Capítulo 40

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     Quando chegou na casa do pai, Heloise estava arrasada. Mal fora apresentada a Mabel e ao enteado do pai, Lucas de doze anos. Só conseguia chorar e fungar, quando tentava dizer algo seus pensamentos se alienavam e a fazia voltar a tudo o que houve, desde a morte da mãe, o ódio por Cosmo, o término com Colin, sua vida presa ao passado... e retornava novamente a um choro sem fim. Até certo ponto, quando o pai deixou a esposa para dormir junto com a filha no quarto de hóspedes, cada qual em sua cama, consolando-a dos pesadelos e ataques de choro na madrugada.

E foi assim durante quase uma semana na casa do pai, entre melhoras e pioras, descontroles e sossegos. Quando se viu disposta e apta para se socializar com a mulher do seu pai e o enteado, estava tão desolada que não se importou com o fato de ter uma madrasta. E que isso, em alguns casos, significava que elas queriam preencher o lugar das mães biológicas. Mas Heloise, com vinte anos, não acreditava tanto nisso agora, não era como se sentisse-se ameaçada por Mabel.

Ela era uma mulher mais baixa que Margot fora em vida, com cabelos castanhos-avermelhados, olhos azuis e rechonchuda. Sorria feito criança e tinha sardas pelo rosto. Heloise notara também que Mabel continha pequenas covinhas nas bochechas.

O alto astral da madrasta era, significativamente, um dos motivos por Heloise se sentir melhor nos primeiros dias após a quase recuperação dos ataques. Seu meio irmão era parecido com a mãe, aparentemente, e tinha algo mais intenso e ao mesmo tempo mais cativante também. A gargalhada tão inocente de uma criança que vivia feliz, com sua mãe, um quase pai tão magnífico e uma vida como a dela fora um dia.

Antes mesmo de notar, Heloise já deixava as primeiras lágrimas caírem pelo rosto. Limpara-as rapidamente, mas Mabel e Lucas já haviam visto e pareciam sentidos por ela. Enquanto isto Hector concertava um cano entupido na pia da cozinha, tão concentrado em não deixar que o cano estourasse água nele, mal percebendo o clima que se formava despropositalmente. Apenas esse momento de recaída aconteceu, pois a partir dali as coisas mudaram um pouco.

Mabel decidiu que Heloise não iria ficar dentro de casa o tempo todo e que iriam passear. Foram em lugares diferentes durante mais uma semana. Com esses passeios Heloise deixara de pensar menos no que havia acontecido em sua vida. Mas quando voltava a ficar sozinha um minuto sequer, lembrava-se da mãe, de Colin e no quanto sentia a falta dele, nos amigos que ainda mantinham contato com ela ligando através de vídeo chamada. Estava tudo bem com todos... Exceto com ela.

Heloise gostaria de parecer uma dessas adolescentes revoltadas que vai morar com o pai e a madrasta e odeia todos, mas a única coisa que conseguiu sentir por Mabel foi afeto. Ela era demais. Quando conversava com Heloise era como se ela soubesse exatamente o que estava acontecendo desde o princípio, como se soubesse o certo a falar, a fazer em relação à Heloise e os conselhos que surgiam ao fim. Hector disse a Heloise que Mabel era psicóloga em uma Universidade pública, por isso lidava tão bem com assuntos delicados daquela forma.

Lucas era extremamente divertido nas horas em que ficavam juntos, quando Hector e Mabel tinham de sair. Ele também era extremamente inteligente e enquanto brincavam de banco imobiliário certa vez, Lucas começou a contar histórias de algumas pessoas da idade de Heloise que perdiam as mães, mas que isso não era para valer. E na verdade elas apenas descansavam da vida e estavam observando os filhos de um lugar muito especial. Fora a primeira vez que Heloise chorou de alegria, ela sentia a irmandade em Lucas e no quanto ele e sua mãe estavam tentando ser os melhores com ela, fora seu pai que não saía de seu lado.

Mas ela sentia falta de sua antiga vida, com sua mãe, na faculdade e no Coffeehouse Bright, onde Hector ligou para justificar pelo quanto Heloise não estava frequentando. A faculdade em questão estava passando por uma greve, o que neste momento fora excelente para ela que não iria se preocupar em ter de abandonar a San Geiger. Já no café as coisas estavam indo de bom para mal da última vez que Heloise entrou em contato com Brooke e Nathaniel, que contaram que Alex estava muito amigo de Priscilla, mas que Edmund estaria enfrentando problemas graves financeiramente. Certamente Teddy ainda era o representante.

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