberia.

Não soube ao certo porque ele disse isso e para qual finalidade tenha dito, mas deixou uma pontinha de remorso em Heloise, que lhe ofereceu um sorriso amistoso e sincero. Ela sabia fazer isso como ninguém. Teve outra vontade, mas se controlou em não colocar sua mão sobre a dele. Era algo íntimo demais e poderia abrir portas para ele achar que ela estaria interessada em algo a mais, mas por enquanto ela só queria demonstrar sua compaixão.

  — Águas passadas. — ela comenta. — Esquece.

Ele tenta sorrir, e então encara os profundos olhos negros de Heloise com seus tão intensos olhos verdes.

  — O que acha de recomeçarmos? — comenta ele.

  — Como assim? — ela rebate sem conseguir evitar uma arqueada de sobrancelha.

  — Assim... — ele se levanta do cadeirão e fica em pé diante Heloise. — Oi. Me chamo Colin, prazer. — então estende a mão em um cumprimento.

Heloise ainda surpresa vai se levantando abobadamente da cadeira tão alta, onde seus pés mal tocavam o chão.

  — Hum... Oi. — eles apertam as mãos educadamente. — Prazer, Heloise.

  — Heloise. — Colin repete com um sorriso malicioso e divertido no rosto. — Gostei. Combina com você.

  — Colin também combina com você. — Heloise rebate. Então sorri, enquanto ele ainda a encarava, com as mãos ainda juntas. Ela sente sua face queimar de leve, porque ele ainda não soltara as mãos. — Já... pode, soltar... né... as mãos?

  — Oh desculpe. — Colin joga sua mão longe, sem graça. — Nem... percebi. Desculpe. — ele passa a mão no cabelo escuro. — Então está tudo bem agora?

  — Sim. Está tudo bem. — responde Heloise sincera. Colin suspira.

  — Achei que ia ter de fazer um pedido público de desculpas para você.

  — Não será necessário. — ela rebate. — Mas me deve uma blusa nova.

Colin ri.

  — Você é engraçada.

  — Estou falando sério. — Heloise solta. O sorriso de Colin morre pela expressão séria de Heloise. — É brincadeira.

Os dois começam a rir. Colin tem uma risada gostosa de se ouvir, quase familiar. Mas ela não sabe dizer de quem se parece. Talvez já tenha ouvido em algum filme que adorava. Era isso mesmo.

E ficaram ali. Conversando sobre coisas aleatórias, um e o outro tentando manter o assunto vivo. Heloise pode ter se enganado com o "senhor estresse". Quem sabe ele não adicionaria algo de interessante em sua vida tão parada? Quem sabe ela já não estivesse interessada agora, para a confirmação de Margot?

Quem sabe?

Apenas estava satisfeita de ter uma companhia.

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