Capítulo 1

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   — Nem pensar! — Heloise esbraveja. — Não vou em nenhuma festa produzida pelos Campbell novamente.

Sua mãe arqueia uma sobrancelha, um dos hábitos mais compulsivos que Heloise já vira em alguém antes. Como uma pessoa poderia fazer aquilo tão bem e tão intimidadoramente?, pensou.

   — Isso é extremamente importante. — explica Margot. — Você sabe o quanto aquele lunático do meu chefe quer impressionar o bacharel Walter.

Havia três dias que Heloise fora avisada pela mãe que o tão grande e renomado e nada gentil Cosmo Campbell, dono das indústrias mais poluentes e prestigiadas da sua cidade, indústrias que ironicamente vinham com a assinatura C.C., que  ela se esforçava ao máximo para não soltar gargalhadas diante daquela pronúncia cômica... Cosmo Campbell, ganancioso, explorador, arrogante e autoritário, daria um baile de boas vindas desejado ao bacharel Walter, figura de muita importância para os olhos pretensiosos do empresário.

Só de pensar em estar no meio de pessoas com o mesmo espírito do grande Campbell embrulhava o estômago de Heloise, que tivera de presenciar várias vezes os ataques rudes e comportamento desrespeitoso do anfitrião. E ela não estava nem um pouco satisfeita da sua mãe, tão boa e generosa, se submeter aos caprichos daquele homem, ainda. Margot Wright era na verdade gerente geral nas Indústrias C.C., tanto a própria, quanto Heloise sabiam arduamente que era um papel importante e de boas assistências financeiras em casa. Mesmo sendo um fanfarrão ele ainda assim parece adorar dar dinheiro a funcionários competentes, dizia Margot o tempo inteiro para que Heloise não reclamasse tanto. Mesmo assim Heloise o odiava. Tinha motivos para isso, mas não os jogaria na cara da mãe.

   — Vamos Helô, não seje tão... teimosa. — insiste Margot numa espécie de súplica. Ela lança um sorriso meigo e maroto para Heloise, que revira os olhos exageradamente.

  — Certo. — Heloise enfim concorda. — Não ficaremos por muito tempo mãe.

  — Nem passou pela minha cabeça. — Margot sorri freneticamente. Mas apesar do comentário Heloise sabia. Se dependesse da mãe ficariam até o último convidado atravessar a porta indo embora.

  ~♡~

Margot sabia do seu poder de persuasão sobre a filha, mas Helô não ia se deixar cair completamente. Estava decidida a arrastar a mãe para fora daquela festa assim que marcasse meia noite, tudo poderia estar impecável, como ela esperava que estivesse, mas nada consegue ser tão impecável por muito tempo.

Então assim que faltava ás exatas meia hora para oito da noite, Heloise já estava pronta aos pés da escada aguardando a ilustre presença da mãe. Que segundo consta no relógio digital acima da Tv, ela não via desde um longo tempo.

Heloise fora presenteada pela mãe por um vestido de baile azul marinho. Era imensamente rodado e cravejado de pequenas pedras, estava usando um corpete da mãe que empinou seus seios levemente, para realçar mais sua clavícula o vestido era sem alças ou mangas. Para dar um toque de charme, segundo Margot, Heloise usara uma echarpe da mesma cor de seu vestido. Caprichara na maquiagem, cujo o curso de quase um ano online servira para muita coisa, que ficou marcante nos olhos onde a máscara azul aveludada cobria-lhe a face. Sua boca vinha com um batom vinho vivo, cobrindo seus lábios carnudos. Seu cabelo fora arrumado em um engenhoso coque com um fiapo caído em cada lado das orelhas. Estava prontamente pronta, com o táxi aguardando e sua mãe... bem, ela nem dera as caras ainda na sala.

  — Mãeeeeee!? — berra Heloise com as mãos seguras no corrimão da escada.

Nenhuma resposta. Estava começando a ficar preocupada, admirava-se muito ainda não estar em pânico, mas a mãe era dramática a ponto de se fingir de morta.

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