Capítulo 39

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     Heloise se desagarra de Colin ao notar onde estava. A última coisa que queria era estar na mesma casa de Cosmo Campbell. O homem que destruiu seu lar. Sua família feliz. Que fez seus pais se separarem. Nunca perdoaria-o. E Colin estava ali, em sua frente sentado na cama onde ela acaba de dar um salto fora, intrigada e totalmente perdida pelo sonho com a mãe.

Sua mãe que morrera. Margot que não estaria mais com ela para gritar, fazer carinho, provocações, levantar cedo para ir trabalhar... Trabalhar naquela indústria que até hoje Heloise não entendera do porque foi parar ali, depois de tudo o que houve. Heloise se agarrava seriamente na ideia de que a mãe provavelmente estaria perdidamente apaixonada por Cosmo. E como podia afinal? Pelo Deus, como isso aconteceu? Nunca iria entender e, agora com a mãe morta, as chances eram menores do que nunca.

Heloise sente um tremor percorrer pelo seu corpo. Acabara de chorar por vinte minutos nos braços de Colin, que estava com uma expressão confusa fitando-a. Ela não conseguia conter a raiva que estava sentindo, por tudo e por todos. Só queria desesperadamente Margot com ela.

Repentinamente passa pela sua cabeça como fora parar na casa de Colin. Talvez ele a tivesse levado, pois após o que o médico disse no hospital sobre sua mãe não ter resistido, ela não se lembra de mais nada. Talvez tenha desmaiado. E Colin não poderia levá-la para sua casa pois supostamente estivesse interditada, lembrou-se que ao ir para o hospital com ele os policiais continuaram lá.

Heloise se abraça e começa a chorar baixinho. Resmungando como se fosse uma criança atordoada e desamparada como no sonho que acabara de ter com a mãe, pedindo-a para esperar e que queria ir com ela. Colin se levanta lentamente indo de encontro a ela.

  — Vai ficar tudo bem... — Colin repitiu. Quando disse isso a Heloise na noite passada, não ficou tudo bem. Então ela não acreditou.

Ela nega freneticamente com a cabeça que não. Não iria ficar tudo bem. Colin a toca, mas é rejeitado por Heloise. Em sua consciência não estava sendo cruel com ele, na verdade Heloise não sabia distinguir no momento o que era cruel ou não, apenas queria ignorar tudo. E queria ir embora mesmo, para sua casa, para ver sua mãe.

  — Quero ir pra casa. — ela disse lentamente e quase tão vazia que seu olhar penetrara Colin, fazendo-o se afastar um pouco.

Então ele não a impediu. Simplismente a levou para casa. Onde viria um cordão de isolamento entorno da sala, onde sua mãe estava jogada com um tiro alojado no peito, tão morta feito uma pedra. Heloise sabia que ao ver a mãe ali, tudo já havia se esvaido de Margot, assim como sua respiração, sua cor, sua alegria... sua vida.

Se ela soubesse que seria uma das últimas vezes que viria a mãe, teria deixado o jantar para outro dia. Talvez tivesse implorado para que Margot fosse com ela. Talvez a mãe estivesse viva, ou quem sabe tudo aquilo tivesse acontecido mesmo assim, porém ela teria tentado impedir, jogando-se sobre a mãe. Daria sua vida pela mãe mas agora, era tarde. Estava sem ela para sempre. Talvez a culpa fosse dela afinal, por ter sido tão egoísta e não ter se esforçado mais para levar Margot e também por não ter observado no quanto a mãe parecia mais solitária e distante.

Tentaram impedi-la de se aproximar tanto da cena do crime, mas Heloise não se moveu do lugar e chorou. Chorou tanto e gritou tanto, como se sua vida dependesse daquilo e fosse a última vez que tinha aquela oportunidade. Ela caiu de joelhos no chão como se suas forças não fossem o suficiente para mante-la em pé. Um peso gigante de dez toneladas de culpa, remorso, ódio, tristeza e de completo arrependimento, foi jogado nela. O que faria? Como seria sua vida a partir de agora?

Era, definitivamente, o pior aniversário da sua vida inteira.

      ~♡~♡~

Haviam se passado uma semana. Heloise enterrara a mãe no cemitério La paz finale, quando enfim a perícia foi realizada. Foi uma cerimônia tão íntima e rápida, algo que dilacerara o coração de Heloise por completo. Passara as últimas horas, antes de encerrarem a palavra final do padre, ao lado do caixão de Margot, desejando morrer junto. Seus amigos foram consolá-la e em momento algum Colin a deixara sozinha, até mesmo quando teve de levá-la para a casa da avó paterna. Mas no fundo Heloise não suportava o quanto doía nela, ter de ignorá-lo. Colin estava a cada dia mais parecido com Cosmo Campbell, e mesmo que lá no fundo ela sabia que o homem não tivesse nada haver com a morte da mãe, ainda assim o passado que carregava em sua mente era o que a fazia desejar secretamente o fracasso dele. E antes que ela pudesse deixar a mãe ir, Heloise avistou ao fim do cemitério tão longe que quase não se reconhecia, mas Heloise o reconhecia. Lá estava... Cosmo Campbell.

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